São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2004

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REINO UNIDO

Projeto visa impedir que crianças sigam o exemplo dos pais e acabem na cadeia; governo nega estigmatização

Londres vai monitorar filho de criminoso

MARIE WOOLF
DO "INDEPENDENT"

No Reino Unido, os filhos de criminosos serão "identificados" e "acompanhados" pelo governo desde a infância para prevenir a possibilidade de seguirem o exemplo dos pais, enveredando pelo caminho do crime.
Numa ofensiva contra a criminalidade juvenil, o Ministério do Interior britânico prepara um programa que visa impedir que 125 mil filhos de pais presos se juntem tenham o mesmo destino.
A secretária do Policiamento, Hazel Blears, disse estar otimista quanto às chances de o acompanhamento evitar que crianças virem criminosas como seus pais.
"Cerca de 125 mil crianças e adolescentes têm um pai na prisão", disse Blears. "É um fator de risco enorme. Cerca de 65% dessas crianças vão acabar na prisão, elas próprias. Precisamos identificar e acompanhar as crianças que correm risco maior. Podemos prever os fatores de risco que podem conduzir uma criança ao comportamento delinquente."
Blears disse ter consciência de que o plano, baseado em pesquisas que sugerem que os filhos de criminosos têm tendência a acabar na prisão, pode levar à acusação de que essas crianças estariam sendo visadas injustamente.
"Não acho que essas crianças estejam sendo estigmatizadas pelo fato de serem visadas", disse ela. "Podemos intervir ainda na infância e dizer "sua vida pode ser diferente". Queremos dar apoio a esses menores desde a idade mais tenra possível."
Blears vem discutindo com Margaret Hodge, a secretária da Infância, um programa de intervenção precoce na vida dos filhos de condenados.
Ela quer usar métodos utilizados no programa Início Certeiro, do Partido Trabalhista, voltado a crianças menores de cinco anos residentes em áreas carentes, para proporcionar apoio extra aos menores filhos de criminosos.
Essas crianças seriam identificadas pelas autoridades e acompanhadas desde a primeira infância até a adolescência, recebendo apoio extra e ajuda para combater comportamentos "inadequados".
Segundo Blears, os adolescentes cujos pais são criminosos serão monitorados na escola e pelos serviços sociais e receberão apoio extra na escola, além de terem acesso a esportes, teatro e outras atividades extracurriculares.
"Podemos fazer os pais assistirem a aulas para pais. Podemos atrair os adolescentes para artes, esportes e teatro, oferecer a eles alguma coisa na qual possam dar certo. Se você só vai à escola todos os dias e todo o mundo lhe diz que você é lixo, você nunca vai dar certo na vida", disse a secretária.
Blears também defende a repressão à violência nas escolas. Estudos indicam que os alunos que tratam colegas com violência apresentam chance maior de envolver-se com assaltos, roubos de carros e agressões fora da escola. "Acho que não podemos nos dar ao luxo de ignorar esses fatos", disse Blears. "É um pouco como a tolerância zero."
O sistema judiciário deve ajudar os infratores a mudar seus hábitos, inclusive no caso dos dependentes de drogas que roubam para pagar por seu vício, opinou a ministra. Mas, se eles se negarem a mudar, a polícia deve criar um "ambiente hostil" para eles. "Vamos ajudá-lo a mudar sua vida, mas, se você quiser voltar a roubar, vamos estar no seu pé", disse.
Enquanto isso, foi anunciado que crianças de até cinco anos de idade serão criadas na prisão, juntamente com suas mães, na prisão inglesa de Cornton Vale.


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