São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2008

Próximo Texto | Índice

Israel e Hizbollah trocam cadáveres e prisioneiros

Acordo histórico devolve a israelenses corpos de soldados cuja captura iniciou guerra de 2006

Negociação mediada pela ONU é recebida com pesar em Israel e com euforia no Líbano; assassino de criança está entre os libertados

Ramzi Haidar/France Presse
Samir Kuntar (no centro, à esq.) acena à multidão como herói; libanês indultado foi condenado por morte de israelense e sua filha

DA REDAÇÃO

Israel e a milícia xiita libanesa Hizbollah selaram ontem uma histórica troca de cadáveres e prisioneiros, após meses de negociações mediadas pela Alemanha e sob tutela da ONU.
Israel recebeu os corpos de Ehud Goldwasser e Eldad Regev, capturados pelo Hizbollah em 2006, numa incursão que deu início a um mês de intensos combates no Líbano entre o grupo e as tropas israelenses.
Em troca, o Estado judeu entregou os cadáveres de cerca de 200 militantes libaneses e de outros países árabes que estavam enterrados em cemitérios de combatentes inimigos.
Mas, para Israel, a parte mais difícil do acordo foi a soltura de quatro militantes do Hizbollah e do também libanês Samir Kuntar, da Frente pela Libertação da Palestina, que cumpria prisão perpétua por ter matado, em 1979, um israelense de 28 anos, sua filha, de quatro, e um policial.
Segundo testemunhas, Kuntar, que tinha 16 anos na época, arremessou a cabeça da menina contra uma pedra e esmagou seu crânio com a coronha do rifle. O ataque é considerado pelos israelenses um dos mais brutais da história.
A mãe da menina, tentando silenciar os gritos da outra filha, sufocou-a acidentalmente.

Caixões pretos
A troca começou na manhã de ontem no posto militar da ONU de Rosh Hanikra, na fronteira entre Israel e Líbano. O pontapé inicial da operação foi dado por uma porta-voz do Hizbollah, que admitiu que Goldawasser e Regev estavam mortos -o que nunca havia sido confirmado pelo grupo.
Minutos depois, dois caixões pretos com os corpos dos soldados foram descarregados de uma van e colocados numa picape do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (ICRC), que cruzou a fronteira.
Após cinco horas de exames, peritos israelenses identificaram os corpos como sendo dos dois soldados capturados pelo grupo libanês e ressaltaram que eles estavam em "péssimo estado". O Hizbollah afirmou horas depois que os militares haviam sido mutilados em combate, o que alimentou especulações sobre se eles morreram no front ou no cativeiro.
Os soldados serão enterrados hoje, depois de receberem honrarias oficiais e religiosas.
Embora a maioria dos israelenses fosse favorável a negociações para a recuperação dos corpos, o caso provocou comoção nacional. "Pagamos um alto preço para cumprir com nossas obrigações em relação aos nossos soldados", disse o premiê Ehud Olmert, numa referência ao compromisso de enterrar soldados mortos no front.
Críticos dentro do país ressaltaram o fato de que o Hizbollah, além de sair fortalecido no episódio, não cumpriu a promessa, especificada no acordo, de fornecer um relatório completo sobre Ron Arad, um piloto israelense que está desaparecido desde que seu avião caiu no Líbano, em 1986.
A tristeza israelense contrastou com a euforia que se espalhou pelo Líbano com a volta de Kuntar e dos quatro outros membros do Hizbollah. Tratados oficialmente como "heróis nacionais", embarcaram num helicóptero do governo tão logo foram soltos e chegaram no fim da tarde a Beirute, onde foram recebidos com beijos no rosto pelo presidente Michel Suleiman e até pelo premiê, o pró-Ocidente Fuad Siniora.
Em seguida, os prisioneiros libertados atravessaram parte da capital em cortejo até chegarem a um bairro xiita da periferia, onde uma multidão eufórica os esperava.
Na sua primeira aparição pública em dois anos, o líder supremo do Hizbollah, xeque Hassan Nasrallah, saudou rapidamente os ex-presos, antes de se esconder novamente -ele vive sob ameaça de ser morto por Israel.


Com agências internacionais


Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.