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Arquivo das Farc vira dilema na Colômbia
Linha-dura defende endurecimento com Chávez e Correa, mas a oposição vê ameaça a interesses nacionais na região
Fortalecido por informe da
Interpol, Uribe não explicita
sua estratégia; documentos
de computador não têm
valor legal, diz ex-ministro
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Um dia depois de a Interpol
autenticar os arquivos dos
computadores do líder guerrilheiro Raúl Reyes, a Colômbia
enfrenta o dilema sobre o que
fazer com as indicações de estreitas relações entre as Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e os governos
dos vizinhos Venezuela e Equador. As opiniões se dividem entre os que questionam a eficácia de endurecer com os presidentes Hugo Chávez e Rafael
Correa e os que apóiam medidas diplomáticas e legais.
O presidente colombiano, Álvaro Uribe, ainda não esclareceu qual será a estratégia oficial
de agora em diante, limitando-se a dizer, na cúpula de Lima,
que o informe da Interpol (polícia internacional) é "contundente e transparente".
A mesma cautela foi adotada
pelo procurador-geral da Colômbia, Mario Iguarán, encarregado de analisar os documentos atribuídos ao computador
de Reyes. Ele disse que anunciará decisões logo e não descartou ações fora da Colômbia.
"Por mais que [o delito] se
cometa no estrangeiro e por
mais que seja cometido por estrangeiros, a lei colombiana pode investigar. E a Procuradoria
está no processo investigativo
com respeito a esses cidadãos
venezuelanos, costarriquenhos
e mexicanos" disse, em referência aos textos atribuídos a
dirigentes das Farc que relatam
suas ligações nesses três países.
Um dos principais defensores de uma saída política é o líder opositor liberal Rafael Pardo. "Uribe deve saber que o objetivo fundamental de todo esse tema dos computadores é
que a Venezuela e o Equador
rompam suas relações com as
Farc, e não que Colômbia rompa relações com esses dois governos", disse ontem o ex-senador e ex-ministro da Defesa.
Em artigo anteontem, Pardo
argumentou que o governo Uribe não deve se alinhar com o
governo americano e que "o caminho de desprestígio de chefes de Estado" por meio da divulgação de documentos "autênticos, mas que não são provas judiciais" dificulta a eliminação dos espaços que as Farc
têm hoje nos países vizinhos.
"A Colômbia, não o governo,
e sim a nação, precisa de boas
relações tanto com os EUA como com a Venezuela e o Equador. Os EUA, seu atual governo
pelo menos, mantêm uma mútua hostilidade com o da Venezuela. Essa briga não podemos
comprar, é deles, e não nossa."
Considerado uma das vozes
mais radicais dentro do uribismo, o ex-ministro do Interior
(Justiça) Fernando Londoño
quer a divulgação de todos os
documentos atribuídos aos
computadores de Reyes e o
acionamento de organismos
internacionais contra a Venezuela, como o Tribunal Penal
Internacional (TPI) e a ONU.
"O primeiro a fazer é publicar
os documentos desses computadores, colocar à disposição de
quem quiser investigá-los", disse à Folha, por telefone. "O
mundo tem de tomar posição.
Vejamos o que fazem a OEA, a
ONU e a comunidade internacional quando virem a comprovação definitiva da aliança dos
presidentes Chávez e Correa
com os terroristas das Farc."
Londoño discordou da proposta de Pardo para uma abordagem mais comedida. "Fazer
uma aliança com os amigos das
Farc para combater as Farc? É
uma insensatez."
As relações entre os dois países vivem uma crise intensa
desde o final do ano passado,
quando Uribe suspendeu a mediação de Chávez nas negociações com as Farc para liberar
seqüestrados políticos.
O auge da crise foi no início
de março, após a morte de Reyes em ataque da Colômbia em
território equatoriano, seguida
da divulgação por Uribe de documentos que sugerem colaboração militar entre Chávez e as
Farc. A crise ganhou mais força
anteontem. Em reação ao relatório da Interpol, Chávez
anunciou a "revisão" das relações entre os dois países, que
têm fortes laços. Estima-se, por
exemplo, que 4 milhões de colombianos vivam na Venezuela, que é o segundo maior parceiro comercial da Colômbia,
atrás dos EUA.
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