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Firma brasileira pára apuração no Equador
Consórcio E-Vote, encarregado de transmitir dados, não entrega resultados no prazo e desaparece após governo romper contrato
Contrato de US$ 5,2 milhões previa entrega de resultado três horas após fechamento das urnas; empresa recebeu metade do pagamento
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO
Nem o esquerdista Rafael
Correa nem o megaempresário
Alvaro Noboa: a principal notícia de ontem na eleição equatoriana não saiu dos dois candidatos que passaram para o segundo turno na véspera mas do
consórcio brasileiro E-Vote,
que fracassou no compromisso
de entregar os resultados finais
horas depois do fechamento
das urnas e desapareceu sem
dar explicações, tumultuando o
ambiente político do país.
O consórcio E-Vote é formado pelas empresas Probank e a
Via Telecom, contratadas no
Brasil pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por cerca de
R$ 98 milhões para dar suporte
técnico na operação das urnas
eletrônicas e a transmissão dos
votos apurados nas eleições
deste ano (leia texto ao lado).
O fiasco do E-Vote foi o assunto do dia no Equador. Já pela manhã, o TSE equatoriano
anunciou o cancelamento do
contrato, que incluía o segundo
turno, em 26 de novembro, e
informou que estuda um processo judicial contra o consórcio por danos e prejuízos.
A confusão serviu também
para dar mais combustível a
Correa, que anteontem havia
dito que as pesquisas de boca-de-urna e a apuração foram
fraudadas "pelas oligarquias"
para lhe tirar a vitória no primeiro turno.
Seu partido, Alianza Pais, pediu ontem ao Ministério Público a prisão do representante da
empresa brasileira no país,
Santiago Murray. De acordo
com a denúncia de Correa, a
empresa publicou "resultados
parciais que têm induzido a
opinião pública ao erro para
justificar um suposto triunfo
do do senhor Alvaro Noboa, o
que não corresponde à verdade
do voto expressado pelo povo
equatoriano".
Na imprensa, a atuação do E-Vote foi duramente criticada,
sobretudo diante da falta de explicações do consórcio -que só
se manifestou no fim da tarde,
em uma entrevista coletiva
(leia texto nesta página). Durante o dia, o escritório, montado no luxuoso hotel Swissotel,
estava desocupado. Por volta
do meio-dia, a empresa equatoriana que alugara os computadores para o E-Vote começou a
desmontar a parafernália.
A irritação foi tanta que a rádio local "La Luna" chegou a
pedir que seus ouvintes fossem
ao aeroporto para impedir a
"fuga" dos representantes.
Colapso
O problema começou por
volta das 20h locais do domingo (22h Brasília), quando o sistema de transmissão de dados
colapsou com a apuração presidencial em 70,59% e a legislativa no zero.
Pelo contrato de US$ 5,2 milhões, o E-Vote teria de entregar a apuração presidencial
exatamente nesse horário
-três horas depois do fechamento das urnas, às 17h. Já a
eleição parlamentar deveria ter
sido entregue às 22h.
A empresa foi contratada para fazer a chamada contagem
rápida, em paralelo à apuração
oficial, realizada de forma bem
mais lenta.
Segundo o Jorge Valdospinos, porta-voz do TSE, os resultados finais para presidente serão conhecidos amanhã, mas
não há previsão para conhecer
os cem deputados eleitos anteontem. "A lei diz que o resultado deve sair em, no máximo,
dez dias, mas há muitas contingências, não podemos dizer
quando ficará pronto", disse à
Folha, por telefone.
De acordo com Valdospinos,
o TSE havia pago 50% do valor
do contrato à empresa (US$ 2,6
milhões). A segunda parte seria
paga depois do segundo turno.
O porta-voz disse que, pelo
contrato, a empresa terá de devolver o dinheiro por não ter
cumprido o estabelecido.
Valdospinos afirmou que o
principal prejuízo é o de credibilidade. "Foi criada uma série
de problemas políticos. Por
causa dessa falha da empresa, o
TSE está sendo acusado de
fraude, apesar de os observadores internacionais terem dito
que não houve problema. A
única coisa que falhou foi essa
empresa."
Apesar da apuração parcial,
Noboa (26,66%), considerado o
homem mais rico do país, e
Correa (22,51%), aliado do venezuelano Hugo Chávez já estão matematicamente no segundo turno. Com isso, haverá
ainda mais seis semanas de
campanha presidencial.
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