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"Afegãos responderão ao Taleban nas urnas", diz porta-voz eleitoral
Para Noor Muhammad Noor, não existem riscos para pleito presidencial da próxima quinta, só "questões de segurança"
Comparecimento será maior do que nas últimas eleições, afirma; otimismo contrasta, porém, com superproteção a local em que dá a entrevista
DO ENVIADO ESPECIAL A CABUL
Noor Muhammad Noor é um
homem otimista. Na meia hora
que concedeu à Folha para falar das eleições da qual é porta-voz, não falou nenhuma vez em
"risco" ou "fracasso" no pleito.
Para ele, o que há são "questões de segurança". E ele diz
acreditar que o povo afegão irá
dar sua resposta ao Taleban indo maciçamente às urnas na
próxima quinta, quando escolhem presidente e membros de
conselhos provinciais (as Assembleias Legislativas locais).
Seu otimismo contrasta com
o cenário em que fala: um contêiner refrigerado em uma base
militar americana. Só se entra
lá após deixar o carro duas barreiras antes do portão e passar
por meticulosas revistas, com
direito a raio-x de aeroporto.
Além disso, comparando
com países em que é um pouco
mais transparente o processo
eleitoral, alguns detalhes saltam aos olhos: nenhum candidato é obrigado por lei a prestar
contas, embora alguns o façam
quinzenalmente. A Comissão
Eleitoral Independente, um
nome que é um oximoro quando se vê onde está sediada, tem
uma tarefa gigante à frente.
São 7.000 seções eleitorais,
pelo menos 10% com ameaças
de fechamento pelo Taleban.
São esperados 250 mil observadores -cerca de mil de fora
do país, além dos 255 jornalistas credenciados até ontem.
Há 15,6 milhões de registrados para votar, metade da população. Noor não diz quanto
seria "adequado" para fins de
legitimidade, mas lembra que
no pleito de 2004 quase 60%
dos eleitores compareceram
-o voto é facultativo. Há 41
candidatos a presidente nas cédulas, mas alguns estão desistindo e o número final deverá
ficar em torno de 35.
(IG)
FOLHA - Quais os riscos reais de o
Taleban atrapalhar a eleição?
NOOR - Nenhum. Não acredito
nisso. Nós temos, lógico, questões de segurança no país, mas
acho que o povo afegão dará sua
resposta indo às urnas em peso.
FOLHA - Mesmo com as ameaças
diretas? Vocês não tiveram problemas nas Províncias?
NOOR - Um de nossos homens
foi morto, mas o inquérito para
estabelecer se teve a ver com
organização da eleição não acabou ainda. Seremos 175 mil trabalhando na eleição. Não vejo o
trabalho realmente ameaçado.
FOLHA - Mas veja onde estamos
conversando, nesta base.
NOOR - Isso é uma contingência do momento. Teremos conosco na eleição a polícia, o
Exército e as forças estrangeiras. Isso é uma grande garantia.
FOLHA - Por que o 1,5 milhão de refugiados não poderão votar?
NOOR - Houve dois problemas.
Primeiro, a comunidade internacional já está bancando a
eleição [estimados US$ 225 milhões], e custaria pelo menos
uns US$ 15 milhões a mais para
fazer o pleito nos campos de refugiados. Não quiseram pagar.
Segundo, não temos garantia
de que as pessoas naqueles
campos são afegãs, pode haver
paquistaneses se passando por
afegãos. Tivemos problemas
com isso na eleição passada.
FOLHA - E o financiamento de campanha? Como funciona?
NOOR - Não há limites aqui. Só
não permitimos dinheiro das
drogas ou vindo do estrangeiro.
FOLHA - Mas quais instrumentos
vocês têm para checar isso?
NOOR - Os candidatos têm de
declarar seus gastos quinzenalmente, embora isso não seja
obrigatório. Mas quem não declara direito é alvo de uma queixa que outro partido pode fazer
à comissão, e aí analisaremos.
FOLHA - Há relatos de candidatos
recebendo dinheiro de fora.
NOOR - Se houver isso, alguém
irá denunciar.
FOLHA - Há relatos ainda de fraudes em curso, como duplicatas de registros de eleitores e urnas a serem
preenchidas com votos de ausentes.
NOOR - Não há risco de duplicata, fizemos recontagens e vamos pintar o dedo de quem votou. No caso de outras fraudes,
teremos 250 mil observadores,
acho que qualquer irregularidade será demonstrada.
FOLHA - Qual sua expectativa de
comparecimento?
NOOR - Não temos limite mínimo, mas espero mais do que no
pleito passado [6 milhões entre
11 milhões de eleitores então].
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