São Paulo, sábado, 17 de maio de 2008

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Ajuda dos chineses às vítimas do tremor supera a do governo

China recebe missões humanitárias estrangeiras e busca aproximar-se rivais históricos, como o Japão, em meio à crise

Voluntários se unem aos 130 mil militares e médicos mobilizados por Pequim; forte réplica ao terremoto atrapalhou resgates ontem

DA REDAÇÃO

Quatro dias após o terremoto mais fatal em 32 anos, as mortes confirmadas na China passaram ontem de 22 mil. Pequim estima que mais de 50 mil pessoas tenham sido vítimas do abalo sísmico, que destruiu vilarejos e estradas e interrompeu o fornecimento de água e energia em parte da Província de Sichuan, epicentro do terremoto, onde 4,8 milhões de pessoas perderam suas casas.
A tragédia mobilizou a população chinesa, que já doou às áreas atingidas 3,2 bilhões de yuans (R$ 753 milhões) em dinheiro e materiais, segundo o ministério de Assuntos Civis. O valor é quase três vezes maior que o alocado pelo governo central no fundo de ajuda aos desabrigados.
Soldados e voluntários vasculham as ruínas, muitas vezes com as mãos, em busca de sobreviventes. Em Yinghua, o operário Liu Deyun teve de amputar um braço e uma perna, mas foi retirado com vida dos escombros da fábrica onde trabalhava. "Foi um milagre", disse o médico Zhao Hogzing, que participou da operação que salvou a vida de Deyun. "Mas os milagres chegam depois de trabalho duro", ponderou. Com esperança em novos "milagres", famílias continuam a busca por parentes soterrados.
Oito sobreviventes foram resgatados ontem. Um deles, Peng Zhijun, 46, conta que sobreviveu sob os destroços bebendo a própria urina e comendo o que tinha no bolso -cigarro e lenços de papel.
Entre os resgatados, há quatro crianças, três delas alunas de uma escola primária em Beichuan, em Sichuan -onde o tremor derrubou 6.898 escolas, segundo a agência oficial de notícias chinesa. O governo diz que vai investigar as razões de tantos prédios escolares terem sido destruídos e punirá os responsáveis caso sejam descobertas irregularidades.
Uma forte réplica -tremores menores que sucedem grandes terremotos- atingiu ontem o centro de Sichuan, provocando deslizamentos e atrapalhando as operações de resgate. Veículos foram soterrados em uma estrada que leva a Wenchuan, epicentro do abalo de segunda, mas não há relatos de mortes.

Diplomacia do desastre
A China autorizou missões humanitárias internacionais e recebeu especialistas em operações de resgate estrangeiros, numa abertura incomum de sua diplomacia. Mesmo após mobilizar 130 mil militares e médicos, o país ainda tem dificuldade para prestar assistência aos milhões de flagelados e prosseguir a busca por sobreviventes. Segundo Pequim, o terremoto foi ainda mais "devastador" que o de 1976 -mais mortífero do século 20, com mais de 240 mil vítimas.
Na quinta, a China pediu ao seu tradicional rival Japão que enviasse 60 especialistas em resgate, na primeira missão internacional do gênero durante a crise atual e uma das poucas aceitas pela República Popular da China desde a sua fundação, em 1949. O acesso livre foi estendido a equipes de Rússia, Coréia do Sul e Cingapura.
O país aceitou também a ajuda de equipe de resgate não-oficial de Taiwan -ilha onde instalou-se um governo autônomo dissidente após a revolução comunista e que Pequim considera uma Província rebelde.
O convite feito ao Japão e a presença de Taiwan, após a recusa de ofertas similares feitas por outros países, podem indicar que a ajuda humanitária é vista por Pequim como um modo de melhorar as relações com os países da região e suavizar a imagem do país a três meses da Olimpíada.


Com "Financial Times" e agências internacionais

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