São Paulo, terça-feira, 17 de novembro de 2009

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Na China, Obama critica censura à internet

Comentários, feitos em debate com estudantes em Xangai, foram filtrados por Pequim, que limitou transmissão de evento

Americano, no entanto, evita abordar repressão a ativistas, tema que poderia irritar chineses em meio à tensa discussão econômica


Saul Loeb/France Presse
Obama cumprimenta estudantes chineses após evento emque respondeu a perguntas da plateia em Xangai, primeira parada em sua visita de três dias à China

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O presidente americano Barack Obama criticou a censura contra a internet na China em encontro ontem à tarde com 200 universitários em Xangai.
No único evento aberto em sua visita de três dias, a primeira à China, ele disse não temer a ascensão do país asiático. "A China é bem-vinda como um membro forte e próspero na comunidade das nações", disse.
O governo americano queria mil estudantes na plateia e transmissão ao vivo para todo o país. Os membros da audiência mais enxuta foram escolhidos pelas autoridades chinesas, e as perguntas evitaram temas polêmicos.
Vários jovens presentes, de terno e gravata, são membros da Liga da Juventude Comunista, braço do partido.
O encontro foi transmitido apenas em Xangai, por um canal de televisão local, além do site da Casa Branca. Nele, Obama disse que "o fluxo livre de informação fortalece a sociedade" e que "quanto mais ideias houver, mais dinâmica fica a sociedade, é uma fonte de força que deve ser encorajada".
"Defendo a abertura e sou contra a censura, o que é uma tradição nos EUA", disse. A declaração ficou poucos minutos nos portais chineses, até ser substituída por declarações mais amenas. Centenas de blogs e sites como Facebook, Twitter e Youtube são bloqueados no país.
Apesar de apresentado como uma tentativa de Obama de chegar à opinião pública chinesa, o evento frustrou quem esperava um debate franco sobre a relação bilateral.
Na maior parte do tempo, os dois lados foram vagos. Estudantes perguntaram se ele levaria a família à Exposição Universal de Xangai, que acontece no ano que vem e o que ele estudou para se tornar um premiado com o Nobel da Paz.
Ao abordar os direitos humanos, Obama falou de opressão feminina e respeito à infância, temas que passam ao largo das denúncias concretas de repressão contra budistas no Tibete e muçulmanos em Xinjiang e contra dissidentes políticos em todo o país. Dezenas de ativistas e religiosos estão em prisão domiciliar durante a visita do líder americano para evitar protestos.

100 mil estudantes
Obama também anunciou que os EUA aumentarão para 100 mil o número de estudantes americanos na China para aprender o idioma e a cultura.
"Os jovens são nossos melhores embaixadores", afirmou ele, sem dizer se patrocinará um novo programa de bolsas. Atualmente, são 20 mil americanos estudando no país.
À tarde, ele voou para Pequim, onde jantou com o presidente chinês, Hu Jintao. Hoje ele se encontra novamente com Hu e com o primeiro-ministro Wen Jiabao e deve discutir o desequilíbrio econômico entre as duas nações, sanções aos programas nucleares de Coreia do Norte e Irã -aliados chineses- e o combate ao aquecimento global.
A China é o maior credor dos EUA, com US$ 1,4 trilhão em moeda e títulos do Tesouro americano. O comércio bilateral entre os dois países supera os US$ 400 bilhões por ano - a China tem superavit de US$ 275 bilhões com os americanos.
Obama deve reclamar do câmbio artificial do yuan, a moeda chinesa, "congelada" desde agosto do ano passado, o que distorce seu valor real no comércio exterior. Já os chineses acusam os americanos de protecionismo.
Fragilizado por sua enorme dívida com a China, acredita-se que o presidente evitará críticas à situação de direitos humanos. À tarde, Obama visitará a Grande Muralha, a 70 km de Pequim.


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