São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2008

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memória

Encanador já foi mito fugaz dos franceses

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para enorme surpresa dos bem-pensantes, o eleitorado francês rejeitou em referendo, em maio de 2005, o tratado que dotaria a União Européia de uma Constituição. Os partidários do "não" (54,7%) foram em parte motivados por um popularíssimo e efêmero personagem: o encanador polonês.
Ele foi indiretamente gestado dentro da burocracia da UE, em Bruxelas, pelo comissário holandês Frits Bolkestein, autor de um projeto de desregulamentação do setor de serviços dentro do bloco que hoje reúne 27 países.
A chamada Diretriz Bolkestein -que numa versão atenuada entrará em vigor em janeiro de 2010- permite que, com a tabela de remuneração de seu país de origem, um médico espanhol trabalhe no Reino Unido ou que um técnico italiano conserte aparelhos de TV na Alemanha.
O semanário satírico "Charlie Hebdo" afirmou então que, dos 11 milhões de técnicos em qualquer tipo de conserto na França, 1 milhão corria o risco de perder o emprego, com a chegada, por remuneração depreciada, "de um arquiteto estoniano ou de um encanador polonês".
Os partidários do "não" no referendo (comunistas e extrema-direita) imediatamente transformaram o encanador no fantasma assustador a ser abatido.
O Serviço de Turismo da Polônia espalhou pela França um cartaz em que convidava os franceses a visitarem o país. Nele aparecia o modelo Piotr Adamski, musculoso e vestido de encanador, um sucesso, ao menos, na comunidade gay. Pela primeira vez o concorrente estrangeiro no mercado de trabalho estava concretamente caracterizado.
O projeto de Constituição foi enterrado em 1º de junho de 2005, quando a Holanda também o rejeitou em referendo.


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