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São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2003

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Europa busca posição comum em cúpula

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Os líderes políticos da Alemanha, da França e do Reino Unido concordaram em encontrar-se no sábado, em Berlim, para buscar aparar as arestas ainda existentes entre os três Estados e chegar a uma posição comum sobre a reconstrução do Iraque.
Trata-se, segundo analistas ouvidos pela Folha, de uma tentativa de evitar uma crise diplomática como a que precedeu a Guerra do Iraque, já que o novo projeto de resolução americano sobre a reconstrução iraquiana, que já está circulando no Conselho de Segurança (CS) da ONU, não agrada nem a franceses nem a alemães.
"Haverá um acordo final sobre o texto, mesmo que alguns países mantenham certa reserva por pensar que ele ainda não é o ideal. Ninguém quer que a "política do pior" acabe se instalando na ONU. Todas as partes farão o possível para chegar a um consenso", analisou Hubert Védrine, ex-chanceler da França (1997-2002).
O governo da Alemanha anunciou ontem que o chanceler (premiê) Gerhard Schröder receberá o presidente francês, Jacques Chirac, e o premiê britânico, Tony Blair, em Berlim, para que os três busquem chegar a uma "posição comum sobre o Iraque".
Para Anne-Marie Le Gloannec, do Centro Marc Bloch (Berlim), a França e a Alemanha perceberam que sua tomada de posição, no início deste ano, sobre a possível invasão do Iraque pela coalizão anglo-americana foi prejudicial a um eventual consenso europeu.
"Em janeiro, para marcar os 40 anos do tratado que selou a amizade franco-alemã, os franceses e os alemães divulgaram sua posição contrária à guerra sem consultar o Reino Unido ou outros países da União Européia. Assim, abriram caminho para as graves divergências diplomáticas que vimos na Europa. Blair, por sua vez, quer evitar problemas para seu governo, que já sofre forte pressão interna", avaliou Le Gloannec.
De fato, a Guerra do Iraque expôs profundas divisões entre os europeus. Por um lado, a França e a Alemanha foram dois dos maiores opositores ao conflito, impedindo que a ONU desse sua anuência formal à invasão do Iraque. Por outro lado, o Reino Unido, a Espanha e a Itália, além da Polônia e de outros Estados do Leste Europeu, apoiaram a iniciativa dos EUA.
"Essas divisões só fazem dificultar ainda mais a formação de uma política externa européia. Não que a tarefa fosse simples de início, visto que é bastante complexo harmonizar as idéias de 15 ou de 25 membros de um bloco. É necessário haver vontade política para enfrentar essas divisões, e isso só ocorrerá quando a França, a Alemanha e o Reino Unido entrarem em acordo", avaliou Védrine.
Espera-se que a reunião de Berlim possa dar novo alento ao projeto europeu de conceber sua Política Externa e de Segurança Comum (Pesc). Esta, embora crucial, ainda não saiu do papel.
Com as crescentes baixas americanas no Iraque e o alto custo de sua reconstrução, os EUA esperam que a nova resolução do CS da ONU sobre o país possa motivar outros Estados a auxiliar seus esforços. Todavia Paris e Berlim argumentam que o projeto não prevê uma rápida entrega de poder aos iraquianos, o que consideram uma condição "sine qua non" para ajudar Washington.
No sábado, os EUA, a França, o Reino Unido, a China e a Rússia (que têm poder de veto no CS) não puderam chegar a um acordo sobre a resolução durante uma reunião ocorrida em Genebra.


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