São Paulo, quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

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EUA e Paquistão detêm número 2 do Taleban

Captura de mulá Baradar é importante vitória para Washington e sinaliza cooperação de Islamabad contra os radicais

Detenção de líder militar, negada pelos insurgentes, é a principal desde o início da guerra afegã, em 2001, mas seu impacto ainda é incerto


DA REDAÇÃO

Uma operação conjunta entre o serviço de inteligência paquistanês e a CIA prendeu o principal chefe militar do Taleban, o mulá Abdul Ghani Baradar, informou na madrugada de ontem o "New York Times". A detenção é considerada a mais significativa desde a invasão americana do Afeganistão, em 2001.
Baradar é o segundo na hierarquia do Taleban afegão -em seguida ao mulá Omar, líder espiritual, idealizador do grupo radical e próximo a Osama bin Laden. É suspeito de fazer a ponte com outras organizações radicais, incluindo a rede terrorista Al Qaeda.
A operação de captura ocorreu há alguns dias, em Karachi, sul do Paquistão. Mas o "New York Times" tardou em divulgar a informação a pedido da Casa Branca, para não prejudicar o serviço de inteligência de campo, pois acreditava-se que subordinados de Baradar não soubessem de sua prisão.
O Taleban, no entanto, diz que Baradar está em liberdade e que o anúncio da prisão visa desviar atenção da ofensiva militar em curso na cidade de Marjah, iniciada pela Otan (aliança militar ocidental) e pelas forças afegãs para recuperar o controle do local, considerado um importante bastião insurgente no sul do Afeganistão.
A Casa Branca também não confirmou a operação, mas diversas autoridades americanas e paquistanesas atestaram, sob condição de anonimato, que a detenção ocorreu.
A prisão de Baradar marca não só uma vitória importante do governo Barack Obama na luta contra os extremistas, como também pode sinalizar um marco de cooperação entre EUA e Paquistão, em geral relutante em enfrentar o Taleban.
Autoridades dos EUA creem que o ISI, serviço de inteligência paquistanês, poderia ter prendido Baradar há anos, mas que só agora Islamabad está cedendo à pressão americana e temendo que o apoio secreto ao Taleban possa colocar em perigo seu próprio governo.
A dimensão dessa cooperação, no entanto, é limitada. O Paquistão ainda é considerado um abrigo seguro para o grupo radical, principalmente em momentos em que os combates com os EUA se acirram na porosa divisa com o Afeganistão.

Impacto
Ainda não está claro como a captura afetará o combate ao Taleban no Afeganistão. Enquanto alguns analistas dizem que a ausência do líder militar pode deixar o comando do grupo desestabilizado no curto prazo, dando vantagem às forças aliadas, outros citaram a capacidade dos radicais em preencher vácuos após a detenção de integrantes.
Para o coronel David Lapan -que não quis confirmar a prisão de Baradar-, porta-voz do Pentágono, experiências prévias indicam que capturas como a de Baradar costumam ter "impacto imediato" nas ações do Taleban. "Mas o quanto leva para eles se reconstituírem, depende da situação."
Baradar está sob custódia das autoridades paquistanesas, sendo interrogado também por oficiais da CIA.
Acredita-se que o mulá liderasse ações militares do Taleban no sul e oeste do Afeganistão, além de ter feito uma espécie de manual de bolso do grupo, ensinando aos insurgentes como evitar a morte de civis e conquistar sua confiança.
Ele também chefia um conselho de lideranças do Taleban, chamado Quetta Shura por ter seu esconderijo na cidade paquistanesa de Quetta. Segundo a Interpol, ele nasceu em 1968 em Weetmak, no Afeganistão, e vinha ascendendo na organização, principalmente após o 11 de Setembro. O nome de guerra Baradar, que significa "irmão", foi dado a ele pelo mulá Omar como sinal de respeito.

Com agências internacionais e "New York Times"



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