São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

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Afeganistão teme violência em 2º turno

Para ministro do Interior do país, grupos políticos podem se enfrentar caso eleição não seja resolvida na quinta-feira

Governo aposta em acordos pontuais com o Taleban para conter a temida onda de ataques; presidente promete cessar-fogo no dia do pleito

Musadeq Sadeq/Associated Press
Pôster retrata presidente-candidato Hamid Karzai (centro) e seus dois vices em evento de apoiadores na Província de Bamiyan

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A CABUL

O ministro do Interior do Afeganistão disse à Folha temer que um eventual segundo turno na eleição presidencial da próxima quinta-feira possa causar violência entre grupos políticos. Por outro lado, o governo anunciou que acordos pontuais com líderes do Taleban talvez consigam deter a prometida onda de ataques visando desestabilizar o pleito.
"Sim, é um risco que consideramos. Temos que pensar em tudo, e seria muito complicado", afirmou Mohammad Hanif Atmar logo após uma rara entrevista coletiva com seu colega titular da Defesa, general Abdul Rahim Wardek, e o chefe do serviço de inteligência do país, Amrullah Saleh.
Apesar de sua fala poder ser vista como terrorismo eleitoral visando ajudar o presidente-candidato Hamid Karzai a obter a reeleição, os serviços secretos ocidentais e o paquistanês têm exatamente a mesma preocupação.
Karzai tem 44% das intenções de voto segundo a mais recente pesquisa, do Instituto Republicano Internacional dos EUA. Falta pouco para os 50% mais um voto que lhe dariam a vitória, mas seu principal rival, Abdullah Abdullah, está em ascensão -já conta com 26% dos votos no levantamento.
Os resultados finais do pleito só serão conhecidos em 17 de setembro, e o segundo turno ocorreria então em 1º de outubro. Tempo suficiente para as facções pashtuns que apoiam Karzai e principalmente as tadjiques que estão com Abdullah se engalfinharem.
Outros atores, além do Taleban com seus até 25 mil militantes, podem se aproveitar da situação. Já há relatos na região norte de que o irascível senhor da guerra uzbeque Abdul Rashid Dostum, reabilitado por Karzai em sua campanha irrestrita por apoios, ameaçaria partidários de Abdullah.
Para os EUA, principais interessados em que a eleição ocorra para poder mostrar que há avanços no Afeganistão, o segundo turno seria desastroso. Primeiro, porque drenaria esforço militar para o pleito.
Segundo, porque veria um aliado do Irã, Abdullah, em posição de força.
Karzai não é mais um protegido de Washington. Os apoios por meio de acordos polêmicos que conquistou formam uma base frágil, porém menos danosa às relações entre ocupados e ocupantes. O real candidato americano, o ex-ministro da Fazenda Ashraf Ghani, é nulo eleitoralmente.

Cessar-fogo unilateral
Seja como for, as três autoridades disseram que a ordem do presidente-candidato Hamid Karzai para um cessar-fogo unilateral na quinta-feira será cumprida pelos 170 mil homens do Exército e polícia afegãos e também pelos 100 mil soldados da Isaf, a força comandada pelos EUA.
"Só iremos reagir se o Taleban atacar. Mas tivemos várias conversas ao longo da semana com líderes ligados ao grupo, e eles prometeram colaborar. Logicamente, só saberemos isso com certeza no dia", afirmou Wardek.
O ataque do Taleban de anteontem a Cabul, no qual um carro-bomba explodiu na frente da sede da Isaf matando sete pessoas e ferindo quase cem, foi tratado como um incidente isolado. "Em seis meses, foi o primeiro ataque bem-sucedido. Nós desbaratamos 62 outros no período. Nunca teremos 100% de certeza numa guerra como esta. Mas nem os EUA, fortes como são, evitaram o 11 de Setembro", disse Atmar.
"Estamos agora em alerta vermelho, mas isso não significa que vamos parar e revistar todos os carros de Cabul. Não é possível e não desejamos, em nome das liberdades civis de nosso povo", afirmou o ministro do Interior, aparentemente sem sarcasmo.
Enquanto eles falavam, a violência continuava no sul afegão. Na noite de sábado, disse o Ministério da Defesa à agência France Presse, 30 integrantes do Taleban foram mortos no noroeste do país. Duas crianças foram feridas em um ataque com foguetes na Província de Helmand. Ontem também foram anunciadas as mortes de mais soldados britânicos, elevando para 204 as baixas do país na guerra.


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