São Paulo, quarta-feira, 17 de junho de 2009

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Obama convoca "czar do Irã", mas mantém discurso neutro

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Mesmo sob pressão de parte dos conservadores, o presidente Barack Obama manteve a neutralidade em relação aos desdobramentos das eleições presidenciais iranianas de sexta. Em entrevista a um TV na noite de ontem, diria mesmo não ver diferenças entre o atual presidente, Mahmoud Ahmadinejad, e o candidato da oposição supostamente derrotado, Mir Hossein Mousavi.
"A diferença entre Ahmadinejad e Mousavi, em termos de política real, pode não ser tão grande como tem sido divulgado", disse o democrata à emissora CNBC. "De qualquer maneira, nós estaremos lidando com um regime iraniano que tem sido historicamente hostil aos EUA, que tem causado problemas na vizinhança e que busca armas nucleares."
Ainda assim, num gesto que confundiu analistas, o democrata mandou deslocar o diplomata responsável pelo Irã do Departamento de Estado para a Casa Branca. Desde ontem, Dennis Ross, apelidado "czar do Irã", deixa de responder à secretária de Estado, Hillary Clinton, e passa a dar expediente no Conselho de Segurança Nacional, órgão que auxilia o Executivo na formulação de política externa.
A mudança foi interpretada por parte dos analistas como um desejo do presidente de ter um especialista no país ao alcance das mãos, motivado pelo momento delicado pelo qual o Irã passa. Outros acham que a remoção se deu por divergências de Ross com Hillary e dois dos diplomatas mais graduados para a região, George Mitchell e Richard Holbrooke.
Seja como for, a transferência acontece em meio a um crescente coro crítico de políticos republicanos e comentaristas conservadores, liderados por John McCain, que acham que Obama erra ao não se envolver mais diretamente na eleição iraniana ou ao não denunciar a suposta fraude.
"Ele deveria ter dito que esse foi um simulacro de pleito, uma eleição corrompida", disse o senador republicano, candidato derrotado à Presidência no ano passado. "Que o povo iraniano foi privado de seus direitos, que nós os apoiamos em sua luta contra um regime repressor e opressivo."
No "Wall Street Journal", o articulista Bret Stephens expressou pensamento semelhante ao de McCain, ao comparar o que chamou de inércia da atual administração à do republicano Dwight Eisenhower em relação à Hungria, em 1956, quando os EUA decidiram ignorar o movimento popular a favor do primeiro-ministro Imre Nagy, que acabaria executado pelo regime soviético.
"Então como agora, um movimento popular surgiu em torno de uma figura (Imre Nagy na Hungria; Mir Hossein Mousavi no Irã) que um dia foi uma criatura do sistema. Então como agora, foi inflado pela inspiradora retórica americana sobre liberdade e democracia. E, então como agora, o governo virou suas costas ao levante, quando o apoio dos EUA poderia ter feito diferença."
Voltando ao assunto, após encontro com o presidente da Coreia do Sul, Lee Myung-bak, Obama manteve o distanciamento do dia anterior e que vem norteando os pronunciamentos oficiais de sua equipe. Seria contraproducente, disse ele, que os EUA e seu presidente "fossem vistos como se estivessem se imiscuindo" em assuntos internos iranianos.
"Tenho preocupações profundas em relação à eleição, e eu acho que o mundo tem profundas preocupações em relação à eleição", disse. "Nós vimos no Irã alguma reação inicial do líder supremo que indica que ele entende que o povo iraniano tem profundas preocupações em relação à eleição."
Como isso vai se desenrolar nos próximos dias e semanas, concluiu o presidente, "é algo para o povo iraniano decidir".


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