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Em dia de luto, feridas reabrem para israelenses
DINA KRAFT
DO "NEW YORK TIMES", EM NAHARIYA
A história de Israel é composta por tragédias familiares
vividas em espaço curto.
Considere o caso dos Haran e
dos Goldwasser, duas famílias
de Nahariya ligadas por mortes
chocantes, há 30 anos, e que
agora voltaram para partir corações maternos. O prisioneiro
responsável pela morte de três
membros da família Haran foi
trocado ontem pelos restos
mortais de um filho dos Goldwasser, tomado como refém na
fronteira libanesa, perto de Nahariya, em 2006.
Pouco depois da meia-noite
de 22 de abril de 1979, Samir
Kuntar, 16, um druso libanês,
desembarcou de um bote em
uma das praias de Nahariya, em
companhia de outros três combatentes da Frente Popular pela Libertação da Palestina.
Os quatro mataram um policial e invadiram um edifício, seqüestrando Danny Haran e sua
filha de quatro anos, Anat. Os
reféns foram levados a uma
praia próxima. Kuntar foi condenado por matar Haran diante da filha, e depois esmagar o
crânio de Anat contra uma rocha usando a coronha do fuzil.
Smadar Haran, a mulher de
Danny, se escondeu em um
canto do apartamento com sua
filha de dois anos e acidentalmente a sufocou e matou, em
seu esforço por impedir que a
menina chorasse.
Agora, passados quase 30
anos, Kuntar sobreviveu por
tempo suficiente para que seu
percurso se cruzasse com o de
outra família, os Goldwasser.
Diante de um pano de fundo
de negociações indiretas de paz
com a Síria, Israel libertou ontem Kuntar e outros terroristas
libaneses em uma troca dos
restos mortais de Ehud Goldwasser e outro reservista do
Exército, Eldad Regev, capturados durante a incursão que
deu início à guerra entre o Hizbollah e Israel, há dois anos.
O acordo suscitou um debate
doloroso em Israel. Ainda que o
país tenha um retrospecto de
trocar grande número de prisioneiros por seus soldados
capturados, a perspectiva de
trocar o mais desprezado prisioneiro do país por cadáveres
causou indignação. Teme-se
que a libertação de Kuntar sirva apenas para encorajar o Hizbollah a retomar os ataques.
O Hizbollah afirma que realizou a incursão de 2006 com o
objetivo de conseguir a libertação de Kuntar, que o grupo xiita
celebra como herói. Tentativas
anteriores de libertá-lo incluíram o seqüestro do navio Achille Lauro, em 1985.
Smadar Haran, a viúva, que
continua a viver em Nahariya,
perto da fronteira libanesa, pediu que o governo tomasse sua
decisão de acordo com os interesses do Estado. "O que aconteceu a mim e à minha família
será sempre parte de minha
dor pessoal, mas isso não significa que eu seja incapaz de ver a
dor alheia, a das famílias Goldwasser e Regev", disse Haran,
que conhece de passagem os
Goldwasser, como todos na cidade parecem se conhecer.
"O que ela fez foi um ato de
nobreza", disse Miki Goldwasser, a mãe do soldado, que conduziu uma campanha agressiva
ante o governo em favor da troca. Ela sabia que as chances
eram modestas, mas mantinha
alguma esperança de que seu filho pudesse voltar vivo.
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