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MISSÃO NO CARIBE
Proposta brasileira de reavaliar votos em branco é aceita por órgão eleitoral; oposição não reconhece resultado
Acordo dá vitória a Préval no 1º turno no Haiti
DA REDAÇÃO
Sem o aval da oposição e pressionado pelo Brasil e por outros
países, o Conselho Eleitoral Provisório (CEP) do Haiti anunciou
na madrugada de ontem a vitória
em primeiro turno do candidato
de centro-esquerda René Préval,
63. A posse será no dia 29 de março, para um mandato de cinco
anos, sem direito à reeleição.
"Nós vencemos. Agora, vamos
lutar pelo Parlamento", disse Préval, em referência ao pleito de 19
de março, quando será o segundo
turno para deputado e senador.
O resultado foi oficializado por
meio de uma declaração de vitória à 1h30, nove dias depois das
eleições de 7 fevereiro, marcadas
pelo comparecimento em massa e
por tumultos decorrentes do atraso na abertura das urnas e de outros problemas de organização.
Desde as primeiras horas da
manhã, ao menos 1.500 simpatizantes de Préval se concentravam
diante do Palácio Nacional, na região central de Porto Príncipe, para comemorar o resultado. Segundo os militares brasileiros,
responsáveis pela segurança do
local, não houve incidentes.
A comemoração encerra uma
série de protestos, iniciada no último sábado, exigindo a vitória de
Préval ainda no primeiro turno.
Na segunda-feira, a capital haitiana ficou praticamente paralisada,
com bloqueios de avenidas e a invasão do hotel Montana, onde
mora o comandante militar da
missão da ONU, o general brasileiro José Elito Siqueira.
"Decisão elástica"
O Brasil, que tem o segundo
maior contingente da missão de
paz da ONU, com 1.200 homens,
foi quem propôs a idéia que culminou no fechamento do acordo
ao sugerir uma reavaliação na forma como os votos em branco estavam sendo computados.
"Uso a metáfora do pequeno
riacho", disse ontem à Folha o
embaixador brasileiro no Haiti,
Paulo Pinto, sobre as negociações,
realizadas, segundo ele, sob instruções diretas do chanceler Celso
Amorim. "Do pequeno riacho
brasileiro, saiu uma idéia, que foi
sendo engrossada por outras
águas, que se transformaram
num caudaloso rio haitiano."
De acordo com Paulo Pinto,
após a sugestão brasileira de reavaliar os votos em branco, a missão eleitoral da ONU propôs o
modelo belga, no qual os votos
em branco são distribuídos de
forma proporcional entre os candidatos, em vez de serem incluídos nos votos nulos.
Com a nova fórmula, Préval subiu de 48,7% para 51,15%, assegurando, portanto, a maioria simples necessária para a vitória.
O acordo foi aprovado em votação por 8 dos 9 membros do CEP,
criticado duramente por observadores por causa da desorganização tanto no dia da votação como
no processo de contagem.
"Não tivemos aqui uma decisão
ilegal. Tivemos uma decisão dentro da norma haitiana. Ela talvez
tenha sido um pouco elástica porque foi feita depois da eleição e
antes do resultado. Mas era uma
ação política do Estado, não do
governo haitiano, mas das instituições do Estado haitiano, para
resolver um problema para o qual
o povo estava na rua, reclamando
a solução", disse o representante
brasileiro.
O anúncio da vitória de Préval
foi elogiado por Washington, que
atuou em conjunto com o Brasil e
parabenizou o futuro presidente
pela vitória.
Muitos haitianos suspeitavam
que os votos em branco tivessem
sido colocados ilegalmente nas
urnas para forçar um segundo
turno. O próprio Préval disse, na
terça-feira, que a fraude havia sido "gigantesca".
As suspeitas de fraude aumentaram depois de pilhas de material eleitoral terem sido encontradas num lixão de Porto Príncipe.
Com agências internacionais
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