São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2008

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Em dia de festa, libaneses se unem e cantam vitória

TARIQ SALEH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BEIRUTE

Os cinco libaneses indultados por Israel dentro do acordo com o Hizbollah foram recebidos como heróis ontem no Líbano por uma multidão de centenas de milhares de pessoas que lotou as ruas de Dahiyeh, subúrbio xiita de Beirute, para ouvir o líder da milícia xiita celebrar o que vê como vitória.
Em discurso televisionado após breve aparição ao vivo para apresentar os indultados, Hassan Nasrallah prometeu aos libaneses uma nova era contra Israel: "Esta negociação com o inimigo mostrou que foi uma grande vitória libanesa e palestina, um objetivo atingido por toda a resistência. A era de derrotas terminou, estamos agora numa era de conquistas".
Em seu discurso, Nasrallah criticou os demais países árabes por nada fazerem para libertar milhares de militantes palestinos que continuam em prisões israelenses. "A resistência libanesa provou que é a legítima representante da identidade de toda a região e a da luta do povo árabe por sua liberdade", declarou ele.
Antes da celebração, os ex-prisioneiros libaneses Samir Kuntar, Khader Zaidan, Maher Kourani, Mohammed Surour e Hussein Suleiman chegaram em um helicóptero das tropas de paz da ONU para uma cerimônia oficial no aeroporto.
Em outro sinal de que o episódio extrapolou as linhas sectárias e partidárias no país, um porta-voz da Presidência -ocupada pelo recém eleito Michel Suleiman, cristão- definiu o dia como uma "data nacional", celebrada com feriado.
Suleiman, o premiê Fuad Siniora e o presidente do Parlamento, Nabih Berri, os receberam em um tapete vermelho. "A resistência conseguiu uma importante vitória contra o inimigo, trazendo de volta cinco cidadãos libaneses e mostrando ao mundo que a soberania libanesa sempre prevalecerá", declarou o presidente.
A troca de prisioneiros foi vista por analistas como uma ampla vitória política do Hizbollah, que consolidou sua supremacia no Líbano, com forte presença e poder de veto no governo, e também angariando a simpatia de árabes na região.
Para Amal Saad-Ghorayeb, do Centro Carnegie para o Oriente Médio, o governo libanês terá uma difícil tarefa de pôr em sua agenda a questão do arsenal do grupo xiita. "O Hizbollah mandou uma mensagem ao mundo de que Israel conhece apenas a linguagem da força militar. Com os seus objetivos alcançados, os políticos que queriam o desarmamento do grupo ficam enfraquecidos."
Já de acordo com o diretor do departamento de Ciência Política da Universidade Americana de Beirute, Hilal Khashan, o Hizbollah também impôs uma derrota moral para a política dos EUA para a região. "Temos um cenário em que os americanos e seus aliados árabes [como Egito e Arábia Saudita] estão desmoralizados. Prisioneiros árabes foram libertados por um grupo guerrilheiro, coisa que nenhum governo árabe obteve com negociações", disse.
"O Hizbollah pode ainda impor novas derrotas morais para o governo israelense, provocando um conflito como o de 2006. A tensão ainda é grande."


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