São Paulo, domingo, 17 de abril de 2011

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"Apoio a sigla direitista não surpreende", diz francês

Para o historiador Michel Winock, crise favorece extrema direita local

"Frente Nacional não mudou, mas Marine Le Pen alterou a imagem'; ele diz ainda concordar com operação na Líbia


RODRIGO RÖTZSCH
DO RIO

Especialista na direita da França, mas crítico do governo do direitista Nicolas Sarkozy, o historiador francês Michel Winock afirma não se surpreender com o apoio à extremista Frente Nacional.
"Marine Le Pen conseguiu alterar e rejuvenescer a imagem do partido", afirma.
Winock falou à Folha após palestra na Universidade Candido Mendes, no Rio.
Leia trechos da entrevista:

 

Folha - O apoio à extrema direita e à filha de Jean-Marie Le Pen surpreende o sr.?
Michel Winock -
Não, por dois motivos. Primeiro, pela perda de credibilidade da direita governamental, que está sem poder de reação ante os graves problemas que os franceses enfrentam, sobretudo o desemprego. Mas também porque a personalidade de Marine Le Pen, comparada à do seu pai, altera o jogo.
O partido do pai não tinha mais para onde avançar, tinha chegado a seu teto, em razão da própria personalidade de Jean-Marie Le Pen. Para uma série de eleitores, votar nele é tabu.
Marine Le Pen conseguiu destruir esse tabu. Ela pretende esquecer o passado. Ela quer se ocupar apenas dos problemas atuais. Nós podemos resumir esses problemas a três principais: o desemprego, a imigração e a insegurança.
Em resumo: a natureza da Frente Nacional [FN, o partido dos Le Pen] não mudou nada, mas Marine Le Pen conseguiu alterar e rejuvenescer a sua imagem.

O sr. vê espaço para que ela possa crescer mais e até acabar se tornando presidente?
Não. Sempre é possível crescer mais, nas últimas eleições regionais a FN chegou a empatar com a UMP [de Sarkozy]. Mas são eleições administrativas, restritas, com alta abstenção.
Já nas eleições presidenciais de 2012, podemos estimar que ela tem o potencial de angariar votos, no máximo, de 25% do eleitorado.

Isso é uma mostra de que hoje um quarto dos franceses apoiam ideias xenófobas?
É difícil saber. Muitos desses eleitores potenciais não são partidários das ideias de Marine Le Pen. Simplesmente a escolhem como um voto de protesto contra o governo de Sarkozy.
Isso é válido sobretudo para as camadas mais pobres, que não se sentem mais representadas pela esquerda e se decepcionaram com Sarkozy. Mas votam em Marine Le Pen sabendo que ela não tem chances de ser eleita.

Que posição um intelectual deveria defender na questão da ofensiva contra a Líbia?
Proteger o povo do massacre. Essa é a missão fundamental. Promover os princípios da democracia e ajudar os povos em luta a promover esses princípios.
E ao mesmo tempo, o que torna essa missão delicada, fazer com que a intervenção internacional não torne as coisas piores do que estão.
Não fazer nada seria indesculpável. Porém recorrer à força militar de maneira desordenada pode acabar levando a resultados opostos às boas intenções do Conselho de Segurança da ONU.


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