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Obama convoca "czar do Irã", mas mantém discurso neutro
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Mesmo sob pressão de parte
dos conservadores, o presidente Barack Obama manteve a
neutralidade em relação aos
desdobramentos das eleições
presidenciais iranianas de sexta. Em entrevista a um TV na
noite de ontem, diria mesmo
não ver diferenças entre o atual
presidente, Mahmoud Ahmadinejad, e o candidato da oposição supostamente derrotado,
Mir Hossein Mousavi.
"A diferença entre Ahmadinejad e Mousavi, em termos de
política real, pode não ser tão
grande como tem sido divulgado", disse o democrata à emissora CNBC. "De qualquer maneira, nós estaremos lidando
com um regime iraniano que
tem sido historicamente hostil
aos EUA, que tem causado problemas na vizinhança e que
busca armas nucleares."
Ainda assim, num gesto que
confundiu analistas, o democrata mandou deslocar o diplomata responsável pelo Irã do
Departamento de Estado para
a Casa Branca. Desde ontem,
Dennis Ross, apelidado "czar
do Irã", deixa de responder à
secretária de Estado, Hillary
Clinton, e passa a dar expediente no Conselho de Segurança
Nacional, órgão que auxilia o
Executivo na formulação de
política externa.
A mudança foi interpretada
por parte dos analistas como
um desejo do presidente de ter
um especialista no país ao alcance das mãos, motivado pelo
momento delicado pelo qual o
Irã passa. Outros acham que a
remoção se deu por divergências de Ross com Hillary e dois
dos diplomatas mais graduados
para a região, George Mitchell e
Richard Holbrooke.
Seja como for, a transferência acontece em meio a um
crescente coro crítico de políticos republicanos e comentaristas conservadores, liderados
por John McCain, que acham
que Obama erra ao não se envolver mais diretamente na
eleição iraniana ou ao não denunciar a suposta fraude.
"Ele deveria ter dito que esse
foi um simulacro de pleito, uma
eleição corrompida", disse o senador republicano, candidato
derrotado à Presidência no ano
passado. "Que o povo iraniano
foi privado de seus direitos, que
nós os apoiamos em sua luta
contra um regime repressor e
opressivo."
No "Wall Street Journal", o
articulista Bret Stephens expressou pensamento semelhante ao de McCain, ao comparar o que chamou de inércia
da atual administração à do republicano Dwight Eisenhower
em relação à Hungria, em 1956,
quando os EUA decidiram ignorar o movimento popular a
favor do primeiro-ministro Imre Nagy, que acabaria executado pelo regime soviético.
"Então como agora, um movimento popular surgiu em torno de uma figura (Imre Nagy na
Hungria; Mir Hossein Mousavi
no Irã) que um dia foi uma criatura do sistema. Então como
agora, foi inflado pela inspiradora retórica americana sobre
liberdade e democracia. E, então como agora, o governo virou suas costas ao levante,
quando o apoio dos EUA poderia ter feito diferença."
Voltando ao assunto, após
encontro com o presidente da
Coreia do Sul, Lee Myung-bak,
Obama manteve o distanciamento do dia anterior e que
vem norteando os pronunciamentos oficiais de sua equipe.
Seria contraproducente, disse
ele, que os EUA e seu presidente "fossem vistos como se estivessem se imiscuindo" em assuntos internos iranianos.
"Tenho preocupações profundas em relação à eleição, e
eu acho que o mundo tem profundas preocupações em relação à eleição", disse. "Nós vimos no Irã alguma reação inicial do líder supremo que indica que ele entende que o povo
iraniano tem profundas preocupações em relação à eleição."
Como isso vai se desenrolar
nos próximos dias e semanas,
concluiu o presidente, "é algo
para o povo iraniano decidir".
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