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Argentina tira controle aéreo da mão dos militares
Após problema em radar, Kirchner encarregou agência civil de monitorar vôos
Força Aérea afirma que companhias estão culpando militares injustamente; homem-forte do governo comandará nova agência
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
Pressionado por uma crise
no transporte aéreo argentino,
o presidente Néstor Kirchner
assinou anteontem à noite, em
caráter de urgência, um decreto que passou o controle aéreo
das mãos da Força Aérea para
as da Secretaria dos Transportes, entidade civil. O estopim da
crise foi uma paralisação de pilotos pelo mal funcionamento
dos radares no país.
Ontem, ainda em resposta à
crise nos aeroportos de Buenos
Aires, onde os vôos atrasam até
quatro horas em média, Kirchner admitiu que "a estrutura
aérea argentina está quebrada"
e anunciou ter ordenado o aluguel de dois radares para substituir o equipamento do aeroporto internacional de Ezeiza
(Buenos Aires).
O radar, segundo as empresas aéreas, apresentou vários
defeitos técnicos nas últimas
semanas. O problema seria
uma defasagem entre a informação exibida na tela e a posição real dos aviões.
A Aeronáutica, no entanto,
afirma que há "absoluta segurança" em voar e diz que as
companhias se aproveitam de
problemas pontuais para ocultar suas próprias falhas operacionais. Pilotos da empresa aérea Austral só voltaram ao trabalho anteontem, após uma garantia por escrito das autoridades aéreas de que o sistema é
"confiável".
Apesar dos atrasos, após o
manifesto dos pilotos o clima
entre os passageiros mudou: as
reclamações pela demora nas
decolagens foram substituídas
pelo receio de voar.
Em setembro do ano passado, quando o compromisso de
fazer a mudança de comando
foi anunciado pelo governo
Kirchner, a expectativa era a de
que o processo demorasse até
um ano. Em cerca de seis meses, porém, o presidente criou a
unidade especial, subordinada
a Julio De Vido, atual ministro
do Planejamento e homem-forte do gabinete. Embora tenha sido formalizada, a migração efetiva será gradual.
Documentário
O governo nega que a mudança tenha sido precipitada
pela crise ou pelas denúncias
feitas no documentário "Fuerza Aerea Sociedad Anonima",
que expôs no cinema os riscos e
erros do controle de vôo militar
na Argentina. O compromisso
da transferência, no entanto,
ocorreu poucos dias após o lançamento do filme do cineasta
Enrique Piñeyro, 49, que também denunciou à Justiça 11 oficiais da Força Aérea por arbitrariedades e corrupção.
Ex-piloto de aviões da empresa Lapa (Líneas Aéreas Privadas Argentinas) e investigador de acidentes aéreos, Piñeyro revelou ontem que na última
sexta-feira dois aviões, um deles boliviano, quase se chocaram sobre a Argentina. No filme, o cineasta mostra que alguns controladores nem sequer falam inglês, língua em
que é feita a comunicação com
os aviões.
Campanha "dois em um"
Em pleno ano eleitoral,
Kirchner também lembrou ontem que a Argentina já encomendou 15 novos radares à
Rússia. "É para que os argentinos estejam seguros", discursou o presidente. Kirchner voltou a dizer que tanto ele quanto
a mulher, Cristina Fernández,
podem se candidatar.
Nesse mesmo ato público,
em que discursou para operários da Província de Chubut, o
presidente atacou de novo o
FMI (Fundo Monetário Internacional). "O fundo já é história, porque lhe dissemos
tchau", declarou.
Para que pudesse discursar
na Patagônia, Kirchner faltou à
cerimônia em homenagem às
vítimas do atentado à Embaixada de Israel em Buenos Aires,
ocorrido há 15 anos. Foi devidamente representado pela primeira-dama.
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