São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2005

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ELEIÇÕES

Descendentes e residentes no Brasil participaram ontem das primárias que escolherão rival do premiê Berlusconi

Itália elege líder da oposição com voto de fora

SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

Italianos residentes no Brasil e descendentes tiveram ontem a chance de votar pela primeira vez nas eleições primárias de uma coalizão política italiana. A Unione, de centro-esquerda, realizou em toda a Itália e em países onde há comunidades italianas a votação que escolherá o adversário do premiê Silvio Berlusconi na próxima corrida eleitoral do país.
Resultados preliminares apontam que o ex-primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Européia Romano Prodi recebeu 75% dos votos nas primárias, que tiveram a participação de 2 milhões de eleitores em território italiano. No sul da Calábria, um candidato foi assassinado quando saía de um centro de votação, à maneira da Máfia da região. Os motivos do crime vão ser investigados.

São Paulo
Em São Paulo, Prodi recebeu 650 votos de um total de 703 totalizados no pleito, realizado ontem no Circolo Italiano, localizado no centro da cidade. O Rio de Janeiro também participou do processo das primárias.
A eleição de ontem ganhou importância depois que pesquisas indicaram a queda de popularidade de Berlusconi, atingido pela má situação econômica no país e por graves escândalos, como o envolvendo o banco central italiano e seu presidente -que teria passado informações privilegiadas em um processo de compra de um banco. O atual premiê também introduziu recentemente uma reforma eleitoral que poderá favorecê-lo no próximo pleito, mas que ainda precisa ser aprovada pelo Senado.
Na capital paulista, os eleitores das primárias da Unione só tiveram de apresentar um documento que comprovasse a ascendência italiana. A participação da comunidade no Brasil foi estimulada por uma lei sancionada em 2002 que permite a detentores da cidadania italiana que votem nas eleições gerais. O próximo pleito, marcado para meados do ano que vem, vai definir a formação do novo Legislativo do país e, por conseguinte, o próximo premiê.
Isso significa que o Parlamento poderá ter representantes de eleitores que nunca pisaram em solo italiano. Eles poderão eleger 12 deputados e três senadores de quatro representações: América do Norte, América do Sul, Europa e resto do mundo.

Extensão da democracia
Sandro Benedetti Isidori, residente há 25 anos no Brasil e representante dos Socialisti Democratici Italiani (SDI) na América Latina, partido que integra a Unione, diz que é importante estender o processo democrático a todos os cidadãos italianos, segundo ele uma prova de tolerância e de esforço de integração dos italianos.
"Vemos que muitos imigrantes não são aceitos na Itália, e os italianos são um povo imigrante", disse Isidori. Ele reconheceu, porém, que poderá haver a participação nas eleições gerais de pessoas com pouca informação sobre o cenário político italiano.
O engenheiro paulistano Luiz Nocciolini, 39, compareceu ontem ao Circolo Italiano e votou em Romano Prodi para líder da Unione. Nocciolini foi à votação acompanhado do pai, da mãe e de suas irmãs e afirmou que não conhecia muito bem o ex-primeiro-ministro italiano nem estava informado sobre as recentes notícias do país.
"Participei porque fui ao Consulado Italiano para completar o processo para obter a cidadania italiana e lá me disseram que seria importante votar para exercer os meus direitos como cidadão italiano", afirmou o engenheiro paulista, que escolheu Romano Prodi por indicação do pai.
Segundo Sandro Benedetti Isidori, na América Latina existem 680 mil pessoas que têm direito a voto nas eleições italianas. "Mas, potencialmente, há 3 milhões de pessoas no continente que poderiam participar da votação", diz. A população da Itália é atualmente de 58 milhões.
Gian Battista Serra, representante no Brasil do SDI, afirma que a importância de residentes no exterior e descendentes terem representantes no Parlamento italiano está em conquistar benefícios no país em que vivem.
"A comunidade italiana é a única dentre as principais em São Paulo que não possui um hospital, isso é grave", afirma Serra. Ernani Nocciolini, 67, pai de Luiz, declarou que sua participação também estava relacionada a conquistar um benefício como esse.


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