São Paulo, sábado, 17 de setembro de 2011

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ANÁLISE

Budista se comporta como um curioso da neurociência

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE

As pessoas se acostumaram com a ideia de que o papel dos líderes religiosos é condenar a falta de preocupação ética da ciência ou, no máximo, ponderar sobre o significado profundo de uma nova descoberta.
O dalai-lama foi mais desapegado em seu encontro com cientistas em São Paulo: comportou-se simplesmente como um curioso da neurociência, alguém que quer entender o que as últimas décadas de pesquisa estão revelando sobre o cérebro.
Em dado momento, ele chegou até a sugerir um desenho experimental para os companheiros de mesa-redonda. Entre duas pessoas que passaram por um coma, uma delas de mente muito ativa antes da doença e outra menos intelectualmente voraz, qual das duas teria capacidades de consciência menos danificadas?
Essa fagulha de curiosidade se mistura com uma determinação férrea de não misturar as estações. "Budismo é para budistas", declarou ele. Seguindo a máxima do paleontólogo americano Stephen Jay Gould (1941-2002), o dalai-lama vê religião e ciência como magistérios separados, ambos capazes de contribuir para o desenvolvimento humano, mas que não devem ser misturados.
Ele tampouco mostra preocupação em fazer da religião a base do que se deve considerar como certo ou errado. Embora tenha exortado os pesquisadores a usar a ciência de forma moral, para criar "indivíduos, famílias e comunidades felizes", ele deixou claro que, na sua opinião, é perfeitamente possível levar uma vida moralmente irrepreensível sem ser religioso.
Nesse ponto, o pensamento do líder budista, curiosamente, acaba ecoando as recentes campanhas de grupos ateus pelo mundo, que defendem, em anúncios em ônibus e outdoors, que "Você pode ser bom sem Deus".
Ou, já que o budismo é uma religião não teísta, que dá para ser bom sem crer em carma ou iluminação.


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