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EUA são fonte de instabilidade, afirma líder sírio
JESÚS CEBERIO
e ÁNGELES ESPINOSA
DO ""EL PAÍS", EM DAMASCO
Iraque a leste e Israel a oeste. O
país que Bashar el Assad herdou
há quatro anos de seu pai, Hafez el
Assad, fica numa encruzilhada
geoestratégica que converte seu
governo em um exercício de malabarismo político. ""Ensina muito", admite o presidente sírio, sem
minimizar as dificuldades.
""Nossa posição se mantém invariável contra o terrorismo", diz
Assad. Na semana passada, Washington impôs sanções econômicas à Síria, sob o argumento de
que o país apoiaria o terrorismo.
""Pela primeira vez", diz Assad,
""os Estados Unidos se transformaram em fonte de instabilidade,
não de estabilidade."
Pergunta - Como estão as relações da Síria com os EUA?
Assad - Há várias correntes na
administração americana. Uma
delas quer cooperar com a Síria
por meio do diálogo e da reciprocidade. Outra não quer esse contato, busca as pressões e, quem sabe, a guerra. Por outro lado, existe
um diálogo entre instituições sírias e americanas, sobretudo na
questão da luta contra o terrorismo. É uma relação flutuante.
Pergunta - Como a ocupação do
Iraque afeta os países vizinhos e
em particular a Síria?
Assad - Em primeiro lugar, moralmente. Todos nós nos opomos
à ocupação. Em segundo, nós enxergávamos os EUA como um
país que favorecia a estabilidade,
apesar de nossas divergências sobre determinados problemas. Pela primeira vez, os Estados Unidos se converteram em fonte de
instabilidade, não de estabilidade.
Também há o aspecto econômico. Investidores fogem das guerras e de situações instáveis. Agora
vamos assistir aos efeitos sobre a
segurança. No Iraque, há caos e
descontrole e há contrabando de
armas em direção à Síria.
Pergunta - O sr. acredita que no
fim desse processo o Iraque salvará
sua integridade territorial?
Assad - Essa é a prioridade para
o Iraque, a Síria e, acredito, para
os outros países do mundo, porque se não se respeitar a integridade territorial do Iraque, isso
criará um precedente que se converterá em elo numa longa cadeia
que pode chegar até a Ásia Central e se estender à Europa e ao
resto do mundo.
Pergunta - O que o sr. acha do
plano dos EUA para a democratização dos regimes árabes?
Assad - Essa democracia seria ao
estilo de Abu Ghraib, e, conseqüentemente, todos nossos territórios se converteriam em grandes prisões? Esses países que propõem a democratização e as reformas não tiveram problemas,
em sua história recente, para
apoiar ditaduras, quando isso
lhes interessava. Trata-se de uma
democracia que passa por cima
de nossos problemas na Palestina
e em Golã [território sírio ocupado por Israel]? Essa democracia
consiste em manter parte de nosso território sob ocupação?
Pergunta - Existe um problema
de democracia nos países árabes?
Assad - Sim. Os países ocidentais
apoiaram ditaduras e intervieram
para lhes conferir legitimidade.
Não se pode separar o problema
da ocupação por Israel nem o do
desenvolvimento regional.
Pergunta - O sr. nos disse que sua
prioridade eram as reformas econômicas. Elas não estão avançando
muito lentamente?
Assad - Não só estão avançando
lentamente como, às vezes, andam em marcha a ré. Mas nossos
problemas cotidianos relegam essas reformas ao segundo plano. A
prioridade é a segurança.
Pergunta - O que fazer diante da
globalização do terrorismo?
Assad - É preciso tratar suas causas, especialmente no Iraque e na
Palestina. É um tratamento complicado que abrange todos os métodos, o último dos quais é o uso
da força, e não precisamente da
força militar. O terrorismo não é
um exército que se possa combater com mísseis e aviação.
Pergunta - Sob que condições o
sr. aceitaria negociar com Israel?
Assad- A Síria não postula condições, mas com Israel não se trata de diálogo, e sim de negociações, e estas têm uma estrutura e
um objetivo claro: a paz. Os parâmetros consistem nas resoluções
do Conselho de Segurança e os
auspícios dos Estados Unidos em
primeiro lugar. O processo de paz
em Madri, em 1991, deslanchou
assim. Se não for assim, sobre o
que vamos negociar?
Tradução de Clara Allain
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