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China sofre pressão para ser potência "responsável"
Olimpíada de 2008 é usada para forçar Pequim a ajudar a conter massacre no Sudão
EUA e Banco Mundial dizem estar preocupados com a maneira como a China vem usando o poder econômico, especialmente na África
GUY DINMORE
DO "FINANCIAL TIMES", EM
WASHINGTON
A atriz americana Mia Farrow lançou na quarta-feira uma
campanha chamando a atenção
do mundo para as Olimpíadas
de Pequim em 2008, com o objetivo de fazer pressão sobre a
China para que o país use sua
influência e impeça o Sudão de
alimentar o conflito em Darfur.
Embora a campanha "Sonho
para Darfur" não peça especificamente o boicote das Olimpíadas, ela acontece num momento delicado para a imagem da
China nos EUA, após controvérsias em torno da exportação
de rações falsas e letais para
animais de estimação.
Mia Farrow disse que a China está "subscrevendo o genocídio" em Darfur, apontando
para as vendas de armas de Pequim ao Sudão e a aquisição de
petróleo sudanês pela China.
A administração Bush tem
elogiado publicamente as intervenções recentes da China
nos esforços diplomáticos que
levaram o Sudão a aprovar o
envio de uma força internacional de da paz. Nos bastidores,
porém, segundo um alto funcionário da administração, é
travada "uma discussão muito
viva" sobre a natureza da "crescente pegada chinesa" na África e em outras regiões.
A discussão trata de se a China está ou não se comportando
como "parte interessada responsável", a frase empregada
pela primeira vez pelo então vice-secretário de Estado Robert
Zoellick em setembro de 2005.
De acordo com o funcionário,
algumas pessoas do governo
americano ficaram agradavelmente surpresas pelo fato de a
liderança chinesa não ter tachado o desafio lançado por
Zoellick de manifestação de arrogância. "Eles [os chineses]
não querem ser vistos fora do
cenário internacional. Querem
ser participantes respeitados",
disse o funcionário.
Pressão eficaz
Ele observou especificamente que a campanha movida por
celebridades vinculando as
Olimpíadas de 2008 a Darfur já
motivou a China a agir, em
abril, com o despacho de um
enviado especial ao Sudão. A
China também concordou com
uma proposta dos EUA de contribuir com engenheiros militares para a força conjunta da
ONU e União Africana, composta de 17 mil soldados, que
Cartum disse na terça-feira ter
aceito, em linhas gerais.
Do lado positivo, autoridades
"pró-desenvolvimento da África" na administração Bush, especialmente no Departamento
de Estado, vêem com olhar favorável o crescente papel econômico da China na África, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento de infra-estrutura como estradas e
telecomunicações.
A investida sobre os recursos
naturais africanos por parte da
China, sedenta de petróleo e
metal, parece ter sido seriamente analisada em Washington alguns anos atrás, disseram
autoridades, mas, desde então,
saiu do radar americano, na
medida em que a atenção dos
EUA na África está concentrada no contraterrorismo.
Mesmo assim, autoridades
dos EUA e do Banco Mundial
dizem estar preocupadas com a
maneira como a China vem
usando seu poder financeiro,
especialmente na África, assegurando que empresas chinesas façam ofertas melhores que
suas rivais internacionais em
concorrências para projetos.
O nível crescente de investimentos chineses provocou
uma situação curiosa na qual,
segundo um esboço de relatório do Banco Mundial, a China
hoje faz empréstimos maiores
à África do que o próprio banco.
Autoridades americanas dizem que, pelo fato de fechar negócios com ditadores, a China
tem interesse na sobrevivência
de seus regimes, mas admitem
que Washington faz o mesmo.
"O que chama a atenção nos
últimos 20 anos é que a China
aceitou e aderiu ao sistema internacional e o apóia de muitas
maneiras positivas. De algumas
maneiras, a China é uma potência mais favorável ao status quo
do que nós", comentou Bates
Gill, o próximo diretor do Instituto Estocolmo de Pesquisas
sobre a Paz Internacional.
Tradução de CLARA ALLAIN
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