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ARTIGO
Eleito não deve esquecer crimes de Bush
PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"
No domingo passado, um jornalista perguntou ao presidente eleito se ele pretendia pedir
uma investigação de possíveis
crimes cometidos pelo governo
Bush. "Não acredito que alguém possa estar acima da lei",
respondeu Barack Obama,
"mas precisamos olhar para o
futuro e não para o passado".
Lamento, mas, se não houver
investigação sobre o que aconteceu ao longo dos anos Bush
-e quase todo mundo entendeu a declaração de Obama como sinal de que isso não acontecerá-, aqueles que detêm o
poder de fato estarão acima da
lei, porque não terão de enfrentar quaisquer consequências
caso decidam abusar dele.
Vamos esclarecer do que falamos. Não se trata somente de
tortura e escutas ilegais -cujos
perpetradores alegam, ainda
que de modo muito implausível, terem agido como patriotas. Os abusos do governo Bush
se estenderam da política ambiental ao direito de voto.
No Departamento da Justiça,
os funcionários apontados para
seus cargos por políticos eleitos
reservaram outros postos, não
políticos, a "americanos bem
pensantes", e existem fortes indícios de que esses funcionários empregaram suas posições
para solapar a proteção ao direito de voto das minorias.
Durante a ocupação do Iraque, os candidatos aos postos
eram julgados com base em
suas posições políticas, em sua
lealdade pessoal ao presidente
e em sua posição sobre o aborto. Falando no Iraque, não devemos esquecer do fracassado
esforço de reconstrução do
país: o governo Bush entregou
bilhões de dólares a empresas
bem relacionadas politicamente, em contratos sem concorrência, e essas empresas não
realizaram o trabalho.
Há muito, muito mais. Ao
menos seis grandes agências do
governo passaram por grandes
escândalos nos últimos oito
anos -na maioria dos casos, jamais investigados. E temos
também o maior de todos os
escândalos: Alguém tem dúvidas de que o governo Bush deliberadamente iludiu o país para
justificar a invasão do Iraque?
Por que, então, não deveria
haver investigação oficial sobre
os abusos dos anos Bush?
Uma resposta usual é que
buscar a verdade exacerbaria o
antagonismo entre os partidos.
Mas, se partidarismo político é
algo tão horrível, o governo
Bush não deveria ser punido
por politizar todos o aspectos
do governo?
Há quem diga que não é preciso dedicar atenção aos abusos
passados porque eles não serão
repetidos. Mas nenhuma figura
importante do governo Bush
expressou arrependimento por
violar a lei. O que levaria alguém a pensar que eles ou seus
herdeiros políticos não agiriam
da mesma maneira, caso tenham nova oportunidade?
Embora esquecer e perdoar
provavelmente seja uma boa
idéia política a curto prazo, na
semana que vem Obama estará
jurando "preservar, proteger e
defender a Constituição dos
EUA". Não se trata de um juramento a ser honrado apenas
quando conveniente.
E, para proteger e defender a
Constituição, um presidente
precisa fazer mais do que simplesmente obedecê-la; precisa
responsabilizar aqueles que a
tenham violado.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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