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memória
Encanador já foi mito fugaz dos franceses
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Para enorme surpresa
dos bem-pensantes, o eleitorado francês rejeitou em
referendo, em maio de
2005, o tratado que dotaria a União Européia de
uma Constituição. Os partidários do "não" (54,7%)
foram em parte motivados
por um popularíssimo e
efêmero personagem: o
encanador polonês.
Ele foi indiretamente
gestado dentro da burocracia da UE, em Bruxelas,
pelo comissário holandês
Frits Bolkestein, autor de
um projeto de desregulamentação do setor de serviços dentro do bloco que
hoje reúne 27 países.
A chamada Diretriz Bolkestein -que numa versão
atenuada entrará em vigor
em janeiro de 2010- permite que, com a tabela de
remuneração de seu país
de origem, um médico espanhol trabalhe no Reino
Unido ou que um técnico
italiano conserte aparelhos de TV na Alemanha.
O semanário satírico
"Charlie Hebdo" afirmou
então que, dos 11 milhões
de técnicos em qualquer
tipo de conserto na França, 1 milhão corria o risco
de perder o emprego, com
a chegada, por remuneração depreciada, "de um arquiteto estoniano ou de
um encanador polonês".
Os partidários do "não"
no referendo (comunistas
e extrema-direita) imediatamente transformaram o
encanador no fantasma
assustador a ser abatido.
O Serviço de Turismo da
Polônia espalhou pela
França um cartaz em que
convidava os franceses a
visitarem o país. Nele aparecia o modelo Piotr
Adamski, musculoso e
vestido de encanador, um
sucesso, ao menos, na comunidade gay. Pela primeira vez o concorrente
estrangeiro no mercado de
trabalho estava concretamente caracterizado.
O projeto de Constituição foi enterrado em 1º de
junho de 2005, quando a
Holanda também o rejeitou em referendo.
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