São Paulo, domingo, 17 de maio de 2009

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análise

Obama terá de exercer pressão sobre Israel

ROULA KHALAF
DO "FINANCIAL TIMES"

Os presidentes dos EUA sempre declaram seu engajamento com a paz no Oriente Médio, mas raramente fazem uso de sua influência para que ela se concretize. É por isso que o chamado processo de paz virou uma brincadeira de faz-de-conta, jogada convenientemente para evitar aquilo que supostamente deveria realizar.
George W. Bush era mestre nesse jogo. Foi o primeiro líder dos EUA a declarar inequivocamente que os palestinos terão seu próprio Estado independente. Mas aderiu a muitas das políticas israelenses que solaparam a criação desse Estado.
O Oriente Médio talvez tenha uma surpresa desta vez. Apesar de muitas pessoas na região ainda não acreditarem nisso, Barack Obama compreende genuinamente a urgência de se resolver o conflito árabe-israelense.
O governo atual parece estar convencido de que o fim do conflito interessa não só às partes envolvidas, mas também, crucialmente, aos EUA. É isso que torna tão dramático o primeiro encontro entre Obama e Binyamin Netanyahu. A reunião marcará o início de uma onda de diplomacia em torno de questões de primeira importância, algo que vai moldar a estratégia dos EUA.
Hoje em Washington não se fala mais em processo de paz, mas em paz. A questão não é se os EUA são mais favoráveis a um caminho palestino ou a um caminho sírio -Obama quer tudo, num pacote de paz abrangente.
Enquanto a política externa de Bush era baseada na fantasia -ela presumia que a mudança de regime em Bagdá pudesse resolver milagrosamente o conflito árabe-israelense-, a postura do novo governo está enraizada nas realidades práticas. Obama considera, com razão, que a paz no Oriente Médio poderá difundir suas virtudes, enfraquecendo os extremistas islâmicos e restaurando a imagem alquebrada dos EUA no mundo muçulmano.
Mas boas intenções não passam de um ponto de partida. Para que a nova visão dos EUA se concretize, Obama vai precisar falar com Netanyahu sem rodeios e transmitir ao público israelense a mensagem de que a pressão atende aos melhores interesses do Estado judaico.
Netanyahu dirá que a paz deve começar com o bloqueio do programa nuclear do Irã. Enfatizará que a resposta está em melhorar o padrão de vida dos palestinos, não em lhes dar um Estado próprio.
Obama, porém, deve deixar claro que as conversações precisam tratar do teor substancial do conflito -as fronteiras do Estado palestino, o destino dos refugiados palestinos e de Jerusalém- e que essas conversações não podem ter prazo indefinido.
Netanyahu não vai gostar -e seus adversários árabes também vão opor resistência. Mas a disputa entre palestinos e israelenses é demasiado profunda para que se possa deixar as duas partes resolver suas diferenças por conta própria.


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