São Paulo, domingo, 17 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

Mortos são enterrados, e vivos deixam Porto Príncipe

Ruas da capital esvaziam com recolhimento de corpos e migração em massa para interior

Quem ficou na cidade se concentra em locais onde é mais fácil o acesso à ajuda humanitária, como praça central e região do aeroporto


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

No quarto dia após o terremoto, a maior parte das ruas centrais de Porto Príncipe amanheceu menos cheia de carros, de gente e de corpos -embora haja concentrações cada vez maiores em acampamentos improvisados diante do aeroporto e em outros pontos.
Desde o terremoto, centenas de caminhões e ônibus vêm deixando a capital rumo ao interior do país. Ainda há muita gente caminhando, mas em número visivelmente menor do que na quarta-feira, quando a reportagem chegou à cidade.
"Todos os meus vizinhos deixaram a cidade", conta o mototaxista Olibert Sanfood, 29, que preferiu ficar na cidade com a mulher e os dois filhos. "Todos esses caminhões estão indo para as Províncias."
Também há bastante menos cadáveres nas ruas. Ontem, já não havia grandes concentrações de mortos, mas o cheiro dos que ainda estão expostos beira o insuportável. Alguns foram colocados em grandes cruzamentos, aparentemente para forçar o seu recolhimento.
A população desabrigada aparentemente está se concentrando cada vez mais. É nítido o aumento do número de pessoas no centro da cidade (praça Champs de Mars) e diante do aeroporto, sob controle americano, aonde chega a maior parte da ajuda internacional. Nesse locais, é forte o cheiro de urina e fezes misturado a comida cozinhando de forma improvisada. Quase todos estão sob tendas montadas somente com lençóis.

"Porto Príncipe é o Haiti"
A distribuição de água estava sendo feita de forma tranquila no final da manhã. A reportagem viu um caminhão-pipa de uma ONG francesa distribuindo o líquido sem necessidade de segurança. O automóvel dirigia lentamente, enquanto os desabrigados davam vasilhas vazias aos voluntários em cima da caçamba, que as devolviam cheias.
Também no centro, um dos locais mais atingidos pelo terremoto, havia várias barraquinhas de mulheres vendendo comida, refrigerante e água em saquinhos, aparentemente sem temor de serem saqueadas.
O relativo esvaziamento da capital haitiana é recebido com alívio para a cidade superpovoada, que, mesmo antes do terremoto, sofria com problemas de abastecimento de água e de eletricidade.
"Porto Príncipe é o Haiti. As outras cidades quase não têm importância. Agora, muita gente saiu daqui. Que tenham a possibilidade de ficar por lá, que criem condições para não voltarem para cá", diz o padre haitiano William Smarth, 78.


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