São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2008

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Dalai lama vê genocídio cultural no Tibete

Líder espiritual tibetano quer investigação internacional sobre a repressão da China, que já teria matado mais de 80

Movimento que nasceu na capital Lhasa se expandiu a Províncias vizinhas entre os etnicamente tibetanos; nas ruas, monges e estudantes

Manan Vatsyayana/France Presse
O dalai lama condenou ontem a repressão chinesa aos tibetanos, que já dura uma semana


DA REDAÇÃO

O dalai lama, chefe espiritual do Tibete, responsabilizou ontem a China pelo "genocídio cultural" contra seu país, que é institucionalmente uma região autônoma chinesa e sobre o qual a repressão de Pequim resultou desde segunda-feira passada na morte de pelo menos 87 pessoas, segundo fontes tibetanas -a China só reconhece 13 mortos até agora.
Os protestos, desencadeados para lembrar os 49 anos de uma tentativa malograda de pôr fim ao domínio chinês, não se restringem desde ontem apenas à capital, Lhasa. O movimento, liderado por mosteiros budistas, expandiu-se à Província de Sichuan, onde disparos da polícia mataram ontem sete pessoas, segundo depoimentos de testemunhas à France Presse. É uma das quatro Províncias chinesas com população de origem tibetana.
A Associated Press relata confrontos nas Províncias vizinhas de Qinghai e Gansu.
Em entrevista em Dharmsala, norte da Índia, onde está exilado desde 1959, o dalai lama afirmou que "há um sério problema, pouco importa que o governo chinês o admita". A seu ver, "uma nação com uma antiga herança cultural está em perigo. A nação tibetana está morrendo. De modo proposital ou não, um genocídio cultural está acontecendo".
Ele apelou por investigações internacionais para apurar os efeitos da repressão. Mas se dissociou do movimento de boicote à Olimpíada de Pequim, em agosto. "Os Jogos Olímpicos devem ocorrer, porque a meu ver os chineses os merecem." Insistiu no fato de "a comunidade internacional ter a responsabilidade moral de lembrar aos chineses que eles devem ser bons anfitriões".
O presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, disse que o órgão está "muito preocupado" e ofereceu condolências às famílias das vítimas.
Um dos porta-vozes do dalai lama confirmou as informações de que, até sábado, 80 cadáveres foram recolhidos em Lhasa em razão da repressão militar chinesa. O Centro Tibetano para os Direitos Humanos acredita que ontem tenham morrido 13 pessoas. Entre as vítimas estariam monges do mosteiro Kirti, em Ngawa, ao nordeste de Lhasa.
Um distrito policial foi cercado por manifestantes em Alba. Eles passaram a atirar coquetéis molotov sobre as vidraças. "As pessoas por aqui enlouqueceram", disse um policial à agência Reuters. Os policiais responderam com bombas de gás lacrimogêneo.

Protestos de monges
Na Província de Ganzu, os protestos partiram da universidade em Lanzhou, onde um toque de recolher também foi imposto. Em Xiahe, a polícia dispersou centenas de pessoas que participavam de um cortejo iniciado no mosteiro de Labrang.
Em Lhasa vigora desde sábado o toque de recolher, para evitar confrontos como os da véspera, que foram os mais graves em duas décadas, com manifestantes incendiando lojas e carros da polícia.
Um empresário disse à Reuters que a capital tibetana parecia ontem uma cidade morta, com as ruas vazias. Temendo a polícia chinesa, a população passou o domingo dentro de casa. As lojas e armazéns permaneceram fechados, pelo temor de ocorrência de saques.
A televisão de Hong Kong, que não veicula a versão das autoridades chinesas, afirma que 200 veículos militares com milhares de soldados ocupam desde ontem o centro da capital.
A TV estatal chinesa disse que "a ordem foi basicamente restaurada em Lhasa" e mostrou ruas desertas, com detritos espalhados pelos confrontos. A emissora relatou a morte de uma adolescente, que não conseguiu escapar de seu apartamento em chamas.
Um cientista político, Kang Xiaoguang, disse serem remotas as possibilidades de os distúrbios tibetanos se espalharem para o resto da China. Mencionou inexistência de solidariedade pela população do Tibete nas demais regiões.


Com agências internacionais


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