São Paulo, sábado, 17 de maio de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / PRESIDENTE NA CAMPANHA

Obama diz que Bush promove medo

Para democrata, presidente e seu candidato são "hipócritas" e manipulam ameaça para continuarem no poder

Em Israel, Bush equiparou senador a "conciliadores de nazistas"; tática é a mesma que críticos dizem ter sido usada na reeleição, em 2004

Jae C. Hong/Associated Press
Obama dá entrevista em Watertown; democrata acusa rivais de usarem medo para ficar no poder

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

O pré-candidato presidencial democrata Barack Obama evocou ontem o conceito de "tática do medo" -da qual George W. Bush lançou mão para se reeleger em 2004, segundo críticos- ao responder a ataques velados pelo presidente dos EUA durante visita a Israel.
"Eles [republicanos] não estão dizendo a verdade a vocês. Eles estão tentando enganá-los e assustá-los porque sabem que não conseguem vencer um debate sobre política externa por mérito próprio", disse Obama, diante de 2.000 eleitores em Dakota do Sul, Estado que abriga uma das cinco prévias partidárias restantes. "Mas isso não vai funcionar. Não neste ano."
Obama se refere à idéia de que Bush tenha manipulado o medo da população em relação a um novo ataque terrorista para que ela temesse eleger um governo democrata em 2004 e mantivesse seu apoio à Guerra do Iraque. Para o senador, Bush e o candidato republicano à Casa Branca, John McCain, agem com "desonestidade", "hipocrisia" e "promovem o medo".
O discurso de Obama é sua segunda reação a um pronunciamento de Bush, anteontem, no qual o presidente afirmou que "há quem pareça pensar que deveríamos negociar com terroristas e radicais, como se algum argumento fosse capaz de persuadi-los" -a primeira foi um comunicado por escrito no próprio dia. O presidente, que falava em razão do 60º aniversário de Israel, usou a deixa para equiparar o fato a "tentar conciliar-se com nazistas".
Apesar de a Casa Branca negar a alusão a Obama, a afirmação foi entendida como crítica evidente ao candidato, que já defendeu publicamente o diálogo com o Irã e a Síria e o envolvimento de grupos que Wa- shington considera terroristas, como Hamas e Hizbollah.

Obama X McCain
O contra-ataque de Obama foi também dirigido a McCain. O candidato republicano havia reforçado o discurso de Bush dizendo que o rival "mostra ingenuidade, inexperiência e falta de julgamento ao dizer que quer se sentar à mesa de um indivíduo que comanda um país [Irã] que diz que Israel é um cadáver fedorento, que se dedica a extinção do Estado de Israel".
Obama devolveu a farpa, citando "crença ingênua e irresponsável de que a fala dura de Washingon irá de alguma maneira fazer com que o Irã desista de seu programa nuclear e do apoio ao terrorismo".
O democrata tocou ainda em um dos temas mais debatidos desde o início da corrida presidencial, a percepção do povo americano de que o resto do mundo rejeita os EUA devido a sua política externa. "É exatamente o tipo de ataque apelativo que tem divido nosso país e nos afastado do mundo."
Em sua fala, Obama ria ao citar os comentários de McCain e de Bush. Ao final do discurso, o candidato disse que não foge dessa discussão. "Se eles querem um debate sobre proteger os Estados Unidos da América, esse é um debate que estou pronto para ganhar."
Analistas acreditam, no entanto, que o debate sobre segurança fortalece McCain, herói da guerra do Vietnã. Além disso, os democratas têm telhado de vidro por terem votado a favor de que tropas americanas invadissem o Iraque em 2003, algo que mais tarde disseram ter sido um erro do governo Bush. Obama foi exceção no grupo -diferentemente da rival no partido, Hillary Clinton.


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