São Paulo, quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

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ANÁLISE

Engajamento paquistanês é sinal animador

JAMES LAMONT
DO "FINANCIAL TIMES", EM NOVA DÉLI

Para os que esperam contar com o Exército do Paquistão na luta ao terror, a captura do líder do Taleban afegão, em Karachi, é um sinal animador.
As forças da Otan (aliança militar ocidental) entendem que, para levar estabilidade ao Afeganistão e pôr fim à guerra no cinturão pashtun do sul do país, precisam da cooperação do Exército do Paquistão. Sem isso, as campanhas militares nas regiões fronteiriças de Helmand, Candahar e outras estão fadadas a se arrastar, enquanto as listas de mortos aumentam.
Planejadores militares falam em estrangular os militantes do Taleban e da Al Qaeda por todos os lados. Autoridades da Otan também falam de um engajamento maior com o Paquistão, usando a Turquia -membro da Otan e país de maioria muçulmana- e seus diplomatas como facilitadores em Islamabad.
De modo similar, líderes ocidentais vêm exortando o Paquistão a abandonar suas lealdades antigas a militantes que operam em seu solo e, em vez disso, enxergar o Taleban afegão, o Taleban paquistanês e os grupos como o Lashkar-e-Taiba, criados para atacar a arquirrival do Paquistão, Índia, como partes da mesma ameaça.
A captura, no Paquistão, de Abdul Ghani Baradar é prova de que a mensagem está chegando a seus alvos -o que leva ânimo às capitais ocidentais.
Após décadas de apoio a atividades militantes nos vizinhos Índia e Afeganistão, trata-se de um passo grande para Islamabad. Afinal, o Taleban foi, em certa medida, criação do Paquistão, quando o país buscou expandir influência ao Afeganistão, no final da Guerra Fria.
Um passo muito maior, contudo, é o que virá a seguir. Primeiro, é preciso que as prisões levem a julgamentos e condenações. As capturas de militantes no Paquistão raramente ou nunca levam a condenações.
Os vizinhos do Paquistão falam de prisões em "porta giratória", nas quais os militantes e seus mentores parecem possuir uma habilidade mágica para escapar das guerras de um sistema legal mal equipado para julgar casos de terror.
Em segundo lugar, é preciso que o Exército e a sociedade civil do Paquistão levem adiante o esforço contra os militantes. Pode ser tentador reagir à pressão internacional, fazendo algumas prisões e lançando alguns ataques, para depois abrandar a ação. E a ameaça militante crescente dentro do Paquistão também pode solapar a vontade política de desmontar as redes militantes.
Em terceiro lugar, a liderança dos movimentos militantes na região possui uma capacidade notável de regeneração. Baitullah Mehsud, o temível líder do Taleban paquistanês, foi rapidamente substituído por outro membro de seu clã, Hakimullah Mehsud. Este, morto recentemente em um ataque de avião americano não tripulado, sem dúvida dará lugar a outro integrante do clã.
Controlar esses líderes é algo que vai atingir o coração do Paquistão, país criado há seis décadas, com o fim do domínio colonial britânico da Índia, e que se tornou um Estado unificado moderno.


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