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Dalai lama vê genocídio cultural no Tibete
Líder espiritual tibetano quer investigação internacional sobre a repressão da China, que já teria matado mais de 80
Movimento que nasceu na
capital Lhasa se expandiu a
Províncias vizinhas entre os
etnicamente tibetanos; nas
ruas, monges e estudantes
Manan Vatsyayana/France Presse
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O dalai lama condenou ontem a repressão chinesa aos tibetanos, que já dura uma semana |
DA REDAÇÃO
O dalai lama, chefe espiritual
do Tibete, responsabilizou ontem a China pelo "genocídio
cultural" contra seu país, que é
institucionalmente uma região
autônoma chinesa e sobre o
qual a repressão de Pequim resultou desde segunda-feira
passada na morte de pelo menos 87 pessoas, segundo fontes
tibetanas -a China só reconhece 13 mortos até agora.
Os protestos, desencadeados
para lembrar os 49 anos de uma
tentativa malograda de pôr fim
ao domínio chinês, não se restringem desde ontem apenas à
capital, Lhasa. O movimento,
liderado por mosteiros budistas, expandiu-se à Província de
Sichuan, onde disparos da polícia mataram ontem sete pessoas, segundo depoimentos de
testemunhas à France Presse.
É uma das quatro Províncias
chinesas com população de origem tibetana.
A Associated Press relata
confrontos nas Províncias vizinhas de Qinghai e Gansu.
Em entrevista em Dharmsala, norte da Índia, onde está exilado desde 1959, o dalai lama
afirmou que "há um sério problema, pouco importa que o governo chinês o admita". A seu
ver, "uma nação com uma antiga herança cultural está em perigo. A nação tibetana está morrendo. De modo proposital ou
não, um genocídio cultural está
acontecendo".
Ele apelou por investigações
internacionais para apurar os
efeitos da repressão. Mas se
dissociou do movimento de
boicote à Olimpíada de Pequim, em agosto. "Os Jogos
Olímpicos devem ocorrer, porque a meu ver os chineses os
merecem." Insistiu no fato de
"a comunidade internacional
ter a responsabilidade moral de
lembrar aos chineses que eles
devem ser bons anfitriões".
O presidente do Comitê
Olímpico Internacional, Jacques Rogge, disse que o órgão
está "muito preocupado" e ofereceu condolências às famílias
das vítimas.
Um dos porta-vozes do dalai
lama confirmou as informações de que, até sábado, 80 cadáveres foram recolhidos em
Lhasa em razão da repressão
militar chinesa. O Centro Tibetano para os Direitos Humanos
acredita que ontem tenham
morrido 13 pessoas. Entre as vítimas estariam monges do
mosteiro Kirti, em Ngawa, ao
nordeste de Lhasa.
Um distrito policial foi cercado por manifestantes em Alba.
Eles passaram a atirar coquetéis molotov sobre as vidraças.
"As pessoas por aqui enlouqueceram", disse um policial à
agência Reuters. Os policiais
responderam com bombas de
gás lacrimogêneo.
Protestos de monges
Na Província de Ganzu, os
protestos partiram da universidade em Lanzhou, onde um toque de recolher também foi imposto. Em Xiahe, a polícia dispersou centenas de pessoas que
participavam de um cortejo iniciado no mosteiro de Labrang.
Em Lhasa vigora desde sábado o toque de recolher, para
evitar confrontos como os da
véspera, que foram os mais graves em duas décadas, com manifestantes incendiando lojas e
carros da polícia.
Um empresário disse à Reuters que a capital tibetana parecia ontem uma cidade morta,
com as ruas vazias. Temendo a
polícia chinesa, a população
passou o domingo dentro de casa. As lojas e armazéns permaneceram fechados, pelo temor
de ocorrência de saques.
A televisão de Hong Kong,
que não veicula a versão das autoridades chinesas, afirma que
200 veículos militares com milhares de soldados ocupam desde ontem o centro da capital.
A TV estatal chinesa disse
que "a ordem foi basicamente
restaurada em Lhasa" e mostrou ruas desertas, com detritos espalhados pelos confrontos. A emissora relatou a morte
de uma adolescente, que não
conseguiu escapar de seu apartamento em chamas.
Um cientista político, Kang
Xiaoguang, disse serem remotas as possibilidades de os distúrbios tibetanos se espalharem para o resto da China.
Mencionou inexistência de solidariedade pela população do
Tibete nas demais regiões.
Com agências internacionais
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