São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

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Justiça do Irã aceita 25 novos réus por protestos pós-pleito

Decisão, que desafia condenação interna e externa, ocorre um dia após Teerã nomear clérigo linha-dura chefe do Judiciário

Paris obtém libertação de ré francesa, que agora aguarda veredicto; presidente do Irã anuncia primeiras mulheres em ministérios desde 1979

DA REDAÇÃO

A Justiça do Irã incorporou ontem 25 novos réus ao julgamento conjunto de opositores acusados de incitar a onda de protestos que se seguiu à reeleição, em junho, do presidente Mahmoud Ahmadinejad. O julgamento, iniciado no dia 1º de agosto, está em sua terceira sessão e tem agora 135 réus.
A decisão de agregar os novos réus ao julgamento desafia as fortes condenações internas e externas de que o regime islâmico foi alvo ao dar início ao processo, inclusive de conservadores -base do presidente- descontentes com a repressão às maiores manifestações oposicionistas em três décadas.
Teerã libertou, porém, a francesa Clotilde Reiss, acusada pela Promotoria de espionagem, informou a Presidência da França. Reiss e uma outra funcionária francesa libertada na semana passada ficarão agora na Embaixada da França no Irã à espera do veredicto.
Durante a repressão aos protestos, pelo menos 20 pessoas morreram, e centenas foram presas. Destas, 300 seguem detidas, segundo cifras oficiais.
Entre os réus no julgamento estão o ex-vice-presidente Mohammad Abtahi -que serviu no governo de Mohammad Khatami (1997-2005)- e opositores reformistas, ligados ao candidato derrotado Mir Hossein Mousavi, além de um acadêmico irano-americano, funcionários das embaixadas francesa e britânica e um jornalista irano-canadense.
Eles são acusados de tentar promover uma "revolução de veludo" em cooperação com potências ocidentais para derrubar o regime islâmico em vigor desde a revolução de 79.
Ahmadinejad disse ontem que "aqueles que falam em mudança cometem um grande erro ao interferir abertamente nos assuntos domésticos iranianos", segundo a agência semioficial Mehr. Foi uma aparente referência ao presidente americano, Barack Obama.
É a primeira vez que altos funcionários e ex-membros do governo e do Legislativo são julgados coletivamente acusados de atuar contra o regime.
Na última sexta, também pela primeira vez desde 79, um grupo de ex-deputados reformistas submeteu à Assembleia dos Especialistas um pedido de destituição do líder supremo, Ali Khamenei. O órgão é o único com poder para destituir Khamenei.
Embora com pouca chance de prosperar, o pedido revela o descontentamento dos reformistas, liderados por Mousavi, com a condução da crise pelo líder supremo.
Khamenei, que apoia Ahmadinejad, rejeitou as alegações de opositores de fraude nas eleições de junho.
A incorporação dos novos réus ocorre um dia após o líder supremo designar o clérigo linha-dura Sadeq Larijani como novo chefe do Judiciário do Irã.
Larijani, irmão do chefe do Parlamento iraniano e próximo a Khamenei, assume com o desafio de responder às acusações de que alguns oposicionistas presos durante a repressão pós-pleito foram torturados até a morte, e outros, violentados.

Mulheres
Ahmadinejad, que apesar dos protestos iniciou seu segundo mandato no dia 5, anunciou a nomeação de três ministras no seu gabinete, as primeiras a chefiar uma pasta do governo na história do regime. Atualmente, há apenas uma mulher em uma das vice-presidências.
O anúncio foi recebido como uma tentativa do presidente de aplacar insatisfações entre o público feminino no momento em que vê crescerem críticas de conservadores.


Com agências internacionais


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