São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

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Deputada iraniana condena críticas de Dilma a violações

Presidente da Comissão de Direitos Humanos diz que a presidente brasileira defendeu "acusados de crimes"

Depois de eleita, petista disse ser "radicalmente" contra apedrejamento e discordar de posição do Brasil em voto na ONU

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A presidente da Comissão de Direitos Humanos do Parlamento iraniano, Zohre Elahian, fez duras críticas ontem à presidente Dilma Rousseff por suas declarações sobre a situação do país na área, segundo a agência oficial Irna.
Em carta à presidente do Brasil, Elahian afirmou que "aqueles" a que Dilma se referiu em declarações críticas a Teerã nos últimos meses são "acusadas de crimes contra a segurança do Estado".
"As pessoas que Dilma Rousseff denomina de presos políticos e de consciência são os que possuem registros de crimes de segurança contra o povo do Irã", disse Elahian, que é próxima ao presidente Mahmoud Ahmadinejad.
"Os documentos provam que essas pessoas queriam acabar com o regime iraniano" durante os protestos contra a polêmica reeleição de Ahmadinejad, em 2009, completa, segundo a Irna.
Desde que se elegeu, a presidente brasileira em ao menos duas oportunidades criticou as violações de direitos humanos pelo regime do Irã.
Dilma, porém, não se referiu a presos em particular, somente a Sakineh Mohamadi Ashtiani, cuja condenação à morte por apedrejamento qualificou de "bárbara".
A iraniana foi condenada à morte por adultério e coautoria no assassinato do marido -o caso passa por revisão.
Em entrevista ao jornal dos EUA "Washington Post" publicada no começo de dezembro, a presidente disse discordar da posição de abstenção do Brasil em votação na ONU de resolução que condenava violações no Irã.
O texto citava casos de tortura, alto número de penas de morte, a violência contra mulheres e a perseguição a minorias étnicas e religiosas.
"Não concordo com práticas que tenham características medievais [no que diz respeito] às mulheres. Não há nuances. Não farei concessões nesse assunto", disse a presidente ao jornal.
Na semana passada, Teerã já havia manifestado "incômodo" com as críticas do Brasil em ligação de assessor de Ahmadinejad ao embaixador brasileiro no Irã, Antonio Salgado, segundo o jornal "O Estado de S. Paulo".
Em entrevista à Folha, porém, o ministro das Cooperativas do Irã, Mohammad Abbasi, havia dito esperar mais cooperação sob Dilma e que a crítica ao caso Sakineh não afetaria a relação bilateral.
A presidente brasileira foi convidada pelo ministro para visitar o Irã neste ano.
As críticas a Teerã, feitas ainda antes de Dilma assumir a Presidência, marcam inflexão em relação à posição que vinha sendo adotada pelo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Desde 2009, o Brasil vinha promovendo uma aproximação política e comercial com o Irã que resultou em um incremento das relações comerciais e culminou com a mediação turco-brasileira de uma proposta de acordo nuclear rejeitada pelo Ocidente.

REAÇÃO BRASILEIRA
O Itamaraty respondeu que as questões de direitos humanos são uma prioridade do governo Dilma Rousseff e continuarão sendo discutidas com o governo do Irã.
"O governo brasileiro tomou nota da declaração. Temos diálogo franco e aberto com o governo do Irã. É por meio desse canal que serão tratadas questões de direitos humanos, que são uma prioridade do governo Dilma."

Colaborou a Sucursal de Brasília


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