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Europa busca posição
comum em cúpula
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Os líderes políticos da Alemanha, da França e do Reino Unido
concordaram em encontrar-se no
sábado, em Berlim, para buscar
aparar as arestas ainda existentes
entre os três Estados e chegar a
uma posição comum sobre a reconstrução do Iraque.
Trata-se, segundo analistas ouvidos pela Folha, de uma tentativa de evitar uma crise diplomática
como a que precedeu a Guerra do
Iraque, já que o novo projeto de
resolução americano sobre a reconstrução iraquiana, que já está
circulando no Conselho de Segurança (CS) da ONU, não agrada
nem a franceses nem a alemães.
"Haverá um acordo final sobre
o texto, mesmo que alguns países
mantenham certa reserva por
pensar que ele ainda não é o ideal.
Ninguém quer que a "política do
pior" acabe se instalando na ONU.
Todas as partes farão o possível
para chegar a um consenso", analisou Hubert Védrine, ex-chanceler da França (1997-2002).
O governo da Alemanha anunciou ontem que o chanceler (premiê) Gerhard Schröder receberá
o presidente francês, Jacques Chirac, e o premiê britânico, Tony
Blair, em Berlim, para que os três
busquem chegar a uma "posição
comum sobre o Iraque".
Para Anne-Marie Le Gloannec,
do Centro Marc Bloch (Berlim), a
França e a Alemanha perceberam
que sua tomada de posição, no
início deste ano, sobre a possível
invasão do Iraque pela coalizão
anglo-americana foi prejudicial a
um eventual consenso europeu.
"Em janeiro, para marcar os 40
anos do tratado que selou a amizade franco-alemã, os franceses e
os alemães divulgaram sua posição contrária à guerra sem consultar o Reino Unido ou outros
países da União Européia. Assim,
abriram caminho para as graves
divergências diplomáticas que vimos na Europa. Blair, por sua vez,
quer evitar problemas para seu
governo, que já sofre forte pressão
interna", avaliou Le Gloannec.
De fato, a Guerra do Iraque expôs profundas divisões entre os
europeus. Por um lado, a França e
a Alemanha foram dois dos maiores opositores ao conflito, impedindo que a ONU desse sua
anuência formal à invasão do Iraque. Por outro lado, o Reino Unido, a Espanha e a Itália, além da
Polônia e de outros Estados do
Leste Europeu, apoiaram a iniciativa dos EUA.
"Essas divisões só fazem dificultar ainda mais a formação de uma
política externa européia. Não
que a tarefa fosse simples de início, visto que é bastante complexo
harmonizar as idéias de 15 ou de
25 membros de um bloco. É necessário haver vontade política
para enfrentar essas divisões, e isso só ocorrerá quando a França, a
Alemanha e o Reino Unido entrarem em acordo", avaliou Védrine.
Espera-se que a reunião de Berlim possa dar novo alento ao projeto europeu de conceber sua Política Externa e de Segurança Comum (Pesc). Esta, embora crucial, ainda não saiu do papel.
Com as crescentes baixas americanas no Iraque e o alto custo de
sua reconstrução, os EUA esperam que a nova resolução do CS
da ONU sobre o país possa motivar outros Estados a auxiliar seus
esforços. Todavia Paris e Berlim
argumentam que o projeto não
prevê uma rápida entrega de poder aos iraquianos, o que consideram uma condição "sine qua
non" para ajudar Washington.
No sábado, os EUA, a França, o
Reino Unido, a China e a Rússia
(que têm poder de veto no CS)
não puderam chegar a um acordo
sobre a resolução durante uma
reunião ocorrida em Genebra.
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