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Bolívia supera Colômbia em ação antidroga
Números da ONU mostram aumento menor de plantio ilegal de folha de coca, mas país ainda teme perder ajuda dos EUA
Política que incentiva a produção legal aproximou Morales de militares e estes de cocaleiros; Washington mantém restrições a projeto
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA AO CHAPARE (BOLÍVIA)
Assistido por dezenas de
simpatizantes, Evo Morales toma café da manhã -sopa de
peixe, peixe frito, mandioca e
coca-cola, servidos por diligentes moças indígenas de tranças
e saia rodada. Ao lado dele, estão sindicalistas e comandantes militares do Chapare, região
cocaleira no centro da Bolívia
que o projetou na política.
A cena, no domingo passado,
seria difícil de imaginar há dois
anos e meio ou mais, quando o
agora presidente boliviano desafiava soldados encarregados
de destruir, à força, as plantações de coca na região, num
programa pago pelos EUA.
O líder cocaleiro e presidente
indígena foi eleito em 2005 defendendo "cocaína zero", mas
sim à coca -cuja folha é mascada ou usada para chá no país.
Ampliou a área de cultivo legal,
de 12 mil hectares para 20 mil
hectares, sob grita da Casa
Branca, que previa aumento do
pó. A Bolívia responde por 10%
da droga no mundo, e envia
grande parte ao Brasil (leia
mais na página ao lado).
Houve aumento da coca ilegal no país andino, mas o governo Morales teve melhor desempenho que o da Colômbia,
aliado dos EUA. Segundo a
ONU, a área de plantio ilegal
cresceu 5% em 2007, e La Paz
aumentou a apreensão de pó.
"Agora nos reunimos com os
cocaleiros, conversamos para
erradicar. Já destruímos 3.800
hectares dos 5.000 da meta
deste ano", disse à Folha o comandante da divisão do Exército responsável pelo Chapare,
coronel Marvio Antezana, após
se despedir de Morales. O presidente estava na chaparenha
Villa 14 de Setembro, em Cochabamba, para votar no referendo que o ratificou no cargo.
Embora siga usando o slogan
cocaleiro "Viva a coca, morram
os ianques!", o presidente manteve a parceria antidrogas com
a Casa Branca e comprometeu-se a destruir 5.000 hectares de
coca desde que a erradicação
não seja forçada.
Em troca, a Bolívia recebeu
ajuda antidrogas e participa, ao
lado de Colômbia, Peru e Equador, do ATPDEA, programa
que beneficia as exportações ao
mercado americano por meio
da redução de tarifas. O programa expira em dezembro e não é
certa sua renovação à Bolívia.
Na terça, David T. Johnson,
secretário-assistente no Birô
para Questões Internacionais
de Narcotráfico e Policiamento
dos EUA, visitou La Paz. Elogiou os esforços de Morales,
mas questionou a erradicação:
"Fica claro que o governo está
buscando maneiras criativas
para a erradicação. Apesar disso, existe preocupação sobre o
divulgado pela ONU sobre o
aumento da coca [5%]".
As críticas à Bolívia não servem à Colômbia, onde os EUA
investiram US$ 5 bilhões na luta antidrogas e antiguerrilha. A
ONU apontou acréscimo de
27% da área colombiana de coca em 2007. Washington atribuiu o número a um ajuste metodológico e elogiou o governo
Álvaro Uribe. Bogotá, em desacordo com as cifras, dispensou
a medição da ONU em junho.
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