São Paulo, quarta-feira, 17 de outubro de 2007

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Hillary considera ação militar contra Irã

Em artigo, pré-candidata democrata diz que "todas as opções estão na mesa", mas exalta multilateralismo e diplomacia

Senadora diz que, se eleita presidente, deve começar a retirar tropas do Iraque 60 dias após posse; relação com Rússia e China ganham peso

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

Ao delinear a política externa que adotará caso vença a disputa pela Casa Branca em 2008, a senadora e pré-candidata democrata Hillary Clinton deixou uma mensagem clara: "todas as opções estão na mesa" para lidar com o Irã. A frase, que abre as portas para a ação militar, é a mesma usada pelo governo do atual presidente, George W. Bush, apesar de toda a retórica crítica à atuação republicana.
O artigo que desenha as políticas da ex-primeira-dama será publicado na edição de novembro da influente revista "Foreign Affairs". Apesar da ameaça ao Irã, a favorita para representar os democratas descreve um eventual governo seu que aposta no multilateralismo e na diplomacia. No papel, seus planos vão na direção oposta da "doutrina Bush": unilateralismo, ataques preventivos e promoção de mudanças de regime.
Em um tema caro a seus eleitores, Hillary promete começar a retirada americana do Iraque 60 dias após assumir o poder. A idéia da democrata, que ecoa recente recomendação dos Fuzileiros Navais americanos, é aumentar as tropas no Afeganistão, "a fronteira esquecida na guerra contra o terror".
Já a disputa entre os EUA e o Irã se concentra no programa nuclear de Teerã -que os americanos temem visar uma bomba e o governo iraniano diz que pretende produzir energia.
Para o ex-funcionário da CIA e especialista em Irã do Instituto Brookings (EUA) Bruce Riedel, apesar do tom diplomático, o artigo de Hillary não esconde que ela "é a mais beligerante entre os pré-candidatos democratas". Riedel -que presta consultoria tanto a Hillary como a seus maiores rivais no partido, Barack Obama e John Edwards- disse à Folha que as "opções na mesa" sobre o Irã não passam de "um clichê".
"Ela foi infeliz ao repetir isso (...) Mas relutaria enormemente antes de entrar em outra guerra no Oriente Médio", diz.
Apesar da recusa em rejeitar a guerra com o Irã, Hillary usa o tom diplomático ao abordar o conflito no Iraque. Ao defender a retirada das tropas americanas do país, ela propõe "substituir a força militar por uma nova iniciativa diplomática [para estabilização] que inclua países ao redor do mundo". Entre eles, Irã e Síria -cujos governos Bush reluta em trazer à mesa de negociação.
Para Walter Russell Mead, membro sênior do Council on Foreign Affairs, a meta da pré-candidata de começar a trazer os soldados em 60 dias é viável. "O governo Bush já fala em iniciar uma retirada em meados de 2008, então esse prazo pode não ser tão difícil de manter."

Rússia e China
No jogo de reequilíbrio de forças, a senadora dá peso à relação com "uma Rússia ressurgente, cuja orientação futura é incerta, e uma China em expansão rápida que deve ser integrada ao sistema internacional".
O tom para a Rússia é duro, mas não inesperado. Riedel diz que não só Hillary mas qualquer democrata será menos simpático a Putin do que Bush.
Já o gigante asiático é visto de forma pragmática. "Apesar de discordarmos profundamente em temas como direitos humanos, liberdade religiosa, práticas trabalhistas e o Tibete, há muito que EUA e China podem alcançar juntos", escreve. "As relações EUA-China serão as mais importantes do século."
A América Latina só recebe um parágrafo em nove páginas. Hillary diz que é preciso apoiar as maiores democracias da região -México e Brasil- mas não especifica ações.


NA INTERNET - Leia o artigo
www.folha.com.br/072891



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