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Ajuda dos chineses às vítimas do tremor supera a do governo
China recebe missões humanitárias estrangeiras e busca aproximar-se rivais históricos, como o Japão, em meio à crise
Voluntários se unem aos 130 mil militares e médicos mobilizados por Pequim; forte réplica ao terremoto atrapalhou resgates ontem
DA REDAÇÃO
Quatro dias após o terremoto
mais fatal em 32 anos, as mortes confirmadas na China passaram ontem de 22 mil. Pequim estima que mais de 50 mil
pessoas tenham sido vítimas do
abalo sísmico, que destruiu vilarejos e estradas e interrompeu o fornecimento de água e
energia em parte da Província
de Sichuan, epicentro do terremoto, onde 4,8 milhões de pessoas perderam suas casas.
A tragédia mobilizou a população chinesa, que já doou às
áreas atingidas 3,2 bilhões de
yuans (R$ 753 milhões) em dinheiro e materiais, segundo o
ministério de Assuntos Civis. O
valor é quase três vezes maior
que o alocado pelo governo
central no fundo de ajuda aos
desabrigados.
Soldados e voluntários vasculham as ruínas, muitas vezes
com as mãos, em busca de sobreviventes. Em Yinghua, o
operário Liu Deyun teve de amputar um braço e uma perna,
mas foi retirado com vida dos
escombros da fábrica onde trabalhava. "Foi um milagre", disse o médico Zhao Hogzing, que
participou da operação que salvou a vida de Deyun. "Mas os
milagres chegam depois de trabalho duro", ponderou. Com
esperança em novos "milagres", famílias continuam a
busca por parentes soterrados.
Oito sobreviventes foram
resgatados ontem. Um deles,
Peng Zhijun, 46, conta que sobreviveu sob os destroços bebendo a própria urina e comendo o que tinha no bolso -cigarro e lenços de papel.
Entre os resgatados, há quatro crianças, três delas alunas
de uma escola primária em Beichuan, em Sichuan -onde o
tremor derrubou 6.898 escolas,
segundo a agência oficial de notícias chinesa. O governo diz
que vai investigar as razões de
tantos prédios escolares terem
sido destruídos e punirá os responsáveis caso sejam descobertas irregularidades.
Uma forte réplica -tremores
menores que sucedem grandes
terremotos- atingiu ontem o
centro de Sichuan, provocando
deslizamentos e atrapalhando
as operações de resgate. Veículos foram soterrados em uma
estrada que leva a Wenchuan,
epicentro do abalo de segunda,
mas não há relatos de mortes.
Diplomacia do desastre
A China autorizou missões
humanitárias internacionais e
recebeu especialistas em operações de resgate estrangeiros,
numa abertura incomum de
sua diplomacia. Mesmo após
mobilizar 130 mil militares e
médicos, o país ainda tem dificuldade para prestar assistência aos milhões de flagelados e
prosseguir a busca por sobreviventes. Segundo Pequim, o terremoto foi ainda mais "devastador" que o de 1976 -mais
mortífero do século 20, com
mais de 240 mil vítimas.
Na quinta, a China pediu ao
seu tradicional rival Japão que
enviasse 60 especialistas em
resgate, na primeira missão internacional do gênero durante
a crise atual e uma das poucas
aceitas pela República Popular
da China desde a sua fundação,
em 1949. O acesso livre foi estendido a equipes de Rússia,
Coréia do Sul e Cingapura.
O país aceitou também a ajuda de equipe de resgate não-oficial de Taiwan -ilha onde instalou-se um governo autônomo
dissidente após a revolução comunista e que Pequim considera uma Província rebelde.
O convite feito ao Japão e a
presença de Taiwan, após a recusa de ofertas similares feitas
por outros países, podem indicar que a ajuda humanitária é
vista por Pequim como um modo de melhorar as relações com
os países da região e suavizar a
imagem do país a três meses da
Olimpíada.
Com "Financial Times" e agências
internacionais
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