São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Violência em Caracas explode depois de 11 anos de chavismo

Só neste fim de semana, 67 pessoas foram assassinadas na capital venezuelana

Número é o mais alto do ano; em 2009, houve 140 homicídios por 100 mil habitantes, segundo uma estimativa independente


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Há três semanas, a advogada Joaquina Alsina, 53, e sua filha, Oriana, 20, foram encontradas queimadas e baleadas depois de serem sequestradas num bairro de classe média de Caracas. Dias depois, três membros da Polícia Metropolitana, controlada pelo Ministério do Interior, foram presos após manter uma mulher em cativeiro dentro de uma delegacia de polícia.
Esses foram os casos de maior repercussão do recente aumento da criminalidade na capital venezuelana, que acaba de atravessar o fim de semana mais violento do ano. Entre a última sexta à noite e a madrugada de segunda, foram 67 assassinatos, entre ajustes de contas, balas perdidas e latrocínios -um camelô foi assassinado por não entregar os sapatos e o celular.
Estatísticas extraoficiais divulgadas na semana passada pelo OVV (Observatório Venezuelano da Violência) mostram que Caracas registrou 140 assassinatos por 100 mil habitantes no ano passado.
No mesmo período, ocorreram 16.047 homicídios na Venezuela, 3,5 vezes mais do que os 4.500 de 1998, último ano antes do governo Hugo Chávez. O país tem cerca de 28 milhões de habitantes.
Em comparação, o Estado de São Paulo, com uma população de pouco mais de 41 milhões, registrou 4.771 homicídios em 2009, o que representa taxa de 10,95 assassinatos por 100 mil no Estado -12,3 na região metropolitana de São Paulo.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a taxa de homicídio é "epidêmica" quando supera dez assassinatos por 100 mil habitantes.
O levantamento do OVV mostra também um aumento da impunidade -91% dos crimes ocorridos nos últimos três anos não foram resolvidos. Em 2009, foram presos 1.491 ligados a assassinatos naquele ano. Em 1998, foram 5.017 prisões para um número de homicídios 72% menor.

Polícia bolivariana
Os números do OVV não foram contestados pelo governo Chávez, que há cinco anos não revela números nacionais de estatísticas de violência.
A principal iniciativa do governo Chávez na área de segurança pública no último ano foi a criação da PNB (Polícia Nacional Bolivariana), que atualmente atua apenas na região de Sucre, zona oeste de Caracas.
Segundo o próprio Chávez, a PNB conseguiu reduzir os homicídios em 72% na região desde o final de dezembro.
Apesar de a insegurança ser a principal preocupação dos venezuelanos em todas as pesquisas de opinião, Chávez menciona pouco o assunto, e muitas vezes para acusar a imprensa privada de sensacionalismo. Recentemente, no entanto, reconheceu que a criminalidade é uma "ameaça para a revolução bolivariana".


Texto Anterior: Foco: Manifestantes derramam próprio sangue para exigir novas eleições na Tailândia
Próximo Texto: Gays de Uganda levam vida "clandestina"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.