São Paulo, domingo, 17 de maio de 2009

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EUA e Israel confrontam ideias opostas para a paz

Obama receberá pela 1ª vez Netanyahu, que não acredita em Estado palestino

Israelense quer centrar discussão em conter o Irã; americano crê que acordo no Oriente Médio também ajudaria a domar Teerã

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

A histórica aliança entre Israel e EUA será colocada à prova amanhã, no primeiro encontro oficial entre o premiê Binyamin Netanyahu e o presidente Barack Obama, líderes recentemente empossados com agendas conflitantes para o Oriente Médio.
Prevalece a expectativa de que o israelense, ao ser recebido em Washington, irá amenizar a retórica linha-dura que o trouxe de volta ao poder, dez anos após deixar o cargo.
Porta-vozes de Israel ouvidos pela Folha minimizam as divergências com a política externa conciliadora de Obama. Mas o descompasso será difícil de esconder entre Netanyahu e Obama, que só se viram uma vez, em julho de 2008, quando ainda estavam em campanha.
Netanyahu chega aos EUA com a missão de apresentar -e justificar- a controversa guinada geopolítica acarretada por sua coalizão de governo, na qual siglas direitistas radicais têm grande influência.
A mudança mais polêmica é a rejeição de um Estado palestino, ideia central das negociações de paz desde os Acordos de Oslo (1993) e solução quase unanimemente aceita no mundo como a mais plausível.
Para o premiê, a Autoridade Nacional Palestina não tem viabilidade como Estado soberano, e uma retirada israelense da Cisjordânia deixaria um vácuo favorável ao grupo islâmico Hamas, que já controla a faixa de Gaza desde 2007.
Netanyahu defende uma "paz econômica" baseada na ideia de áreas comerciais palestinas desconectadas umas das outras. O plano, segundo o premiê, garantiria a segurança de Israel e traria aos palestinos uma prosperidade capaz de diluir a revolta anti-israelense.
Para Netanyahu, muito mais urgente do que negociar com os palestinos é pôr fim ao programa nuclear iraniano, que Israel, mesmo como potência atômica, encara como ameaça existencial. Teerã diz que quer produzir energia, não bombas.
O premiê de Israel vem tentando transpor o foco das atenções no Oriente Médio da questão palestina para o Irã e aposta no medo que a maioria dos governos árabes têm do rival persa para costurar uma frente regional contra Teerã.
"Netanyahu acredita que Israel realmente não pode conceder muito aos palestinos enquanto houver essa ameaça iraniana pendente", diz Elliot Abrams, ex-vice conselheiro de segurança nacional de Bush. O argumento, afirma Abrams, é que o Irã fomenta boa parte das manobras anti-Israel.
A abordagem de Obama está na contramão da israelense. Pelos cálculos do americano, que assumiu em janeiro com a promessa de reverter a política confrontativa do antecessor George W. Bush, criar um Estado palestino ajudaria a criar uma atmosfera regional mais favorável para conter o Irã.
A estratégia de Israel também é questionada por Marc Lynch, da revista "Foreign Policy". "É importante caminhar rumo à solução de dois Estados por seu próprio mérito, e não para ajudar a resolver o problema do Irã", escreveu.
Netanyahu é visto como o maior obstáculo potencial aos planos de Obama para o Oriente Médio, que incluem receber os presidentes palestino e egípcio neste mês e uma viagem ao Egito em junho para pronunciar um discurso ao mundo islâmico tido como histórico.
O americano também demonstrou clara intenção de se reaproximar de Teerã. Num caso raro nas relações israelo-americanas, que chegaram ao seu auge sob Bush, Obama dias atrás teve de despachar um emissário a Jerusalém para pressionar Israel a engavetar planos de um ataque ao Irã.
Mas o analista palestino Bashir Bashir, da Universidade Hebraica de Jerusalém, vê o descompasso com cautela.
"Há divergências, mas não se deve superestimá-las", diz Bashir, que acha precipitado apostar num racha entre os aliados. Segundo ele, Obama, embora apoie dois Estados, não detalhou ainda os contornos de sua política para os palestinos.


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