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Israel e Hizbollah trocam cadáveres e prisioneiros
Acordo histórico devolve a israelenses corpos de soldados cuja captura iniciou guerra de 2006
Negociação mediada pela ONU é recebida com pesar em Israel e com euforia no Líbano; assassino de criança está entre os libertados
Ramzi Haidar/France Presse
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Samir Kuntar (no centro, à esq.) acena à multidão como herói; libanês indultado foi condenado por morte de israelense e sua filha
DA REDAÇÃO
Israel e a milícia xiita libanesa Hizbollah selaram ontem
uma histórica troca de cadáveres e prisioneiros, após meses
de negociações mediadas pela
Alemanha e sob tutela da ONU.
Israel recebeu os corpos de
Ehud Goldwasser e Eldad Regev, capturados pelo Hizbollah
em 2006, numa incursão que
deu início a um mês de intensos
combates no Líbano entre o
grupo e as tropas israelenses.
Em troca, o Estado judeu entregou os cadáveres de cerca de
200 militantes libaneses e de
outros países árabes que estavam enterrados em cemitérios
de combatentes inimigos.
Mas, para Israel, a parte mais
difícil do acordo foi a soltura de
quatro militantes do Hizbollah
e do também libanês Samir
Kuntar, da Frente pela Libertação da Palestina, que cumpria
prisão perpétua por ter matado, em 1979, um israelense de
28 anos, sua filha, de quatro, e
um policial.
Segundo testemunhas, Kuntar, que tinha 16 anos na época,
arremessou a cabeça da menina contra uma pedra e esmagou
seu crânio com a coronha do rifle. O ataque é considerado pelos israelenses um dos mais
brutais da história.
A mãe da menina, tentando
silenciar os gritos da outra filha, sufocou-a acidentalmente.
Caixões pretos
A troca começou na manhã
de ontem no posto militar da
ONU de Rosh Hanikra, na fronteira entre Israel e Líbano. O
pontapé inicial da operação foi
dado por uma porta-voz do
Hizbollah, que admitiu que
Goldawasser e Regev estavam
mortos -o que nunca havia sido confirmado pelo grupo.
Minutos depois, dois caixões
pretos com os corpos dos soldados foram descarregados de
uma van e colocados numa picape do Comitê Internacional
da Cruz Vermelha (ICRC), que
cruzou a fronteira.
Após cinco horas de exames,
peritos israelenses identificaram os corpos como sendo dos
dois soldados capturados pelo
grupo libanês e ressaltaram
que eles estavam em "péssimo
estado". O Hizbollah afirmou
horas depois que os militares
haviam sido mutilados em
combate, o que alimentou especulações sobre se eles morreram no front ou no cativeiro.
Os soldados serão enterrados
hoje, depois de receberem
honrarias oficiais e religiosas.
Embora a maioria dos israelenses fosse favorável a negociações para a recuperação dos
corpos, o caso provocou comoção nacional. "Pagamos um alto
preço para cumprir com nossas
obrigações em relação aos nossos soldados", disse o premiê
Ehud Olmert, numa referência
ao compromisso de enterrar
soldados mortos no front.
Críticos dentro do país ressaltaram o fato de que o Hizbollah, além de sair fortalecido no
episódio, não cumpriu a promessa, especificada no acordo,
de fornecer um relatório completo sobre Ron Arad, um piloto israelense que está desaparecido desde que seu avião caiu
no Líbano, em 1986.
A tristeza israelense contrastou com a euforia que se espalhou pelo Líbano com a volta de
Kuntar e dos quatro outros
membros do Hizbollah. Tratados oficialmente como "heróis
nacionais", embarcaram num
helicóptero do governo tão logo
foram soltos e chegaram no fim
da tarde a Beirute, onde foram
recebidos com beijos no rosto
pelo presidente Michel Suleiman e até pelo premiê, o pró-Ocidente Fuad Siniora.
Em seguida, os prisioneiros
libertados atravessaram parte
da capital em cortejo até chegarem a um bairro xiita da periferia, onde uma multidão eufórica os esperava.
Na sua primeira aparição pública em dois anos, o líder supremo do Hizbollah, xeque
Hassan Nasrallah, saudou rapidamente os ex-presos, antes de
se esconder novamente -ele
vive sob ameaça de ser morto
por Israel.
Com agências internacionais
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