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SUCESSÃO NOS EUA / À FLOR DA PELE
Pesquisa mostra um abismo na percepção sobre raça nos EUA
Relações entre grupos é boa para 53% dos brancos contra 29% dos negros, afirma levantamento do "New York Times"
Entre negros, o democrata Barack Obama bate John McCain por 89% a 2%; já entre os brancos, o placar muda para 37% contra 46%
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
A mesma sociedade norte-americana que fez história ao
escolher pela primeira vez um
negro como candidato de um
grande partido à Casa Branca
expõe um abismo nas percepções sobre raça no país.
Pesquisa do jornal "New
York Times" e da rede de TV
CBS mostra que 53% dos brancos dizem que as relações raciais nos EUA são "geralmente
boas" -opinião compartilhada
por apenas 29% dos negros.
Mais: 79% dos brancos dizem
que o país progrediu nessas relações desde os anos 1960, ante
59% dos negros.
A ampla discrepância se
mantém nas questões sobre
convivência e oportunidades
de crescimento. Por exemplo,
negros e brancos, respectivamente, divergem sobre quem
tem mais chance de prosperar
na sociedade norte-americana:
os brancos (63% ante 35%), os
negros (1% a 7%) ou todos eles
em condições de igualdade
(30% a 53%).
A pesquisa ouviu, por telefone, 1.796 americanos adultos de
todo o país, entre 7 e 14 de julho. A margem de erro é de três
pontos percentuais para cima
ou para baixo.
Preocupação exagerada
O resultado é que brancos,
que dizem perceber uma sociedade mais igualitária, criticam
ações afirmativas que ampliem
as oportunidades das chamadas "minorias" raciais.
Programas como políticas de
cotas, para compensar as oportunidades perdidas pela discriminação do passado, são aprovados por 80% dos negros e
apenas 44% dos brancos.
Em uma das maiores discrepâncias da pesquisa, 27% dos
brancos apontam um exagero
na preocupação com os problemas dos negros, entre os quais
só 7% compartilham da percepção. Para 49% dos brancos a
preocupação é correta, e para
48% dos negros, insuficiente.
O contraste de opiniões confirma que a sociedade americana está longe da igualdade, diz
Waldo E. Johnson, Jr., analista
do Centro de Estudos de Raça,
Política e Cultura da Universidade de Chicago.
"Talvez os brancos tenham
mesmo a percepção de que está
tudo bem. Mas cada um responde às perguntas partindo da
própria experiência e fica claro
que negros e brancos nos EUA
não são tratados da mesma forma", afirma ele.
Segundo a pesquisa, 68% dos
negros dizem que já foram descriminados por sua raça; 26%
dos brancos dizem o mesmo.
Eleições
A pesquisa também confirma
a força do candidato democrata, Barack Obama, entre os eleitores negros do país. Nesse grupo, o senador por Illinois bate o
republicano John McCain por
89% a 2% na preferência. Já entre os brancos, o placar muda
para 37% a 46%.
Mesmo sendo, de fato, uma
minoria nos EUA (12,4% da população, ante 74% de brancos,
segundo o Censo de 2006), os
negros terminam por ter grande influência no quadro geral
da pesquisa, em que Obama bate McCain por 45% a 39%.
Os demais tópicos da consulta confirmam maior preferência dos negros pela campanha
dos democratas. A rejeição à
Michelle, mulher de Obama e
também negra, é de 1% no grupo e de 19% entre brancos. Já os
desfavoráveis à Cindy, mulher
de John McCain e branca, é
respectivamente de 16% a 7%.
Setenta por cento dos brancos dizem que os EUA estão
prontos para eleger um presidente negro, ante 65% dos negros. O percentual de eleitores
que não votariam por um presidente negro também está dentro da margem de erro: 6% dos
negros e 5% dos brancos.
"Quando pensar na vitória de
Obama em Iowa [primeiro Estado das eleições prévias, onde
há 93% de brancos] e em outros
Estados, lembre-se de que ele
conseguiu manter a raça por
um bom tempo fora do debate
eleitoral e também de que ele
tem mãe branca", diz Johnson.
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