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Polarizada, eleição para CS da ONU empaca
Seth Wenig/Associated Press
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O embaixador venezuelano, Francisco Árias, vota: "Estamos competindo com a maior potência" |
Após dez votações, Assembléia Geral adia para hoje a escolha do ocupante de assento não-permanente no conselho
Disputa é entre a Venezuela de Chávez e a Guatemala, apoiada pelos EUA; para embaixador americano, processo está "no começo"
DA REDAÇÃO
Após pelo menos oito horas e
dez rodadas de votação, a Assembléia Geral da ONU não
conseguiu eleger ontem o país
que ocupará o assento reservado para América Latina e Caribe entre os dez membros não-permanentes do Conselho de
Segurança. A votação será retomada hoje.
O impasse foi provocado pela
alta polarização que acabou por
transformar cada voto em um
veredicto pró ou anti-Washington, a depender do candidato
escolhido: ou a Guatemala, oficialmente apoiada pelo governo americano, ou a Venezuela
do presidente Hugo Chávez.
Para Chávez, que tornou a
candidatura ao CS um dos eixos
de sua política externa, o resultado até agora é um golpe na
sua ambição de consolidar-se
como um interlocutor global.
Mesmo sua América Latina
-região em que, aliás, o venezuelano colecionou atritos-
votou dividida.
A Guatemala saiu vencedora
em oito das nove votações, mas
em nenhuma delas obteve a
maioria de dois terços dos 192
votos necessária para a eleição.
Apenas na sexta houve empate
(93 votos).
A votação dos dois adversários oscilou a cada rodada. Na
última, a Venezuela obteve 77
votos, contra 110 da Guatemala.
Houve cinco abstenções. O voto é secreto.
A partir da quarta rodada, a
eleição foi aberta aos demais
membros da Assembléia Geral.
México, Cuba, Costa Rica, Uruguai e Panamá foram mencionados como possíveis candidatos, mas só os dois primeiros
receberam um voto cada, na sétima rodada.
"Só o começo"
"Acho que está bastante claro
que há um candidato com forte
predominância de votos", disse
o embaixador americano na
ONU, John Bolton, após a
quarta votação. Porém, ele descartou uma decisão rápida: "Isso é só o começo".
Já o embaixador venezuelano, Francisco Javier Árias Cárdenas, acusou os EUA de transformar a votação em uma competição entre Washington e Caracas, e disse que os votos a favor da Venezuela eram "votos
de consciência" em prol dos
países em desenvolvimento.
"Não estamos competindo
com um país irmão. Estamos
competindo com a maior potência do planeta", disse.
Nos últimos meses, o presidente Chávez empreendeu
uma agressiva ofensiva diplomática, baseada na troca de
apoio à sua candidatura por
acordos milionários no setor
petroleiro em países como China, Rússia, Angola e Irã.
A ofensiva parece ter dado
certo: China, Rússia, Irã e os
países da Liga Árabe e da União
dos Estados Africanos votaram
na Venezuela, segundo o diário
venezuelano "El Universal".
Porém diplomatas avaliam
que o país foi prejudicado pelo
discurso feito por Chávez na
61ª Assembléia Geral da ONU,
em setembro passado. Na ocasião, o venezuelano chamou o
presidente George W. Bush de
"diabo" e disse que a ONU era
"antidemocrática" e "inútil".
"Muitos acharam que foi de
muito mal gosto", disse o embaixador da Tanzânia, Augustine Mahiga.
Por outro lado, os diplomatas
avaliam que, se os EUA não tivessem apoiado a Guatemala
tão acintosamente, o pequeno
país centro-americano poderia
ter sido mais facilmente eleito.
Por falta de consenso, o Grupo América Latina e Caribe, da
ONU, não endossou nenhuma
das candidaturas.
Seguindo a regra interna do
bloco, os países do Mercosul
-Argentina, Brasil, Paraguai e
Uruguai- votaram na Venezuela, bem como a Bolívia e os
caribenhos. Já o Chile e o Equador se abstiveram, enquanto a
Colômbia e o México alinharam-se a seu principal parceiro
regional, os EUA, votando pela
Guatemala -que também teve
apoio da América Central.
Com agências internacionais
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