São Paulo, sábado, 17 de maio de 2008

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Lula oferta ajuda a Paraguai, mas não discute tema Itaipu

Brasileiro se reuniu com Lugo, presidente eleito do país vizinho, ontem em Lima

Segundo Marco Aurélio Garcia, Brasil está disposto a auxiliar em "programa de industrialização", mas não reverá tratado hidrelétrico

DO ENVIADO A LIMA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu ontem a seu futuro colega paraguaio, o presidente eleito Fernando Lugo, uma espécie de Plano Marshall, tal como a Folha havia antecipado, mas nem usou esse nome nem discutiu o tema de Itaipu, no encontro que os dois mantiveram paralelamente à participação na Cúpula América Latina e Caribe-União Européia.
Pelo menos foi essa a versão transmitida aos jornalistas brasileiros por Marco Aurélio Garcia, assessor internacional de Lula. Lugo, em entrevista coletiva horas mais tarde, não desmentiu Garcia, mas disse que, muito em breve, o assessor de Lula irá a Assunção para uma "discussão específica" sobre o que o paraguaio chama de "soberania energética ou soberania hidrelétrica".
O Brasil está disposto a discutir com o novo governo paraguaio um pacote de ajuda que incluirá o apoio a "um programa de industrialização do Paraguai", segundo Garcia. Incluirá também um programa de suporte para aperfeiçoar a agricultura paraguaia, por meio da Embrapa, a empresa estatal brasileira.
Lula, sempre segundo seu assessor, chamou a atenção de Lugo para o fato de que, na política industrial anunciada nesta semana pelo governo brasileiro, há pontos que servem para o conjunto da América do Sul, e não apenas para o Brasil.
"Não queremos um Brasil próspero em meio a uma América do Sul pobre", disse Lula a Lugo, segundo Garcia.

Itaipu
Quanto à revisão do tratado de Itaipu, um dos principais pontos da campanha eleitoral de Lugo, Garcia afasta qualquer hipótese: "Não está em questão [a revisão do tratado] porque se trata de respeitar um acordo internacional".
Lugo, no entanto, voltou a dizer, na sua coletiva, que se trata de um "tratado injusto". O presidente eleito disse também que Lula mostrou-se aberto a discutir o tema, durante o primeiro encontro que mantiveram, antes ainda de sua eleição.
Segundo Lugo, Lula teria dito que "nem os próprios técnicos coincidem nos números quando se trata de Itaipu". O presidente eleito do Paraguai, no entanto, tem um conceito que se sobrepõe aos números dos técnicos e insistiu ontem nele: "Nenhum país dá seus bens naturais a preço de custo, e sim a preço de mercado". Ele festejou o fato de a discussão energética ter "pela primeira vez" se instalado entre Brasil e Paraguai.
Lugo teve também ontem um encontro com a chanceler alemã Angela Merkel, durante o qual ouviu um conselho, que contraria a sua tese. Merkel quis saber como seriam as relações entre o Brasil e Paraguai com Lugo no governo e emendou: "Às vezes, convém distinguir entre o sermão e a ação prática". Sermão, como é óbvio, é referência ao fato de que Lugo é bispo, embora suspenso de suas funções pelo Vaticano.
(CLÓVIS ROSSI)


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