São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2009

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Venezuela decidirá sobre reeleição no dia 15

No mesmo dia em que é marcada data para referendo sobre possibilidade de perpetuação no poder, Chávez recebe apoio de Lula

"Não é que eu queira seguir no poder. Aqui há um projeto, há uma democracia e é o povo que decide quem vai governar", diz Chávez

DA REDAÇÃO

No dia em que o referendo que abre caminho para sua reeleição sem limites foi marcado para 15 de fevereiro, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, recebeu do colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, apoio enfático à consulta. "Tenho sido criticado no Brasil muitas vezes por defender o processo aqui na Venezuela porque sei a quantas eleições você já se submeteu", disse Lula, dirigindo-se a Chávez, durante visita conjunta ao Estado de Zulia (oeste da Venezuela).
"Quantos referendos, quantas votações. Acho que isso é um exercício da democracia. Porque, quando o povo não quiser mais, não vai mais votar em você. Vai votar em outra pessoa e vai ter a mesma Constituição que vai permitir mais um mandato, mais três mandatos." Ontem, a presidente do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, Tibisay Lucena, convocou para 15 de fevereiro o referendo proposto por Chávez que estabelece a reeleição indefinida para presidente e todos os cargos eletivos do país.
A Assembleia Nacional, de maioria chavista, aprovou na quarta-feira, em segunda votação, a proposta de emenda constitucional, em meio a enfrentamentos nas ruas de Caracas entre policiais e estudantes contrários à proposta. Chávez já tentou introduzir a reeleição indefinida em uma reforma mais ampla da Carta, mas a proposta foi rejeitada, por pequena margem, em referendo popular em dezembro de 2007. Se não conseguir mudar a Constituição desta vez, o venezuelano, eleito em 1999, terá de deixar o poder em 2013.
Ao ser questionado sobre o fato de a reeleição indefinida já ter feito parte da reforma constitucional derrotada, Lula disse que "ele [o povo] pode dizer a segunda vez, a terceira vez". "O que importa para mim é que o sistema de disputa seja democrático." Segundo o brasileiro, o índice para saber se um processo é democrático é a possibilidade de candidatos concorrerem "nas mesmas condições", e não o veto às reeleições.
Ainda na defesa de Chávez, Lula citou exemplos de sistemas parlamentaristas na Europa: "Temos de ver quanto tempo ficou [a premiê britânica (1979-1990)] Margaret Thatcher". Também afirmou que a pergunta sobre terceiro mandato só é feita para presidentes de esquerda. "[O presidente da Colômbia, Álvaro] Uribe também quer um terceiro mandato e ninguém pergunta por que ele deseja o terceiro mandato."
O Senado colombiano analisa projeto de referendo sobre o tema, com apoio tácito do presidente Uribe. Em sua própria defesa, Chávez negou que queira se perpetuar no poder: "Não é que eu queira seguir no poder. Aqui há um projeto, há uma democracia, e é o povo que decide quem vai governar", disse ele. Recentemente ele mencionou precisar de mais dez anos para implantar seu planos no governo. A realização do referendo no dia 15, menos de dois meses depois de eleições regionais onde o governo foi derrotado em centros urbanos importantes, foi uma sugestão do próprio Chávez, que vê a situação econômica do governo piorar com a queda do preço do barril do petróleo.
Analistas dizem que medidas mais urgentes e impopulares para lidar com o tema econômico, como a redução do gasto público e a desvalorização da moeda, o bolívar, só serão tomadas após a consulta.

Colaborou FABIANO MAISONNAVE , enviado especial a El Dilúvio


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