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Irã aceita acordo nuclear, afirma Amorim
Anúncio oficial deve ser feito hoje após encontro trilateral entre Lula, Ahmadinejad e primeiro-ministro da Turquia
Chanceler turco confirma acerto, que envolveria o envio de urânio iraniano à Turquia; EUA, que pregam sanções, não comentam
Ricardo Stuckert/Presidência da República
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Lula e Ahmadinejad seguram quadro dado de presente pelo presidente iraniano ao colega brasileiro, celebrando amizade entre países, durante encontro em Teerã
MARCELO NINIO
SAMY ADGHIRNI
ENVIADOS ESPECIAIS A TEERÃ
Após quase 20 horas de negociação em Teerã, Brasil, Turquia e Irã finalizaram as bases
de um acordo para romper o
impasse em torno do programa
nuclear iraniano.
O acordo deve ser anunciado
hoje, quando os chefes de governo dos três países se reunirão na capital iraniana.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, confirmou à Folha que uma fórmula
foi alcançada para implementar a proposta da AIEA (Agência Internacional de Energia
Atômica), que tem o objetivo
de garantir que o Irã não produza armas atômicas.
Ao final de um dia de negociações intensas entre os três
países, que obrigaram o chanceler brasileiro a faltar a dois
compromissos da visita do presidente Lula ao Irã, Amorim
não escondeu que um acordo
estava costurado.
"Há pequenas diferenças de
linguagem. A fórmula está razoavelmente pronta", disse o
chanceler, que em seguida,
chegou a receber os parabéns
pelo sucesso da negociação do
subsecretário-geral para Assuntos Políticos do Itamaraty,
Roberto Jaguaribe.
A conclusão do acordo foi
confirmada pelo chanceler turco, Ahmet Davutoglu. Questionado pela Folha, ele foi categórico. "Temos um acordo."
O chanceler se referia a uma
proposta negociada desde o
ano passado pela AIEA para
conciliar a preocupação das potências ocidentais acerca do
programa nuclear iraniano
com o direito, assegurado pela
ONU, de o Irã enriquecer urânio para fins pacíficos.
O plano prevê que o Irã envie
parte de seu estoque de urânio
pouco enriquecido para outro
país e receba em troca o combustível enriquecido a até 20%,
nível adequado para uso médico, mas não para a bomba.
Temendo não receber o urânio de volta, Teerã impôs condições: que a troca fosse simultânea e acontecesse em território iraniano. As potências rejeitaram as exigências e ergueram
uma frente diplomática no
Conselho de Segurança (CS)
para impor uma quarta rodada
de sanções da ONU ao Irã.
Brasil e Turquia uniram esforços no CS, onde ocupam vagas rotativas, para ressuscitar o
plano da ONU.
Detalhes do acordo
A Folha obteve uma cópia do
esboço de acordo trilateral que
deve ser finalizado hoje em café da manhã entre Lula, Ahmadinejad e o premiê da Turquia,
Recep Tayyip Erdogan, que
embarcou às pressas para o Irã
na noite de ontem depois de ser
informado sobre o êxito das
conversas.
Pelo texto, o Irã enviaria
1.200 quilos de seu urânio pouco enriquecido à Turquia. Em
troca, EUA, Rússia e França se
comprometeriam a entregar
120 quilos de combustível necessário para o reator de pesquisa de Teerã.
O texto não deixa claro se essa troca seria simultânea, como
Teerã queria, ou não.
Ontem, a Casa Branca confirmou à Folha ter recebido informações sobre o acordo, mas
um porta-voz disse que seria
preciso mais tempo para saber
o que exatamente foi oferecido
antes de fazer qualquer avaliação. Já o Departamento de Estado afirmou que só falaria sobre o assunto hoje.
Antes da viagem, os EUA haviam demonstrado ver com ceticismo a possibilidade de que
Lula conseguisse um acordo.
O Irã tampouco confirmou
que o acordo estivesse fechado,
mas, questionado sobre o tema,
o chanceler iraniano Manoucher Mottaki, respondeu: "Algo
bom está no forno".
O bom humor esbanjado na
madrugada pelas autoridades
envolvidas no acordo destoou
da tensão que dominou o dia.
Lula saiu com ar preocupado
das três reuniões que teve com
Ahmadinejad -uma delas com
a presença do líder supremo Ali
Khamenei, detentor da palavra
final sobre todos os assuntos
iranianos.
Em seu único pronunciamento, durante encontro empresarial, o presidente brasileiro esteve cabisbaixo e evitou as
improvisações frequentes em
suas falas.
Amorim esteve ausente da
maior parte da agenda. Ele esteve das 7h à meia noite em
conversas com Said Jalili, principal negociador iraniano, e o
chanceler turco.
Além da questão nuclear,
Brasil e Irã assinaram diversos
acordos de cooperação técnica
e econômica. Um deles prevê a
concessão de 1 bilhão em cinco anos em crédito da Caixa
Econômica Federal para financiar importadores iranianos de
produtos brasileiros.
Colaborou ANDREA MURTA, de Washington
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