São Paulo, domingo, 17 de julho de 2011

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Política alimenta crise econômica nos EUA

Especialistas afirmam que um acordo superficial não resolverá problemas, estendendo a dívida e o desemprego

Embora queiram evitar o calote, democratas e republicanos debatem já há meses equilíbrio entre gastos e impostos

Justin Sullivan/Getty Images/France Presse
Centenas de desempregados comparecem a feira de ofertas de vagas em hotel da cidade de São Francisco, na Califórnia

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

A querela política em que se transformou a negociação sobre o limite do endividamento americano agravou a polarização partidária nos EUA e criou divisões até dentro das legendas, com consequências sombrias para a economia, alertam analistas.
Para especialistas dos dois lados do espectro político, um acordo superficial- hipótese mais provável por ora"" não resolverá problemas fundamentais que afligem a economia dos EUA hoje.
Nesse cenário, o deficit não seria contido, o desemprego perduraria, os desajustes no sistema de seguridade social seriam mantidos, a distribuição de renda tenderia a piorar e a confiança do consumidor continuaria baixa, com impacto sobre o consumo, a produção e, consequentemente, o PIB.
"A fragilidade contínua do mercado de trabalho e a epopeia do limite da dívida expõem o duplo problema que enfrentamos: baixo crescimento econômico neste momento e um nível insustentável de dívida para o futuro", escreveu Peter Orszag, hoje na diretoria do Citigroup e ex-diretor do Escritório de Administração do Orçamento do governo Barack Obama.
"Infelizmente, ambos são mais importantes do que o debate sobre política econômica e as previsões oficiais sobre a economia sugerem."
O debate travado nas últimas semanas tem dois propósitos: elevar o teto do deficit público americano, hoje em US$ 14,3 trilhões, para que o país possa tomar mais dinheiro emprestado; e aprovar um pacote de corte de gastos que elimine US$ 4 trilhões dessa conta até 2021.
Republicanos e democratas concordam, ao menos retoricamente, que é urgente elevar o limite da dívida e evitar que os EUA deem calote ""o que pode acontecer se o Congresso não agir até 2 de agosto, quando o cofre seca.
Mas discordam na essência de como reduzir o deficit.
Os republicanos já afirmaram reiteradas vezes, por meio de seu líder na Câmara, John Boehner, que não aceitam "aumentar impostos" ""acabar com o alívio tributário de George W.
Bush, perpetuado por Obama.
Exigem, porém, reduções na verba para Estados e municípios - com impacto negativo sobre o emprego - e cortes drásticos nos programas sociais do governo, os quais o presidente prometeu aceitar contanto que acompanhados por um aumento da receita via impostos e por cortes na Defesa ""são dos EUA, ainda, 42% dos gastos militares mundiais.
Ontem, em seu discurso semanal de rádio, Obama afirmou ter feito "concessões em assuntos importantes" para os democratas para evitar que o país entre em moratória em 2 de agosto. Disse que espera "o mesmo dos republicanos".
"É importante ver as consequências de rejeitar um pacote que preveja, por exemplo, 80% de cortes de gastos e 20% de alta de impostos, pois a dívida que se originará no futuro terá juros que também terão de ser pagos com cortes e impostos", escreve Alan Viard para o centro de estudos conservador American Entreprise Institute. "Tentar proteger o contribuinte hoje é se sabotar. A demora tem custo."
Pouco ajuda que o debate ocorra em véspera de ano eleitoral e tenha tomado ar de campanha, com os pré-candidatos republicanos usando a deixa para acusar Obama de inépcia.
Pesquisas mostram que os eleitores republicanos estão divididos. Segundo o Gallup, 24% dizem que é preciso doses iguais de cortes e impostos, e 41% querem mais cortes, mas aceitam os impostos.


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