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HAITI EM RUÍNAS
Mortos são enterrados, e vivos deixam Porto Príncipe
Ruas da capital esvaziam com recolhimento de corpos e migração em massa para interior
Quem ficou na cidade se concentra em locais onde é mais fácil o acesso à ajuda humanitária, como praça central e região do aeroporto
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE
No quarto dia após o terremoto, a maior parte das ruas
centrais de Porto Príncipe
amanheceu menos cheia de
carros, de gente e de corpos
-embora haja concentrações
cada vez maiores em acampamentos improvisados diante do
aeroporto e em outros pontos.
Desde o terremoto, centenas
de caminhões e ônibus vêm
deixando a capital rumo ao interior do país. Ainda há muita
gente caminhando, mas em número visivelmente menor do
que na quarta-feira, quando a
reportagem chegou à cidade.
"Todos os meus vizinhos deixaram a cidade", conta o mototaxista Olibert Sanfood, 29, que
preferiu ficar na cidade com a
mulher e os dois filhos. "Todos
esses caminhões estão indo para as Províncias."
Também há bastante menos
cadáveres nas ruas. Ontem, já
não havia grandes concentrações de mortos, mas o cheiro
dos que ainda estão expostos
beira o insuportável. Alguns foram colocados em grandes cruzamentos, aparentemente para
forçar o seu recolhimento.
A população desabrigada
aparentemente está se concentrando cada vez mais. É nítido o
aumento do número de pessoas
no centro da cidade (praça
Champs de Mars) e diante do
aeroporto, sob controle americano, aonde chega a maior parte da ajuda internacional. Nesse locais, é forte o cheiro de urina e fezes misturado a comida
cozinhando de forma improvisada. Quase todos estão sob
tendas montadas somente com
lençóis.
"Porto Príncipe é o Haiti"
A distribuição de água estava
sendo feita de forma tranquila
no final da manhã. A reportagem viu um caminhão-pipa de
uma ONG francesa distribuindo o líquido sem necessidade
de segurança. O automóvel dirigia lentamente, enquanto os
desabrigados davam vasilhas
vazias aos voluntários em cima
da caçamba, que as devolviam
cheias.
Também no centro, um dos
locais mais atingidos pelo terremoto, havia várias barraquinhas de mulheres vendendo
comida, refrigerante e água em
saquinhos, aparentemente sem
temor de serem saqueadas.
O relativo esvaziamento da
capital haitiana é recebido com
alívio para a cidade superpovoada, que, mesmo antes do
terremoto, sofria com problemas de abastecimento de água
e de eletricidade.
"Porto Príncipe é o Haiti. As
outras cidades quase não têm
importância. Agora, muita gente saiu daqui. Que tenham a
possibilidade de ficar por lá,
que criem condições para não
voltarem para cá", diz o padre
haitiano William Smarth, 78.
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