São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

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"Afegãos responderão ao Taleban nas urnas", diz porta-voz eleitoral

Para Noor Muhammad Noor, não existem riscos para pleito presidencial da próxima quinta, só "questões de segurança"

Comparecimento será maior do que nas últimas eleições, afirma; otimismo contrasta, porém, com superproteção a local em que dá a entrevista

DO ENVIADO ESPECIAL A CABUL

Noor Muhammad Noor é um homem otimista. Na meia hora que concedeu à Folha para falar das eleições da qual é porta-voz, não falou nenhuma vez em "risco" ou "fracasso" no pleito.
Para ele, o que há são "questões de segurança". E ele diz acreditar que o povo afegão irá dar sua resposta ao Taleban indo maciçamente às urnas na próxima quinta, quando escolhem presidente e membros de conselhos provinciais (as Assembleias Legislativas locais).
Seu otimismo contrasta com o cenário em que fala: um contêiner refrigerado em uma base militar americana. Só se entra lá após deixar o carro duas barreiras antes do portão e passar por meticulosas revistas, com direito a raio-x de aeroporto.
Além disso, comparando com países em que é um pouco mais transparente o processo eleitoral, alguns detalhes saltam aos olhos: nenhum candidato é obrigado por lei a prestar contas, embora alguns o façam quinzenalmente. A Comissão Eleitoral Independente, um nome que é um oximoro quando se vê onde está sediada, tem uma tarefa gigante à frente.
São 7.000 seções eleitorais, pelo menos 10% com ameaças de fechamento pelo Taleban.
São esperados 250 mil observadores -cerca de mil de fora do país, além dos 255 jornalistas credenciados até ontem.
Há 15,6 milhões de registrados para votar, metade da população. Noor não diz quanto seria "adequado" para fins de legitimidade, mas lembra que no pleito de 2004 quase 60% dos eleitores compareceram -o voto é facultativo. Há 41 candidatos a presidente nas cédulas, mas alguns estão desistindo e o número final deverá ficar em torno de 35. (IG)

 

FOLHA - Quais os riscos reais de o Taleban atrapalhar a eleição?
NOOR -
Nenhum. Não acredito nisso. Nós temos, lógico, questões de segurança no país, mas acho que o povo afegão dará sua resposta indo às urnas em peso.

FOLHA - Mesmo com as ameaças diretas? Vocês não tiveram problemas nas Províncias?
NOOR -
Um de nossos homens foi morto, mas o inquérito para estabelecer se teve a ver com organização da eleição não acabou ainda. Seremos 175 mil trabalhando na eleição. Não vejo o trabalho realmente ameaçado.

FOLHA - Mas veja onde estamos conversando, nesta base.
NOOR -
Isso é uma contingência do momento. Teremos conosco na eleição a polícia, o Exército e as forças estrangeiras. Isso é uma grande garantia.

FOLHA - Por que o 1,5 milhão de refugiados não poderão votar?
NOOR -
Houve dois problemas. Primeiro, a comunidade internacional já está bancando a eleição [estimados US$ 225 milhões], e custaria pelo menos uns US$ 15 milhões a mais para fazer o pleito nos campos de refugiados. Não quiseram pagar. Segundo, não temos garantia de que as pessoas naqueles campos são afegãs, pode haver paquistaneses se passando por afegãos. Tivemos problemas com isso na eleição passada.

FOLHA - E o financiamento de campanha? Como funciona?
NOOR -
Não há limites aqui. Só não permitimos dinheiro das drogas ou vindo do estrangeiro.

FOLHA - Mas quais instrumentos vocês têm para checar isso?
NOOR -
Os candidatos têm de declarar seus gastos quinzenalmente, embora isso não seja obrigatório. Mas quem não declara direito é alvo de uma queixa que outro partido pode fazer à comissão, e aí analisaremos.

FOLHA - Há relatos de candidatos recebendo dinheiro de fora.
NOOR -
Se houver isso, alguém irá denunciar.

FOLHA - Há relatos ainda de fraudes em curso, como duplicatas de registros de eleitores e urnas a serem preenchidas com votos de ausentes.
NOOR -
Não há risco de duplicata, fizemos recontagens e vamos pintar o dedo de quem votou. No caso de outras fraudes, teremos 250 mil observadores, acho que qualquer irregularidade será demonstrada.

FOLHA - Qual sua expectativa de comparecimento?
NOOR -
Não temos limite mínimo, mas espero mais do que no pleito passado [6 milhões entre 11 milhões de eleitores então].


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