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Hillary considera ação militar contra Irã
Em artigo, pré-candidata democrata diz que "todas as opções estão na mesa", mas exalta multilateralismo e diplomacia
Senadora diz que, se eleita presidente, deve começar a retirar tropas do Iraque 60 dias após posse; relação com Rússia e China ganham peso
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Ao delinear a política externa
que adotará caso vença a disputa pela Casa Branca em 2008, a
senadora e pré-candidata democrata Hillary Clinton deixou
uma mensagem clara: "todas as
opções estão na mesa" para lidar com o Irã. A frase, que abre
as portas para a ação militar, é a
mesma usada pelo governo do
atual presidente, George W.
Bush, apesar de toda a retórica
crítica à atuação republicana.
O artigo que desenha as políticas da ex-primeira-dama será
publicado na edição de novembro da influente revista "Foreign Affairs". Apesar da ameaça ao Irã, a favorita para representar os democratas descreve
um eventual governo seu que
aposta no multilateralismo e na
diplomacia. No papel, seus planos vão na direção oposta da
"doutrina Bush": unilateralismo, ataques preventivos e promoção de mudanças de regime.
Em um tema caro a seus eleitores, Hillary promete começar
a retirada americana do Iraque
60 dias após assumir o poder. A
idéia da democrata, que ecoa
recente recomendação dos Fuzileiros Navais americanos, é
aumentar as tropas no Afeganistão, "a fronteira esquecida
na guerra contra o terror".
Já a disputa entre os EUA e o
Irã se concentra no programa
nuclear de Teerã -que os americanos temem visar uma bomba e o governo iraniano diz que
pretende produzir energia.
Para o ex-funcionário da CIA
e especialista em Irã do Instituto Brookings (EUA) Bruce Riedel, apesar do tom diplomático,
o artigo de Hillary não esconde
que ela "é a mais beligerante
entre os pré-candidatos democratas". Riedel -que presta
consultoria tanto a Hillary como a seus maiores rivais no
partido, Barack Obama e John
Edwards- disse à Folha que as
"opções na mesa" sobre o Irã
não passam de "um clichê".
"Ela foi infeliz ao repetir isso
(...) Mas relutaria enormemente antes de entrar em outra
guerra no Oriente Médio", diz.
Apesar da recusa em rejeitar
a guerra com o Irã, Hillary usa
o tom diplomático ao abordar o
conflito no Iraque. Ao defender
a retirada das tropas americanas do país, ela propõe "substituir a força militar por uma nova iniciativa diplomática [para
estabilização] que inclua países
ao redor do mundo". Entre
eles, Irã e Síria -cujos governos Bush reluta em trazer à
mesa de negociação.
Para Walter Russell Mead,
membro sênior do Council on
Foreign Affairs, a meta da pré-candidata de começar a trazer
os soldados em 60 dias é viável.
"O governo Bush já fala em iniciar uma retirada em meados
de 2008, então esse prazo pode
não ser tão difícil de manter."
Rússia e China
No jogo de reequilíbrio de
forças, a senadora dá peso à relação com "uma Rússia ressurgente, cuja orientação futura é
incerta, e uma China em expansão rápida que deve ser integrada ao sistema internacional".
O tom para a Rússia é duro,
mas não inesperado. Riedel diz
que não só Hillary mas qualquer democrata será menos
simpático a Putin do que Bush.
Já o gigante asiático é visto
de forma pragmática. "Apesar
de discordarmos profundamente em temas como direitos
humanos, liberdade religiosa,
práticas trabalhistas e o Tibete,
há muito que EUA e China podem alcançar juntos", escreve.
"As relações EUA-China serão
as mais importantes do século."
A América Latina só recebe
um parágrafo em nove páginas.
Hillary diz que é preciso apoiar
as maiores democracias da região -México e Brasil- mas
não especifica ações.
NA INTERNET - Leia o artigo
www.folha.com.br/072891
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