São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008

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Bolívia supera Colômbia em ação antidroga

Números da ONU mostram aumento menor de plantio ilegal de folha de coca, mas país ainda teme perder ajuda dos EUA

Política que incentiva a produção legal aproximou Morales de militares e estes de cocaleiros; Washington mantém restrições a projeto


FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA AO CHAPARE (BOLÍVIA)

Assistido por dezenas de simpatizantes, Evo Morales toma café da manhã -sopa de peixe, peixe frito, mandioca e coca-cola, servidos por diligentes moças indígenas de tranças e saia rodada. Ao lado dele, estão sindicalistas e comandantes militares do Chapare, região cocaleira no centro da Bolívia que o projetou na política.
A cena, no domingo passado, seria difícil de imaginar há dois anos e meio ou mais, quando o agora presidente boliviano desafiava soldados encarregados de destruir, à força, as plantações de coca na região, num programa pago pelos EUA.
O líder cocaleiro e presidente indígena foi eleito em 2005 defendendo "cocaína zero", mas sim à coca -cuja folha é mascada ou usada para chá no país. Ampliou a área de cultivo legal, de 12 mil hectares para 20 mil hectares, sob grita da Casa Branca, que previa aumento do pó. A Bolívia responde por 10% da droga no mundo, e envia grande parte ao Brasil (leia mais na página ao lado).
Houve aumento da coca ilegal no país andino, mas o governo Morales teve melhor desempenho que o da Colômbia, aliado dos EUA. Segundo a ONU, a área de plantio ilegal cresceu 5% em 2007, e La Paz aumentou a apreensão de pó.
"Agora nos reunimos com os cocaleiros, conversamos para erradicar. Já destruímos 3.800 hectares dos 5.000 da meta deste ano", disse à Folha o comandante da divisão do Exército responsável pelo Chapare, coronel Marvio Antezana, após se despedir de Morales. O presidente estava na chaparenha Villa 14 de Setembro, em Cochabamba, para votar no referendo que o ratificou no cargo.
Embora siga usando o slogan cocaleiro "Viva a coca, morram os ianques!", o presidente manteve a parceria antidrogas com a Casa Branca e comprometeu-se a destruir 5.000 hectares de coca desde que a erradicação não seja forçada.
Em troca, a Bolívia recebeu ajuda antidrogas e participa, ao lado de Colômbia, Peru e Equador, do ATPDEA, programa que beneficia as exportações ao mercado americano por meio da redução de tarifas. O programa expira em dezembro e não é certa sua renovação à Bolívia.
Na terça, David T. Johnson, secretário-assistente no Birô para Questões Internacionais de Narcotráfico e Policiamento dos EUA, visitou La Paz. Elogiou os esforços de Morales, mas questionou a erradicação: "Fica claro que o governo está buscando maneiras criativas para a erradicação. Apesar disso, existe preocupação sobre o divulgado pela ONU sobre o aumento da coca [5%]".
As críticas à Bolívia não servem à Colômbia, onde os EUA investiram US$ 5 bilhões na luta antidrogas e antiguerrilha. A ONU apontou acréscimo de 27% da área colombiana de coca em 2007. Washington atribuiu o número a um ajuste metodológico e elogiou o governo Álvaro Uribe. Bogotá, em desacordo com as cifras, dispensou a medição da ONU em junho.


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