São Paulo, terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

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Aumento da participação garante vitória de Chávez

Abstenção cai 15 pontos em relação a 2007, quando reforma da Carta foi derrotada

Após garantir prerrogativa da reeleição sem limites, presidente enfrenta desafio econômico provocado pela queda do preço do petróleo

Tulia Buritica/"La Nacion"
Partidários de Chávez comemoram o resultado em Táchira

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Livre do entrave constitucional que lhe impedia de se recandidatar em 2012 e com uma maioria de 55% entre os eleitores, o presidente Hugo Chávez tem agora o desafio de enfrentar a forte queda do preço do petróleo, produto responsável por mais de 90% das exportações venezuelanas.
A emenda proposta por Chávez foi aprovada em 19 dos 24 Estados do país, três a mais do que no referendo de dezembro de 2007, quando uma reforma constitucional que incluía a reeleição indefinida foi rejeitada por 50,7% dos eleitores.
O governo venceu ainda no Distrito Capital (Caracas) e no Estado de Carabobo (terceiro mais populoso do país), onde a oposição elegera governadores nas eleições de novembro.
Beneficiado pelo amplo uso da máquina estatal, Chávez diminuiu a abstenção entre os seus eleitores em relação a 2007, fator naquela época considerado o principal motivo de sua derrota. Desta vez, ele recebeu cerca de 1,9 milhão de votos a mais -resultado do aumento da participação de 55,5% para 70% dos eleitores. O voto é facultativo na Venezuela.
"Houve uma maioria significativa de apoio à emenda constitucional", disse à Folha o sociólogo Edgardo Lander, da Universidade Central da Venezuela (UCV). "Por outro lado, fica claro que o país continua profundamente dividido, e a oposição conseguiu, pela primeira vez em dez anos, mais de 5 milhões de votos."
Para analistas pró-governo, o resultado demonstra que o apoio ao presidente continua sólido. "A vitória é uma demonstração de que Chávez é um fenômeno. O fato de que continua ganhando após dez anos no poder não é comum e demonstra que ele tende a ficar por mais tempo [na Presidência]", disse o historiador norte-americano radicado na Venezuela Steve Ellner, da Universidade do Oriente.
Em tom mais crítico, o diretor do jornal "Tal Cual", Teodoro Petkoff, ressaltou que Chávez perdeu dez pontos percentuais em relação às eleições presidenciais de 2006, quando teve quase 64% dos votos.
"Se com anos de vento a favor, beneficiando-se de uma fantástica bonança petroleira, com um uso vergonhoso das vantagens do poder, superou a duras penas metade do eleitorado, não há dúvida de que a erosão do governo -já visível antes da crise mundial- vai se acelerar nos próximos anos a toda velocidade", escreveu Petkoff em artigo ontem.

Reformas econômicas
A maioria dos analistas econômicos coincide em que a eleição fez o governo Chávez atrasar medidas para compensar a queda do preço do petróleo venezuelano -de US$ 130, em julho, para apenas US$ 36 no final da semana passada.
Com a arrecadação menor, Chávez poderá ser obrigado a desvalorizar a moeda local, aumentando ainda mais a inflação, que no ano passado chegou a 30,9%, a mais alta da América Latina. "A situação de crise é inquestionável. A Venezuela vive da renda petroleira, que está reduzida a mais da metade", disse o economista Pedro Palma, do Instituto de Estudos Superiores de Administração.
"Apesar de o governo dispor de reservas em dólares e bolívares importantes, não são suficientes para cobrir a queda de arrecadação fiscal."
Palma prevê que a crise poderá elevar a inflação para cerca de 45% neste ano e obrigará o governo a restringir importações, limitar o volume de dólares subsidiados e aumentar a alíquota de impostos indiretos. O economista, porém, diz que a estratégia chavista "ainda é uma incógnita". "Ele já falou que não implantará uma política de ajuste quando as empresas é que são as culpadas [pela inflação], e isso é perigoso porque pode acelerar a crise."
Chávez tem dito que pode manter as políticas sociais ainda que o preço do barril do petróleo chegue zero dólar. O ministro das Finanças, Alí Rodríguez, negou que aplicará medidas de austeridade, como a redução do gasto público, classificada por ele como "neoliberal".


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