São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Exército investiga a insubordinação de militares que recusaram transportar combustível por falta de segurança

Soldados dos EUA rejeitam missão no Iraque

Jewel Samad/France Presse
Agente de segurança iraquiano observa os estragos em igreja atingida por explosivos em Bagdá


DA REDAÇÃO

O Exército norte-americano abriu inquérito para apurar a insubordinação de uma unidade baseada no Iraque, que, sob a alegação de falta de segurança, recusou-se na quarta-feira a participar de um comboio que transportaria combustível ao norte de Bagdá.
Militares envolvidos disseram a familiares, segundo o "New York Times", que não tomariam parte de uma "missão suicida".
O incidente, que pode ser um sintomático do baixo moral das tropas baseadas em solo iraquiano, envolveu 19 integrantes da 343ª companhia, uma unidade especializada em missões de intendência e operações de retaguarda.
Os insubordinados foram presos por dois dias ao recusarem a missão, que seria a de escoltar caminhões com querosene de aviação de Tallil, onde a unidade está baseada, à cidade de Taji, um subúrbio 23 km ao norte de Bagdá.
A mulher do sargento Michael Butler, 44, disse ter sido acordada na quinta-feira, às 5h30, por um telefonema do Exército no qual a informavam que seu marido estava preso por desobediência a ordens superiores.
Uma soldado, Amber McClenny, 21, telefonou à sua mãe e deixou uma mensagem na secretária eletrônica em que disse ter recusado a missão, porque os caminhões estavam com problemas de manutenção e não eram blindados.
O querosene para aeronaves havia sido inadvertidamente misturado a óleo diesel. A mistura fora recusada por uma base aérea e nada indicava que em Taji uma nova recusa deixaria de ocorrer.
O relatório inicial, segundo o general James Chambers, comandante da região em que o episódio ocorreu, ouvido pelo "Washington Post", indica que "alguns dos 19 soldados se recusaram a participar do comboio".
Um oficial superior de identidade não revelada disse ao "NYT" que 19 soldados foram reunidos na quarta de manhã e informados de que deveriam escoltar o carregamento. O informante disse que o grupo levantou "objeções válidas" quanto à segurança da missão, que não seria acompanhada por helicópteros.
Insubordinação em tempos de guerra é um crime grave, segundo a lei militar, e o inquérito determinará se o crime foi cometido.
Especialistas ouvidos pelo "NYT" disseram que atos de insubordinação eram freqüentes durante a Segunda Guerra e guerras da Coréia e Vietnã. Com o alistamento compulsório, a prioridade de cada soldado era preservar a própria vida. A lógica teria mudado com um Exército como o atual, em que os soldados são profissionais, alistam-se como voluntários e são bem pagos durante o tempo de serviço.
O "NYT" diz não ter certeza de que se trata do primeiro ato de insubordinação entre unidades presentes no Iraque. Acredita, no entanto, que o Exército se esforça para que se interprete o episódio como um fato menos importante. Nota do Exército qualifica o incidente de "ruptura temporária de disciplina" e de "um ato isolado, sendo muito cedo para dizer o que realmente aconteceu".
No mês de agosto, pelos últimos dados disponíveis, soldados norte-americanos foram objeto, em média, de 87 ataques diários. Em setembro, 41 soldados morreram, quase o quádruplo das mortes de setembro do ano anterior.

Reforço britânico
Soldados britânicos estacionados no Iraque poderão ser deslocados para áreas próximas a Bagdá, numa operação que significaria a transformação da missão que eles cumprem naquele país, informou a agência Reuters.
É possível que 650 dos 8.000 britânicos presentes no Iraque passem a ajudar os americanos na luta contra focos de insurgência.
O Ministério da Defesa britânico, segundo a France Presse, qualificou a informação de "especulação". Tropas do Reino Unido estão sobretudo no sul do país.
Um analista da publicação "Janes World Armies" disse que a necessidade de ajuda demonstra o quanto os EUA operando no Iraque acima de seus limites.

Com agências internacionais e o "New York Times"


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