São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Polarizada, eleição para CS da ONU empaca

Seth Wenig/Associated Press
O embaixador venezuelano, Francisco Árias, vota: "Estamos competindo com a maior potência"


Após dez votações, Assembléia Geral adia para hoje a escolha do ocupante de assento não-permanente no conselho

Disputa é entre a Venezuela de Chávez e a Guatemala, apoiada pelos EUA; para embaixador americano, processo está "no começo"

DA REDAÇÃO

Após pelo menos oito horas e dez rodadas de votação, a Assembléia Geral da ONU não conseguiu eleger ontem o país que ocupará o assento reservado para América Latina e Caribe entre os dez membros não-permanentes do Conselho de Segurança. A votação será retomada hoje.
O impasse foi provocado pela alta polarização que acabou por transformar cada voto em um veredicto pró ou anti-Washington, a depender do candidato escolhido: ou a Guatemala, oficialmente apoiada pelo governo americano, ou a Venezuela do presidente Hugo Chávez.
Para Chávez, que tornou a candidatura ao CS um dos eixos de sua política externa, o resultado até agora é um golpe na sua ambição de consolidar-se como um interlocutor global. Mesmo sua América Latina -região em que, aliás, o venezuelano colecionou atritos- votou dividida.
A Guatemala saiu vencedora em oito das nove votações, mas em nenhuma delas obteve a maioria de dois terços dos 192 votos necessária para a eleição. Apenas na sexta houve empate (93 votos).
A votação dos dois adversários oscilou a cada rodada. Na última, a Venezuela obteve 77 votos, contra 110 da Guatemala. Houve cinco abstenções. O voto é secreto.
A partir da quarta rodada, a eleição foi aberta aos demais membros da Assembléia Geral. México, Cuba, Costa Rica, Uruguai e Panamá foram mencionados como possíveis candidatos, mas só os dois primeiros receberam um voto cada, na sétima rodada.

"Só o começo"
"Acho que está bastante claro que há um candidato com forte predominância de votos", disse o embaixador americano na ONU, John Bolton, após a quarta votação. Porém, ele descartou uma decisão rápida: "Isso é só o começo".
Já o embaixador venezuelano, Francisco Javier Árias Cárdenas, acusou os EUA de transformar a votação em uma competição entre Washington e Caracas, e disse que os votos a favor da Venezuela eram "votos de consciência" em prol dos países em desenvolvimento.
"Não estamos competindo com um país irmão. Estamos competindo com a maior potência do planeta", disse.
Nos últimos meses, o presidente Chávez empreendeu uma agressiva ofensiva diplomática, baseada na troca de apoio à sua candidatura por acordos milionários no setor petroleiro em países como China, Rússia, Angola e Irã.
A ofensiva parece ter dado certo: China, Rússia, Irã e os países da Liga Árabe e da União dos Estados Africanos votaram na Venezuela, segundo o diário venezuelano "El Universal".
Porém diplomatas avaliam que o país foi prejudicado pelo discurso feito por Chávez na 61ª Assembléia Geral da ONU, em setembro passado. Na ocasião, o venezuelano chamou o presidente George W. Bush de "diabo" e disse que a ONU era "antidemocrática" e "inútil".
"Muitos acharam que foi de muito mal gosto", disse o embaixador da Tanzânia, Augustine Mahiga.
Por outro lado, os diplomatas avaliam que, se os EUA não tivessem apoiado a Guatemala tão acintosamente, o pequeno país centro-americano poderia ter sido mais facilmente eleito.
Por falta de consenso, o Grupo América Latina e Caribe, da ONU, não endossou nenhuma das candidaturas.
Seguindo a regra interna do bloco, os países do Mercosul -Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai- votaram na Venezuela, bem como a Bolívia e os caribenhos. Já o Chile e o Equador se abstiveram, enquanto a Colômbia e o México alinharam-se a seu principal parceiro regional, os EUA, votando pela Guatemala -que também teve apoio da América Central.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Ex-presidente surpreende e revela força eleitoral ao lançar irmão
Próximo Texto: Saiba mais: Votação em 1979 levou três meses
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.