São Paulo, domingo, 17 de junho de 2007

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China sofre pressão para ser potência "responsável"

Olimpíada de 2008 é usada para forçar Pequim a ajudar a conter massacre no Sudão

EUA e Banco Mundial dizem estar preocupados com a maneira como a China vem usando o poder econômico, especialmente na África

GUY DINMORE
DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON

A atriz americana Mia Farrow lançou na quarta-feira uma campanha chamando a atenção do mundo para as Olimpíadas de Pequim em 2008, com o objetivo de fazer pressão sobre a China para que o país use sua influência e impeça o Sudão de alimentar o conflito em Darfur. Embora a campanha "Sonho para Darfur" não peça especificamente o boicote das Olimpíadas, ela acontece num momento delicado para a imagem da China nos EUA, após controvérsias em torno da exportação de rações falsas e letais para animais de estimação.
Mia Farrow disse que a China está "subscrevendo o genocídio" em Darfur, apontando para as vendas de armas de Pequim ao Sudão e a aquisição de petróleo sudanês pela China. A administração Bush tem elogiado publicamente as intervenções recentes da China nos esforços diplomáticos que levaram o Sudão a aprovar o envio de uma força internacional de da paz. Nos bastidores, porém, segundo um alto funcionário da administração, é travada "uma discussão muito viva" sobre a natureza da "crescente pegada chinesa" na África e em outras regiões.
A discussão trata de se a China está ou não se comportando como "parte interessada responsável", a frase empregada pela primeira vez pelo então vice-secretário de Estado Robert Zoellick em setembro de 2005. De acordo com o funcionário, algumas pessoas do governo americano ficaram agradavelmente surpresas pelo fato de a liderança chinesa não ter tachado o desafio lançado por Zoellick de manifestação de arrogância. "Eles [os chineses] não querem ser vistos fora do cenário internacional. Querem ser participantes respeitados", disse o funcionário.

Pressão eficaz
Ele observou especificamente que a campanha movida por celebridades vinculando as Olimpíadas de 2008 a Darfur já motivou a China a agir, em abril, com o despacho de um enviado especial ao Sudão. A China também concordou com uma proposta dos EUA de contribuir com engenheiros militares para a força conjunta da ONU e União Africana, composta de 17 mil soldados, que Cartum disse na terça-feira ter aceito, em linhas gerais.
Do lado positivo, autoridades "pró-desenvolvimento da África" na administração Bush, especialmente no Departamento de Estado, vêem com olhar favorável o crescente papel econômico da China na África, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento de infra-estrutura como estradas e telecomunicações. A investida sobre os recursos naturais africanos por parte da China, sedenta de petróleo e metal, parece ter sido seriamente analisada em Washington alguns anos atrás, disseram autoridades, mas, desde então, saiu do radar americano, na medida em que a atenção dos EUA na África está concentrada no contraterrorismo.
Mesmo assim, autoridades dos EUA e do Banco Mundial dizem estar preocupadas com a maneira como a China vem usando seu poder financeiro, especialmente na África, assegurando que empresas chinesas façam ofertas melhores que suas rivais internacionais em concorrências para projetos. O nível crescente de investimentos chineses provocou uma situação curiosa na qual, segundo um esboço de relatório do Banco Mundial, a China hoje faz empréstimos maiores à África do que o próprio banco.
Autoridades americanas dizem que, pelo fato de fechar negócios com ditadores, a China tem interesse na sobrevivência de seus regimes, mas admitem que Washington faz o mesmo. "O que chama a atenção nos últimos 20 anos é que a China aceitou e aderiu ao sistema internacional e o apóia de muitas maneiras positivas. De algumas maneiras, a China é uma potência mais favorável ao status quo do que nós", comentou Bates Gill, o próximo diretor do Instituto Estocolmo de Pesquisas sobre a Paz Internacional.


Tradução de CLARA ALLAIN


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