São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2008

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Esquerda confirma avanço no 2º turno municipal francês

Socialistas mantêm Paris e Lyon e ganham Estrasburgo e Toulose; governistas ficam com a cidade de Marselha

Cientista político diz que pleito teve em cidades maiores eleitor preocupado com questões nacionais; abstenção foi recorde

CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

O segundo turno das eleições municipais na França confirmou ontem a tendência do primeiro turno, no último dia 9: uma vitória da esquerda em cidades importantes. Com 89% dos votos apurados, o Partido Socialista e seus aliados tinham 48,7% dos votos, contra 47,6% do bloco do presidente Nicolas Sarkozy. A abstenção, de 33,5%, foi a maior em pleitos municipais desde 1959.
Em Paris, Bertrand Delanoë, do partido socialista, foi reeleito, superando a candidata de direita Françoise de Panafieu, da UMP (partido do presidente). A cidade de Estrasburgo, ao norte da França, era outra carta importante da disputa. Conservadora e historicamente com um eleitorado à direita, o município elegeu Roland Ries, do PS. Os socialistas também venceram em Toulouse, tradicional nicho dos conservadores.
A direita reelegeu seus prefeitos de Marselha (a terceira maior cidade francesa), Le Havre e Le Mans. Mas perdeu para os socialistas cidades como Metz, Reims, Caem e Amiens.
A vitória dos socialistas foi comemorada pelos principais nomes do partido, como François Hollande, primeiro-secretário, e Ségolène Royal, ex-candidata à Presidência.
Nas paralelas eleições regionais, as projeções indicavam que os socialistas venceriam em mais sete departamentos além dos 51 que já detinham. A França metropolitana é dividida em 95 departamentos.
Apesar do perfil local das eleições, não há como descartar os reflexos nacionais do resultado deste domingo na política nacional francesa.
"Em relação ao comportamento eleitoral, calcula-se que dois terços dos eleitores levam em consideração, principalmente, as questões locais. Mas, na cabeça do eleitor, há também as questões nacionais. Hoje [ontem] vota-se principalmente nas grandes cidades em que o primeiro turno não foi conclusivo. Nessas grandes cidades, as questões nacionais são mais importantes e as pessoas são mais politizadas, o que faz com que essa eleição tenha um peso diferente", disse à Folha o cientista político Stéphane Montclaire, professor da Universidade Sorbonne.
Logo após a divulgação das primeiras estimativas, o primeiro-ministro francês, François Fillon, enfatizou que a escolha do eleitorado sobre os rumos da política francesa foi realizada nas eleições presidencial e legislativa de 2007. Na ocasião, a direita saiu vencedora. O premiê francês também minimizou o avanço da esquerda nas cidades médias e nos departamentos. A seu ver, "a esquerda retomou apenas parcialmente suas posições".
Mas, para o professor Montclaire, a mensagem dos eleitores foi clara ao presidente Sarkozy. "O eleitorado parece ter expressado uma relativa desilusão com o governo de Sarkozy." Eleito com a promessa de restabelecer o poder aquisitivo no país, até o momento as medidas anunciadas pelo presidente surtiram pouco ou nenhum efeito. O premiê francês parece ter entendido o recado: "Vamos continuar a batalhar pelo poder aquisitivo", disse.

Centro flutuante
Além do desempenho da esquerda, a eleição desse domingo foi ambígua para o partido de centro MoDem, do ex-candidato à presidência François Bayrou. Bayrou foi derrotado em Pau, maior cidade de sua região e base eleitoral, o sul próximo dos Pirineus. Os candidatos do MoDem aliaram-se no segundo turno indistintamente com o finalista da esquerda e da direita. Isso levou o partido a diluir sua identidade.


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