São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 2011

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Onda de protestos preocupa sírios no Brasil

CAROLINA MONTENEGRO
DE SÃO PAULO

À distância, imigrantes sírios e descendentes no Brasil acompanham com apreensão os protestos contra o ditador Bashar Assad, que se espalham pela Síria.
As manifestações duram mais de dois meses e fizeram 850 mortos, segundo a ONU.
Estima-se que o Brasil abrigue cerca de 12 milhões de árabes e descendentes, 5 milhões de origem síria -2 milhões em São Paulo.
"A maioria da sociedade síria deseja mudanças pacíficas. Mas a cada dia que passa, mais pessoas pedem a queda do governo", afirma Tammam Daaboul, editor de um portal de notícias árabes com sede em Damasco e escritório em São Paulo.
"No início, a sociedade estava testando o governo, saindo às ruas por reformas", diz. Com o avanço dos protestos, porém, cresce a repressão e a insatisfação popular, em um ciclo que alimenta as manifestações.
Crises econômicas e a concentração de poder político nas mãos de uma elite contribuíram para moldar a Síria atual. "A bomba-relógio já estava formada nos países árabes. A corrupção endêmica virou um problema de segurança na região", afirma.
As revoltas árabes na Tunísia e Egito foram a fagulha que faltava à equação.

INCERTEZAS
Um jovem brasileiro que preferiu não ter sua identidade revelada contou à Folha como estão vivendo seus parentes em Homs, terceira maior cidade da Síria. "Durante os protestos da sexta-feira eles ficaram trancados em casa. Todos estão com muito medo da violência. Meus tios pensam em fugir para o Líbano", diz. Do Brasil, a família segue as notícias na TV e internet e mantém contato com os parentes sírios por um celular.
"Todos tememos por nossos amigos e familiares que estão na Síria, mas o medo do futuro é ainda maior. É uma incógnita o que será do país se houver uma desestabilização. A preocupação das minorias [xiitas e católicos] é grande", explica Daaboul.
Para Eduardo Felício Elias, presidente da Fearab (Federação de Entidades Árabes Brasileiras do Estado de São Paulo), a maioria dos sírios quer reformas e não a queda do governo. "O presidente Bashar [Assad] é a única pessoa capaz de fazer as reformas que a Síria precisa", diz.
"O país está sendo atacado por mercenários estrangeiros", afirma ecoando o discurso oficial do governo sírio. "Acredito que em uns dez dias seja resolvida esta situação. Ou piore de vez, ninguém sabe. Quem imaginaria o que seria na Tunísia?"
Em 29 de abril, um ato em solidariedade aos protestos reuniu cem pessoas na avenida Paulista, em São Paulo.


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