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EUA e Israel confrontam ideias opostas para a paz
Obama receberá pela 1ª vez Netanyahu, que não acredita em Estado palestino
Israelense quer centrar discussão em conter o Irã; americano crê que acordo no Oriente Médio também ajudaria a domar Teerã
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
A histórica aliança entre Israel e EUA será colocada à prova amanhã, no primeiro encontro oficial entre o premiê Binyamin Netanyahu e o presidente Barack Obama, líderes recentemente empossados com
agendas conflitantes para o
Oriente Médio.
Prevalece a expectativa de
que o israelense, ao ser recebido em Washington, irá amenizar a retórica linha-dura que o
trouxe de volta ao poder, dez
anos após deixar o cargo.
Porta-vozes de Israel ouvidos pela Folha minimizam as
divergências com a política externa conciliadora de Obama.
Mas o descompasso será difícil
de esconder entre Netanyahu e
Obama, que só se viram uma
vez, em julho de 2008, quando
ainda estavam em campanha.
Netanyahu chega aos EUA
com a missão de apresentar -e
justificar- a controversa guinada geopolítica acarretada
por sua coalizão de governo, na
qual siglas direitistas radicais
têm grande influência.
A mudança mais polêmica é
a rejeição de um Estado palestino, ideia central das negociações de paz desde os Acordos
de Oslo (1993) e solução quase
unanimemente aceita no mundo como a mais plausível.
Para o premiê, a Autoridade
Nacional Palestina não tem
viabilidade como Estado soberano, e uma retirada israelense
da Cisjordânia deixaria um vácuo favorável ao grupo islâmico
Hamas, que já controla a faixa
de Gaza desde 2007.
Netanyahu defende uma
"paz econômica" baseada na
ideia de áreas comerciais palestinas desconectadas umas das
outras. O plano, segundo o premiê, garantiria a segurança de
Israel e traria aos palestinos
uma prosperidade capaz de diluir a revolta anti-israelense.
Para Netanyahu, muito mais
urgente do que negociar com
os palestinos é pôr fim ao programa nuclear iraniano, que Israel, mesmo como potência
atômica, encara como ameaça
existencial. Teerã diz que quer
produzir energia, não bombas.
O premiê de Israel vem tentando transpor o foco das atenções no Oriente Médio da
questão palestina para o Irã e
aposta no medo que a maioria
dos governos árabes têm do rival persa para costurar uma
frente regional contra Teerã.
"Netanyahu acredita que Israel realmente não pode conceder muito aos palestinos enquanto houver essa ameaça
iraniana pendente", diz Elliot
Abrams, ex-vice conselheiro de
segurança nacional de Bush. O
argumento, afirma Abrams, é
que o Irã fomenta boa parte das
manobras anti-Israel.
A abordagem de Obama está
na contramão da israelense.
Pelos cálculos do americano,
que assumiu em janeiro com a
promessa de reverter a política
confrontativa do antecessor
George W. Bush, criar um Estado palestino ajudaria a criar
uma atmosfera regional mais
favorável para conter o Irã.
A estratégia de Israel também é questionada por Marc
Lynch, da revista "Foreign Policy". "É importante caminhar
rumo à solução de dois Estados
por seu próprio mérito, e não
para ajudar a resolver o problema do Irã", escreveu.
Netanyahu é visto como o
maior obstáculo potencial aos
planos de Obama para o Oriente Médio, que incluem receber
os presidentes palestino e egípcio neste mês e uma viagem ao
Egito em junho para pronunciar um discurso ao mundo islâmico tido como histórico.
O americano também demonstrou clara intenção de se
reaproximar de Teerã. Num caso raro nas relações israelo-americanas, que chegaram ao
seu auge sob Bush, Obama dias
atrás teve de despachar um
emissário a Jerusalém para
pressionar Israel a engavetar
planos de um ataque ao Irã.
Mas o analista palestino Bashir Bashir, da Universidade
Hebraica de Jerusalém, vê o
descompasso com cautela.
"Há divergências, mas não se
deve superestimá-las", diz Bashir, que acha precipitado apostar num racha entre os aliados.
Segundo ele, Obama, embora
apoie dois Estados, não detalhou ainda os contornos de sua
política para os palestinos.
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