|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Netanyahu abranda discurso antes de visita
No Egito, ele disse buscar paz com a "grande nação árabe'; para analistas, ele não pode se dar ao luxo de confronto aberto com Obama
Em entrevista, ministro da Defesa israelense diz que premiê está pronto para "processo" que permita "dois Estados para dois povos"
Hazem Bader/France Presse
|
|
Colono israelense em Hebron, Cisjordânia; assentamentos são uma das questões mais polêmicas
DA REPORTAGEM LOCAL
DE NOVA YORK
Numa tentativa de atenuar a
expectativa de confrontação
com Barack Obama, o governo
do premiê Binyamin Netanyahu vem adotando nos últimos
dias um discurso mais conciliador em relação aos planos da
Casa Branca no Oriente Médio.
O objetivo é criar uma atmosfera amigável e evitar atritos no
primeiro encontro com o popular presidente americano, que
exige de Netanyahu apoio à
criação de um Estado palestino
e rejeita -ao menos por enquanto- um ataque ao Irã.
Ontem, em entrevista à TV, o
ministro da Defesa do país,
Ehud Barak, abrandou o tom de
seu governo em relação à solução de dois Estados. Ele afirmou "acreditar" que Netanyahu "está pronto para um processo cuja meta seja dois Estados para dois povos".
O esforço retórico já havia sido percebido na visita que o
próprio Netanyahu fez na segunda ao Egito, único país árabe, ao lado da Jordânia, com
quem Israel tem relações normais. Num tom que destoa do
discurso habitual, o premiê elogiou a "grande nação árabe" e
disse buscar a paz com "todos".
O aceno estava direcionado
tanto ao Cairo, como parte dos
planos israelenses de erguer
uma frente regional contra o
Irã, quanto para Washington.
O tom conciliador está, ainda, em declarações da diplomacia israelense. "Sempre surgem
relatos de supostas divergências entre Israel e EUA quando
mudam os governos", desconversa Raphael Singer, porta-voz da Embaixada em Brasília.
Citando Menachem Begin,
que selou a paz com o Egito
(1979), Ariel Sharon, que pôs
fim à ocupação de Gaza (2005),
e o próprio Netanyahu, que, em
seu primeiro mandato como
premiê, retirou o Exército de
parte de Hebron (1998), Singer
sugere que governos de direitistas historicamente fizeram
mais concessões aos árabes que
os de esquerda.
O discurso apaziguador também se delineia por expressões
que assessores de Netanyahu
tentam semear às vésperas do
encontro com Obama.
Após pregar um plano de
"paz econômica", o governo do
premiê recentemente incluiu
em seu discurso projetos de
"discussão política" e "autonomia" para os palestinos.
Para o analista israelense
Barry Rubin, próximo do governo, quem vê divergências
entre Obama e Netanyahu não
conhece as "posições reais dos
dois líderes". Já segundo o
cientista político palestino Bashir Bashir, Netanyahu está
amainando o discurso por não
poder se dar ao luxo de confrontar Obama, que goza de
grande simpatia externa e interna -foi votado por três
quartos dos judeus americanos,
segundo pesquisas.
"Mesmo que as posições [do
premiê] não mudem, ele usará
um jogo de linguagem para ter a
confiança de Obama", prevê.
Amir Oren, analista do jornal
"Haaretz", avalia que as pressões americanas podem até
acabar curvando Netanyahu.
"Em seu primeiro mandato
[como premiê], ele mostrou
flexibilidade -ou propensão a
mudar de ideia- quando pressionado, dependendo do ponto
de vista", ironiza o analista, que
prevê acenos como a remoção
de alguns postos de controle
militar na Cisjordânia.
Para Oren, se o americano
apresentar diretamente à população israelense um plano de
paz razoável, o premiê não terá
escolha a não ser endossá-lo.
James F. Hoge, editor da
"Foreign Affairs Magazine", arrisca um palpite: "Netanyahu
não ganhará nada se tentar sair
do encontro sem uma posição
construtiva. Seria burrice, e nenhum dos dois é burro".
(SAMY ADGHIRNI E ANDREA MURTA)
Texto Anterior: EUA e Israel confrontam ideias opostas para a paz Próximo Texto: Análise: Obama terá de exercer pressão sobre Israel Índice
|