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São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2003

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AMÉRICA LATINA

Em encontro com Uribe, presidente brasileiro formaliza proposta para que o Brasil seja sede do encontro

Lula oficializa oferta para diálogo ONU-Farc

Sergio Lima/Folha Imagem
O presidente Lula faz saudação ao sair de hotel depois de reunião com Uribe (dir.), em Cartagena


GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A
CARTAGENA DAS ÍNDIAS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu ontem oficialmente ao presidente colombiano, Álvaro Uribe, o território brasileiro como local neutro para sediar uma reunião entre a guerrilha terrorista Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e diplomatas da ONU.
Uribe aceitou, dando a entender que está disposto a retomar o diálogo interrompido desde fevereiro de 2002, seis meses antes de sua posse. A expectativa de Bogotá é que um encontro entre as Farc e a ONU seja um primeiro passo para pacificar a Colômbia, afetada por quatro décadas de guerra civil.
Lula encontrou-se ontem com Uribe, em Cartagena. Após a reunião, os dois presidentes participaram de uma cerimônia em homenagem aos 40 anos da OIC (Organização Internacional do Café), na mesma cidade.
"A Colômbia tem plena confiança na república irmã; o Brasil está disposto a nos ajudar a fecharmos a fronteira ao narcotráfico, ao terrorismo, ao tráfico de armas e também, quando for o momento, a abrir as portas ao entendimento", disse Uribe.
Lula afirmou que a reunião só ocorrerá no Brasil se e quando o país for acionado oficialmente: "O Brasil só moverá ação a pedido da ONU e da Colômbia. Estou otimista porque a ONU vai se dedicar um pouco mais a essa questão".
Lula disse ainda que a paz na Colômbia interessa à América Latina: "Faremos o que for possível para manter a tranquilidade, a segurança e fortalecer a democracia no continente".
Para o Brasil, há interesse estratégico em uma aproximação da Colômbia com o Mercosul. O país é o principal posto avançado dos EUA no continente, que mantêm tropas e colaboração militar no combate à guerrilha e ao tráfico.
Se conseguir estreitar os laços com a Colômbia, o Brasil em tese ganha poder de fogo em negociações comerciais e políticas -como as da eventual instalação da Área de Livre Comércio das Américas. Lula já havia dito, recentemente, que a Colômbia teria mais a ganhar se se alinhasse ao Brasil.
O assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, afirmou que as negociações para uma reunião entre Farc e ONU no Brasil só poderão ser consideradas "avançadas" quando o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, marcar a data do encontro.
Ficou acertado informalmente entre a diplomacia de ambos os países que, após o aceno da ONU, o Itamaraty seria avisado pela Chancelaria colombiana da intenção. Só então seria marcado o local. Ontem, a manchete do principal jornal colombiano, ""El Tiempo", informava que a reunião ocorreria em Manaus, entre os dias 15 e 31 de outubro. O governo colombiano e Garcia negaram.
Preocupa especialmente à diplomacia brasileira a eventual impressão de que o Brasil está querendo auxiliar as Farc -o PT de Lula é visto em vários círculos como simpático aos guerrilheiros, que têm origem marxista. Daí os cuidados para que fique claro que o país está agindo ""a pedidos".
O assessor afirmou que Annan poderá dar sinal verde ao Brasil, durante a Assembléia Geral da ONU, que foi aberta ontem em Nova York. Lula irá discursar.
Garcia informou ainda que o chanceler Celso Amorim reuniu-se anteontem, em Cartagena, com James Lemoyne, delegado especial da ONU para assuntos referentes à Colômbia.


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