São Paulo, sábado, 17 de março de 2007

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Argentina tira controle aéreo da mão dos militares

Após problema em radar, Kirchner encarregou agência civil de monitorar vôos

Força Aérea afirma que companhias estão culpando militares injustamente; homem-forte do governo comandará nova agência

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

Pressionado por uma crise no transporte aéreo argentino, o presidente Néstor Kirchner assinou anteontem à noite, em caráter de urgência, um decreto que passou o controle aéreo das mãos da Força Aérea para as da Secretaria dos Transportes, entidade civil. O estopim da crise foi uma paralisação de pilotos pelo mal funcionamento dos radares no país.
Ontem, ainda em resposta à crise nos aeroportos de Buenos Aires, onde os vôos atrasam até quatro horas em média, Kirchner admitiu que "a estrutura aérea argentina está quebrada" e anunciou ter ordenado o aluguel de dois radares para substituir o equipamento do aeroporto internacional de Ezeiza (Buenos Aires).
O radar, segundo as empresas aéreas, apresentou vários defeitos técnicos nas últimas semanas. O problema seria uma defasagem entre a informação exibida na tela e a posição real dos aviões.
A Aeronáutica, no entanto, afirma que há "absoluta segurança" em voar e diz que as companhias se aproveitam de problemas pontuais para ocultar suas próprias falhas operacionais. Pilotos da empresa aérea Austral só voltaram ao trabalho anteontem, após uma garantia por escrito das autoridades aéreas de que o sistema é "confiável".
Apesar dos atrasos, após o manifesto dos pilotos o clima entre os passageiros mudou: as reclamações pela demora nas decolagens foram substituídas pelo receio de voar.
Em setembro do ano passado, quando o compromisso de fazer a mudança de comando foi anunciado pelo governo Kirchner, a expectativa era a de que o processo demorasse até um ano. Em cerca de seis meses, porém, o presidente criou a unidade especial, subordinada a Julio De Vido, atual ministro do Planejamento e homem-forte do gabinete. Embora tenha sido formalizada, a migração efetiva será gradual.

Documentário
O governo nega que a mudança tenha sido precipitada pela crise ou pelas denúncias feitas no documentário "Fuerza Aerea Sociedad Anonima", que expôs no cinema os riscos e erros do controle de vôo militar na Argentina. O compromisso da transferência, no entanto, ocorreu poucos dias após o lançamento do filme do cineasta Enrique Piñeyro, 49, que também denunciou à Justiça 11 oficiais da Força Aérea por arbitrariedades e corrupção.
Ex-piloto de aviões da empresa Lapa (Líneas Aéreas Privadas Argentinas) e investigador de acidentes aéreos, Piñeyro revelou ontem que na última sexta-feira dois aviões, um deles boliviano, quase se chocaram sobre a Argentina. No filme, o cineasta mostra que alguns controladores nem sequer falam inglês, língua em que é feita a comunicação com os aviões.

Campanha "dois em um"
Em pleno ano eleitoral, Kirchner também lembrou ontem que a Argentina já encomendou 15 novos radares à Rússia. "É para que os argentinos estejam seguros", discursou o presidente. Kirchner voltou a dizer que tanto ele quanto a mulher, Cristina Fernández, podem se candidatar.
Nesse mesmo ato público, em que discursou para operários da Província de Chubut, o presidente atacou de novo o FMI (Fundo Monetário Internacional). "O fundo já é história, porque lhe dissemos tchau", declarou.
Para que pudesse discursar na Patagônia, Kirchner faltou à cerimônia em homenagem às vítimas do atentado à Embaixada de Israel em Buenos Aires, ocorrido há 15 anos. Foi devidamente representado pela primeira-dama.


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