São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Governo libanês aprova envio de Exército

Decisão de empregar 15 mil soldados no sul do Líbano cumpre resolução do Conselho de Segurança e é bem recebida pelos EUA

Autoridades deixam claro, porém, que as tropas não irão desarmar Hizbollah à força; grupo diz que sua presença não será "visível"


Hussein Malla/Associated Press
Soldado libanês caminha diante de tanques enfileirados em preparação para o envio das tropas ao sul do Líbano, em base do Exército no sul da capital, Beirute


DA REDAÇÃO

O governo do Líbano aprovou ontem o envio de 15 mil soldados do Exército para o sul do país, conforme determina a resolução do Conselho de Segurança aprovada na semana passada. Será a primeira vez em duas décadas que o Exército libanês irá se posicionar ao longo da fronteira israelense.
Os soldados começam a se deslocar para a região ao sul do rio Litani, a cerca de 20 km da fronteira israelense, hoje pela manhã. Ontem, Israel deu início à sua retirada da região e entregou algumas de suas posições à Unifil (força da ONU).
No entanto o gabinete libanês, que conta com dois ministros do Hizbollah, negou que as tropas tenham como função o desarmamento do grupo -apesar de ter emitido uma declaração dúbia, em que afirma que a presença de "quaisquer grupos armados ou autoridade fora da jurisdição do Estado" será proibida. "Concordamos com essa decisão sem reservas", disse o ministro Mohammed Fneish, do Hizbollah.
O premiê Fouad Siniora, em pronunciamento à nação, disse que "a missão do Exército é defender os direitos dos cidadãos, o dever e o direito do Estado de estender sua autoridade por todo o território do país, de modo a que nenhuma arma exista fora de sua autoridade."
Mas o ministro da Informação, Ghazi Aridi, deixou claro que a determinação não inclui o Hizbollah: "Não haverá nenhum confronto com os irmãos do Hizbollah. Não é essa a missão do Exército. Eles [soldados] não vão perseguir ou se vingar. Aliás, nossos irmãos do Hizbollah disseram que, se se encontrassem armas, deixariam que o Exército ficasse a cargo delas", acrescentou.
O presidente Émile Lahoud foi ainda mais incisivo que seus colegas de gabinete: "As armas da resistência [Hizbollah] foram as únicas, de todas as árabes, que tiveram sucesso em confrontar e derrotar Israel. Ninguém pode tirar suas armas, certamente não à força".

Força invisível
Além do desarmamento, outra questão controversa é a retirada do Hizbollah do sul do país. Ontem, um de seus líderes, o xeque Nail Kaouk, disse que o grupo xiita não terá uma "presença militar visível". "No passado, o Hizbollah não tinha uma presença militar visível. Tampouco terá agora."
Os EUA elogiaram o Líbano. "Isso mostra o compromisso de um governo democraticamente eleito de assegurar a paz e sua disposição em atuar segundo a resolução da ONU", disse Gonzalo Gallegos, porta-voz do Departamento de Estado.
Em nota, o Exército de Israel disse ter transferido para a ONU mais de 50% das áreas que ocupava. "O processo será em estágios e está condicionado ao emprego da Unifil e à habilidade do Exército libanês de controlar efetivamente a área."

"Catástrofe"
Ontem, a ministra francesa da Defesa, Michele Alliot-Marie, disse que a França está disposta a liderar a força de paz com 15 mil homens até fevereiro de 2007, desde que ela tenha um mandato claro e força suficiente. O chanceler francês, Philippe Douste-Blazy, está em Beirute discutindo a questão com autoridades libanesas.
"Quando você envia uma força e sua missão não é precisa o suficiente, nem seus recursos são bem adaptados ou grandes o suficiente, isso pode levar a uma catástrofe -mesmo para os soldados que enviamos", disse Alliot-Marie.
A ONU pretende enviar os primeiros 3.000 capacetes azuis ao sul do Líbano dentro de duas semanas. Apesar de muitos países terem manifestado interesse em participar da força, nenhum havia formalizado sua adesão até ontem.
Fontes do governo israelense disseram que o país vetará nações com quem não tenha relações diplomáticas.


Com agências internacionais

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