São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 2002

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Urânio brasileiro no Iraque está sob controle, diz agência da ONU

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

O Iraque não está usando urânio adquirido do Brasil no desenvolvimento de armas nucleares, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à ONU.
O dióxido de urânio brasileiro que existe no Iraque foi adquirido legalmente entre 1981 e 1982, num total de 24.260 kg, e foi contado, estocado e está sob o controle da AIEA, que tem monitorado o material desde 1991.
A hipótese de que o Iraque esteja produzindo armas com urânio brasileiro foi sugerida pelo cientista Khidir Hamza, que participou do programa nuclear iraquiano e se exilou depois nos Estados Unidos.
A AIEA desqualificou as alegações do cientista. A seguir, trechos da entrevista do porta-voz da AIEA, Mark Gwozdecky.

Folha - Há alguma procedência nas declarações de Khidir Hamza de que o Iraque está construindo uma bomba com urânio contrabandeado do Brasil?
Mark Gwozdecky -
Nós acreditamos que as declarações do sr. Hamza não são de alguém que tenha autoridade no assunto.

Folha - Por quê?
Gwozdecky -
Porque o sr. Hamza teve apenas um papel limitado no programa nuclear iraquiano, que durou até 1987. Em 1994, ele deixou o Iraque. Nossos inspetores estiveram mais recentemente no país e têm um conhecimento mais íntimo da situação. Nossas informações são mais atualizadas do que as dele. O Iraque importou urânio legalmente de vários países, inclusive do Brasil, de onde vieram 24.260 kg entre 1981 e 1982. Estivemos no Iraque entre 1991 e 1998. O uso do urânio brasileiro até 1991 foi seriamente analisado por nossa agência.

Folha - O Iraque está autorizado a manter esse urânio brasileiro e de outros países?
Gwozdecky -
Sim, segundo as resoluções do Conselho de Segurança. Nós fomos instruídos para ir até lá e neutralizar o programa nuclear. Entre 1991 e 1998, nós confiscamos o urânio e o plutônio enriquecidos, destruímos lugares e equipamentos. Mas o Conselho de Segurança não nos pediu que o urânio natural e pouco enriquecido fosse confiscado, porque, desde que ele esteja sob controle dos inspetores, não é considerado um problema. É o caso do urânio do Brasil.

Folha - Por que não é um problema?
Gwozdecky -
Porque o Iraque levaria muito tempo para transformar esse material em urânio enriquecido apropriado para o uso em armas.

Folha - Em que condições o Iraque comprou o urânio do Brasil?
Gwozdecky -
Foi uma compra legal, porque naquela época ninguém suspeitava que o Iraque estivesse desenvolvendo um programa nuclear.

Folha - O sr. acha que o Iraque está construindo uma arma atômica?
Gwozdecky -
Nós somos uma agência técnica. Não damos opiniões, não especulamos. Nós levamos nossas conclusões ao Conselho de Segurança baseados em fatos e fortes evidências. Até que tenhamos uma inspeção aprofundada, o que posso dizer é que nós não sabemos.


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