São Paulo, domingo, 17 de maio de 2009

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Netanyahu abranda discurso antes de visita

No Egito, ele disse buscar paz com a "grande nação árabe'; para analistas, ele não pode se dar ao luxo de confronto aberto com Obama

Em entrevista, ministro da Defesa israelense diz que premiê está pronto para "processo" que permita "dois Estados para dois povos"

Hazem Bader/France Presse
Colono israelense em Hebron, Cisjordânia; assentamentos são uma das questões mais polêmicas

DA REPORTAGEM LOCAL
DE NOVA YORK

Numa tentativa de atenuar a expectativa de confrontação com Barack Obama, o governo do premiê Binyamin Netanyahu vem adotando nos últimos dias um discurso mais conciliador em relação aos planos da Casa Branca no Oriente Médio.
O objetivo é criar uma atmosfera amigável e evitar atritos no primeiro encontro com o popular presidente americano, que exige de Netanyahu apoio à criação de um Estado palestino e rejeita -ao menos por enquanto- um ataque ao Irã.
Ontem, em entrevista à TV, o ministro da Defesa do país, Ehud Barak, abrandou o tom de seu governo em relação à solução de dois Estados. Ele afirmou "acreditar" que Netanyahu "está pronto para um processo cuja meta seja dois Estados para dois povos".
O esforço retórico já havia sido percebido na visita que o próprio Netanyahu fez na segunda ao Egito, único país árabe, ao lado da Jordânia, com quem Israel tem relações normais. Num tom que destoa do discurso habitual, o premiê elogiou a "grande nação árabe" e disse buscar a paz com "todos".
O aceno estava direcionado tanto ao Cairo, como parte dos planos israelenses de erguer uma frente regional contra o Irã, quanto para Washington.
O tom conciliador está, ainda, em declarações da diplomacia israelense. "Sempre surgem relatos de supostas divergências entre Israel e EUA quando mudam os governos", desconversa Raphael Singer, porta-voz da Embaixada em Brasília.
Citando Menachem Begin, que selou a paz com o Egito (1979), Ariel Sharon, que pôs fim à ocupação de Gaza (2005), e o próprio Netanyahu, que, em seu primeiro mandato como premiê, retirou o Exército de parte de Hebron (1998), Singer sugere que governos de direitistas historicamente fizeram mais concessões aos árabes que os de esquerda.
O discurso apaziguador também se delineia por expressões que assessores de Netanyahu tentam semear às vésperas do encontro com Obama.
Após pregar um plano de "paz econômica", o governo do premiê recentemente incluiu em seu discurso projetos de "discussão política" e "autonomia" para os palestinos.
Para o analista israelense Barry Rubin, próximo do governo, quem vê divergências entre Obama e Netanyahu não conhece as "posições reais dos dois líderes". Já segundo o cientista político palestino Bashir Bashir, Netanyahu está amainando o discurso por não poder se dar ao luxo de confrontar Obama, que goza de grande simpatia externa e interna -foi votado por três quartos dos judeus americanos, segundo pesquisas.
"Mesmo que as posições [do premiê] não mudem, ele usará um jogo de linguagem para ter a confiança de Obama", prevê.
Amir Oren, analista do jornal "Haaretz", avalia que as pressões americanas podem até acabar curvando Netanyahu.
"Em seu primeiro mandato [como premiê], ele mostrou flexibilidade -ou propensão a mudar de ideia- quando pressionado, dependendo do ponto de vista", ironiza o analista, que prevê acenos como a remoção de alguns postos de controle militar na Cisjordânia.
Para Oren, se o americano apresentar diretamente à população israelense um plano de paz razoável, o premiê não terá escolha a não ser endossá-lo.
James F. Hoge, editor da "Foreign Affairs Magazine", arrisca um palpite: "Netanyahu não ganhará nada se tentar sair do encontro sem uma posição construtiva. Seria burrice, e nenhum dos dois é burro".
(SAMY ADGHIRNI E ANDREA MURTA)


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