São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / À FLOR DA PELE

Pesquisa mostra um abismo na percepção sobre raça nos EUA

Relações entre grupos é boa para 53% dos brancos contra 29% dos negros, afirma levantamento do "New York Times"

Entre negros, o democrata Barack Obama bate John McCain por 89% a 2%; já entre os brancos, o placar muda para 37% contra 46%

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

A mesma sociedade norte-americana que fez história ao escolher pela primeira vez um negro como candidato de um grande partido à Casa Branca expõe um abismo nas percepções sobre raça no país.
Pesquisa do jornal "New York Times" e da rede de TV CBS mostra que 53% dos brancos dizem que as relações raciais nos EUA são "geralmente boas" -opinião compartilhada por apenas 29% dos negros.
Mais: 79% dos brancos dizem que o país progrediu nessas relações desde os anos 1960, ante 59% dos negros.
A ampla discrepância se mantém nas questões sobre convivência e oportunidades de crescimento. Por exemplo, negros e brancos, respectivamente, divergem sobre quem tem mais chance de prosperar na sociedade norte-americana: os brancos (63% ante 35%), os negros (1% a 7%) ou todos eles em condições de igualdade (30% a 53%).
A pesquisa ouviu, por telefone, 1.796 americanos adultos de todo o país, entre 7 e 14 de julho. A margem de erro é de três pontos percentuais para cima ou para baixo.

Preocupação exagerada
O resultado é que brancos, que dizem perceber uma sociedade mais igualitária, criticam ações afirmativas que ampliem as oportunidades das chamadas "minorias" raciais.
Programas como políticas de cotas, para compensar as oportunidades perdidas pela discriminação do passado, são aprovados por 80% dos negros e apenas 44% dos brancos.
Em uma das maiores discrepâncias da pesquisa, 27% dos brancos apontam um exagero na preocupação com os problemas dos negros, entre os quais só 7% compartilham da percepção. Para 49% dos brancos a preocupação é correta, e para 48% dos negros, insuficiente.
O contraste de opiniões confirma que a sociedade americana está longe da igualdade, diz Waldo E. Johnson, Jr., analista do Centro de Estudos de Raça, Política e Cultura da Universidade de Chicago.
"Talvez os brancos tenham mesmo a percepção de que está tudo bem. Mas cada um responde às perguntas partindo da própria experiência e fica claro que negros e brancos nos EUA não são tratados da mesma forma", afirma ele.
Segundo a pesquisa, 68% dos negros dizem que já foram descriminados por sua raça; 26% dos brancos dizem o mesmo.

Eleições
A pesquisa também confirma a força do candidato democrata, Barack Obama, entre os eleitores negros do país. Nesse grupo, o senador por Illinois bate o republicano John McCain por 89% a 2% na preferência. Já entre os brancos, o placar muda para 37% a 46%.
Mesmo sendo, de fato, uma minoria nos EUA (12,4% da população, ante 74% de brancos, segundo o Censo de 2006), os negros terminam por ter grande influência no quadro geral da pesquisa, em que Obama bate McCain por 45% a 39%.
Os demais tópicos da consulta confirmam maior preferência dos negros pela campanha dos democratas. A rejeição à Michelle, mulher de Obama e também negra, é de 1% no grupo e de 19% entre brancos. Já os desfavoráveis à Cindy, mulher de John McCain e branca, é respectivamente de 16% a 7%.
Setenta por cento dos brancos dizem que os EUA estão prontos para eleger um presidente negro, ante 65% dos negros. O percentual de eleitores que não votariam por um presidente negro também está dentro da margem de erro: 6% dos negros e 5% dos brancos.
"Quando pensar na vitória de Obama em Iowa [primeiro Estado das eleições prévias, onde há 93% de brancos] e em outros Estados, lembre-se de que ele conseguiu manter a raça por um bom tempo fora do debate eleitoral e também de que ele tem mãe branca", diz Johnson.


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