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Lula oferta ajuda a Paraguai, mas não discute tema Itaipu
Brasileiro se reuniu com Lugo, presidente eleito do país vizinho, ontem em Lima
Segundo Marco Aurélio Garcia, Brasil está disposto a auxiliar em "programa de industrialização", mas não reverá tratado hidrelétrico
DO ENVIADO A LIMA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu ontem a seu
futuro colega paraguaio, o presidente eleito Fernando Lugo,
uma espécie de Plano Marshall,
tal como a Folha havia antecipado, mas nem usou esse nome
nem discutiu o tema de Itaipu,
no encontro que os dois mantiveram paralelamente à participação na Cúpula América Latina e Caribe-União Européia.
Pelo menos foi essa a versão
transmitida aos jornalistas brasileiros por Marco Aurélio Garcia, assessor internacional de
Lula. Lugo, em entrevista coletiva horas mais tarde, não desmentiu Garcia, mas disse que,
muito em breve, o assessor de
Lula irá a Assunção para uma
"discussão específica" sobre o
que o paraguaio chama de "soberania energética ou soberania hidrelétrica".
O Brasil está disposto a discutir com o novo governo paraguaio um pacote de ajuda que
incluirá o apoio a "um programa de industrialização do Paraguai", segundo Garcia. Incluirá também um programa
de suporte para aperfeiçoar a
agricultura paraguaia, por
meio da Embrapa, a empresa
estatal brasileira.
Lula, sempre segundo seu assessor, chamou a atenção de
Lugo para o fato de que, na política industrial anunciada nesta semana pelo governo brasileiro, há pontos que servem para o conjunto da América do
Sul, e não apenas para o Brasil.
"Não queremos um Brasil
próspero em meio a uma América do Sul pobre", disse Lula a
Lugo, segundo Garcia.
Itaipu
Quanto à revisão do tratado
de Itaipu, um dos principais
pontos da campanha eleitoral
de Lugo, Garcia afasta qualquer
hipótese: "Não está em questão
[a revisão do tratado] porque se
trata de respeitar um acordo
internacional".
Lugo, no entanto, voltou a dizer, na sua coletiva, que se trata
de um "tratado injusto". O presidente eleito disse também
que Lula mostrou-se aberto a
discutir o tema, durante o primeiro encontro que mantiveram, antes ainda de sua eleição.
Segundo Lugo, Lula teria dito
que "nem os próprios técnicos
coincidem nos números quando se trata de Itaipu". O presidente eleito do Paraguai, no entanto, tem um conceito que se
sobrepõe aos números dos técnicos e insistiu ontem nele:
"Nenhum país dá seus bens naturais a preço de custo, e sim a
preço de mercado". Ele festejou
o fato de a discussão energética
ter "pela primeira vez" se instalado entre Brasil e Paraguai.
Lugo teve também ontem
um encontro com a chanceler
alemã Angela Merkel, durante
o qual ouviu um conselho, que
contraria a sua tese. Merkel
quis saber como seriam as relações entre o Brasil e Paraguai
com Lugo no governo e emendou: "Às vezes, convém distinguir entre o sermão e a ação
prática". Sermão, como é óbvio,
é referência ao fato de que Lugo
é bispo, embora suspenso de
suas funções pelo Vaticano.
(CLÓVIS ROSSI)
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