São Paulo, sábado, 17 de novembro de 2007

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Sobe expectativa quanto ao Estado na AL

Estudo do Latinobarómetro mostra que crença no Estado para resolver todos os problemas sociais saltou nove pontos em dois anos

Levantamento radiografa região após eleições de 2006; preocupação com crimes cresce e encosta em medo de desemprego

LUCIANA COELHO
EDITORA-ADJUNTA DE MUNDO

Enquanto o apoio à democracia na América Latina encolheu ligeiramente desde o ano passado, cresceu na região a confiança no Estado para a resolução de todos os problemas da sociedade, mostrou o Estudo Latinobarómetro 2007. E, pela primeira vez desde o início do levantamento, em 1995, o crime aparece, junto ao desemprego, como a maior preocupação da região.
O estudo, divulgado ontem pela ONG chilena, abrange 18 países, onde foram feitas 20,2 mil entrevistas entre 7 de setembro e 9 de outubro últimos. Em todos os casos, a amostra representa 100% da população, e, grosso modo, a margem de erro das respostas -coletadas por institutos locais como Ibope, Mori e Gallup- é de 3% para cima ou para baixo.
O resultado é um amplo e consolidado retrato da percepção de democracia, Estado, economia e instituições na região após o ciclo eleitoral de 2006, quando 11 dos 18 países avaliados passaram por eleições presidenciais.
O estudo ainda mostra como andam as perspectivas para o futuro na região após a "guinada à esquerda" que se sedimentou com a ascensão ou reeleição de líderes esquerdistas na maioria dos países -embora, curiosamente, os dados apontem para uma corrida ao centro do espectro ideológico na região, ao invés de uma esquerdização do eleitorado.
A média regional, numa escala de 0 a 10, sendo 0 mais à esquerda, ficou em 5,3 pontos, 0,1 a menos do que em 2006. O Brasil teve 5,1 pontos, e a Venezuela, surpreendentemente, ficou mais à direita, com 5,3.
O país de Hugo Chávez, aliás, é o que registra a maior aprovação das privatizações da última década e meia: ali, 47% crêem que elas foram benéficas, contra uma média regional de 35%.
Maiores exportadores de petróleo da região -o barril do produto fechou ontem a US$ 95,10, após bater US$ 98,62 na semana passada- os venezuelanos também são os mais otimistas quanto ao futuro financeiro: 60% acham que a situação econômica do país melhorará nos próximos 12 meses, quase o dobro da média regional de 31%.
Nesse quesito, os venezuelanos estão muito à frente dos segundos no ranking, os uruguaios, com 37%, dos bolivianos, com 36%, e dos brasileiros, com 35%. Os mais insatisfeitos (como ocorre na maioria dos pontos levantados) são os paraguaios, dos quais só 16% estão esperançosos. Junto dos colombianos, os venezuelanos também têm as melhores expectativas para a situação econômica familiar no próximo ano: 61% esperam melhora. Um ponto abaixo, estamos os brasileiros.

Bolivarianismo
Embora o eleitorado não tenha pendido à esquerda, a retórica bolivariana de Chávez e de do aliado Evo Morales, na Bolívia, se mostra eficaz. Os dois países lideram a escala de satisfação com a distribuição de renda, com 55% e 30% de sua população, respectivamente, considerando-a justa. A média regional é de 21%, e o Brasil aparece lá embaixo, com 13% (Argentina e Chile vêm com 10%; Peru, 8%; Paraguai, 6%).
Os venezuelanos são também os que mais querem um Estado protetor: 67% crêem que este seja capaz de resolver todos os problemas da sociedade, seguidos pelos dominicanos (65%), contra uma média de 38%. Desta vez, os bolivianos ficam longe, com 29%, e o Brasil, pouco acima da média (40%).
A melhora da situação econômica na maioria dos países também reduziu, um pouquinho, a preocupação com o desemprego. Ele segue sendo o problema principal para 18% dos entrevistados na região, mas a criminalidade encosta nesse índice, com 17%. Em países como Venezuela (46%), Guatemala (38%), Chile (30%), Argentina (25%) e Brasil (17%), a preocupação com o crime é a maior.


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