São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em dia de luto, feridas reabrem para israelenses

DINA KRAFT
DO "NEW YORK TIMES", EM NAHARIYA

A história de Israel é composta por tragédias familiares vividas em espaço curto.
Considere o caso dos Haran e dos Goldwasser, duas famílias de Nahariya ligadas por mortes chocantes, há 30 anos, e que agora voltaram para partir corações maternos. O prisioneiro responsável pela morte de três membros da família Haran foi trocado ontem pelos restos mortais de um filho dos Goldwasser, tomado como refém na fronteira libanesa, perto de Nahariya, em 2006.
Pouco depois da meia-noite de 22 de abril de 1979, Samir Kuntar, 16, um druso libanês, desembarcou de um bote em uma das praias de Nahariya, em companhia de outros três combatentes da Frente Popular pela Libertação da Palestina.
Os quatro mataram um policial e invadiram um edifício, seqüestrando Danny Haran e sua filha de quatro anos, Anat. Os reféns foram levados a uma praia próxima. Kuntar foi condenado por matar Haran diante da filha, e depois esmagar o crânio de Anat contra uma rocha usando a coronha do fuzil.
Smadar Haran, a mulher de Danny, se escondeu em um canto do apartamento com sua filha de dois anos e acidentalmente a sufocou e matou, em seu esforço por impedir que a menina chorasse.
Agora, passados quase 30 anos, Kuntar sobreviveu por tempo suficiente para que seu percurso se cruzasse com o de outra família, os Goldwasser.
Diante de um pano de fundo de negociações indiretas de paz com a Síria, Israel libertou ontem Kuntar e outros terroristas libaneses em uma troca dos restos mortais de Ehud Goldwasser e outro reservista do Exército, Eldad Regev, capturados durante a incursão que deu início à guerra entre o Hizbollah e Israel, há dois anos.
O acordo suscitou um debate doloroso em Israel. Ainda que o país tenha um retrospecto de trocar grande número de prisioneiros por seus soldados capturados, a perspectiva de trocar o mais desprezado prisioneiro do país por cadáveres causou indignação. Teme-se que a libertação de Kuntar sirva apenas para encorajar o Hizbollah a retomar os ataques.
O Hizbollah afirma que realizou a incursão de 2006 com o objetivo de conseguir a libertação de Kuntar, que o grupo xiita celebra como herói. Tentativas anteriores de libertá-lo incluíram o seqüestro do navio Achille Lauro, em 1985.
Smadar Haran, a viúva, que continua a viver em Nahariya, perto da fronteira libanesa, pediu que o governo tomasse sua decisão de acordo com os interesses do Estado. "O que aconteceu a mim e à minha família será sempre parte de minha dor pessoal, mas isso não significa que eu seja incapaz de ver a dor alheia, a das famílias Goldwasser e Regev", disse Haran, que conhece de passagem os Goldwasser, como todos na cidade parecem se conhecer.
"O que ela fez foi um ato de nobreza", disse Miki Goldwasser, a mãe do soldado, que conduziu uma campanha agressiva ante o governo em favor da troca. Ela sabia que as chances eram modestas, mas mantinha alguma esperança de que seu filho pudesse voltar vivo.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.