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RELIGIÃO
Pesquisa encomendada pela Conferência dos Bispos Católicos dos EUA apurou 11 mil queixas feitas de 1952 a 2002
Acusação de abuso atinge 4.450 padres
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
Uma pesquisa encomendada
pela Conferência dos Bispos Católicos dos EUA cujo resultado
deve ser divulgado no fim deste
mês apurou que 4.450 padres nos
EUA foram acusados de abusos
sexuais de 1950 a 2002.
Uma versão preliminar do relatório, divulgada ontem com exclusividade pela rede de TV CNN,
abordou mais de 11 mil acusações.
Os números definitivos da pesquisa serão revelados no dia 27 de
fevereiro, mas, até o momento, a
sondagem revela que, do total de
110 mil padres que serviram nos
52 anos, 4% estão envolvidos.
O relatório tem como base uma
pesquisa feita em arquivos de
igrejas de todo país. Os dados foram compilados pelo John Jay
College of Criminal Justice, em
Nova York, a pedido da conferência episcopal.
Os resultados mostram que
contra mais da metade dos padres
suspeitos de envolvimento em
abuso sexual pesa apenas uma
acusação. Outros 1.112 sacerdotes,
ou 25% do total, têm entre duas e
três acusações, 578 ( 13%) têm de
quatro a nove acusações e 133 padres (3%) sofreram mais de dez
acusações.
O relatório afirma também que
78% das supostas vítimas tinham
entre 11 e 17 anos na época do
abuso, enquanto 16% se situavam
na faixa etária entre 8 e 10 anos e
quase 6% tinham menos de 7
anos.
De acordo com o relatório, 61%
das 11 mil acusações investigadas
foram sustentadas por provas.
Bill Burleigh, membro da conferência, não quis comentar o relatório por se tratar de uma versão
preliminar. Mas o diretor da "Survivors Network of Those Abused
by Priests" (algo como rede de sobreviventes de abusos cometidos
por padres) afirmou ontem que
os números revelados pelo relatório são baixos diante da realidade.
"Os bispos tentaram esconder
isso por anos, logo não há razão
para acreditar que, de repente,
eles mudariam os seus métodos",
disse David Clohessy, integrante
da rede. "A única coisa prudente a
fazer é assumir que essa não é a
verdade integral. É uma sondagem, mas não é o produto de uma
investigação", completou.
Os números se assemelham aos
de uma sondagem realizada pela
agência Associated Press, divulgada na semana passada, sobre a
dimensão dos abusos sexuais
dentro da Igreja Católica dos
EUA. Segundo a agência, 84 dioceses -das 195 existentes nos
EUA- calculam que 1.413 padres
tenham cometido abusos desde
1950 e 2.990 sofreram queixas.
Tema tabu
O debate sobre a conduta sexual
dos sacerdotes tem causado mal-estar no meio eclesiástico. Para
analistas, a questão da pedofilia
também levanta debates a respeito do dogma da castidade e do celibato clericais. Essas discussões,
avaliam, tornam a investigação de
crimes sexuais ainda mais difícil.
Por esse motivo, a preparação
do relatório pela Conferência dos
Bispos Católicos dos EUA é interpretada como parte da campanha
da igreja para tentar restaurar a
sua credibilidade.
A própria pesquisa argumenta,
porém, que o resultado desse trabalho pode ter sido prejudicado
pela política interna da igreja.
Os esforços para evitar escândalos, a "falha" em reconhecer a gravidade da questão, a falta de centros de tratamento às vítimas, a
"disposição para perdoar" e uma
contabilidade insuficiente das
acusações são apontados como os
principais obstáculos para a elucidação dos crimes sexuais na igreja, registrados em vários países.
A crise de confiança na igreja
americana começou há cerca de
dois anos com uma série de escândalos e denúncias de abusos
sexuais cometido por sacerdotes.
A revelação de que o padre John
Geoghan molestou, em 1991, um
menor detonou uma onda de
acusações contra padres em Boston, que culminou em 2002,
quando Geoghan foi condenado a
dez anos de prisão.
Após esse caso, cerca de uma
centena de outras queixas recaiu
sobre a Arquidiocese de Boston.
À época, a CNN realizou uma
sondagem para medir a avaliação
da população a respeito da igreja:
73% dos católicos não aprovavam
o modo como a cúpula eclesiástica tratava a questão do abuso sexual cometido por padres.
Entre católicos e não-católicos,
o percentual subiu para 73%.
Sondagens posteriores mostraram que esses números não recuaram.
Atualmente, mais de 44 mil padres estão em atividade nos EUA.
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