São Paulo, terça-feira, 17 de novembro de 2009

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Resolução elevará pressão sobre líderes de Israel, diz analista

Egípcio crê que documento aprovado na ONU provocará reações mesmo que seja vetado no Conselho de Segurança

Para Mustapha Al Sayyid, relatório Goldstone levará grupos de direitos humanos a processar, pela ação em Gaza, políticos israelenses


PAULA ADAMO IDOETA
DA REDAÇÃO

Mesmo que o caso seja vetado no Conselho de Segurança (CS) da ONU, a recente resolução contra Israel aumentou a pressão sobre líderes do país, para que respondam pela ofensiva da virada do ano na faixa de Gaza. O diagnóstico é do egípcio Mustapha Al Sayyid, professor de ciências políticas da Universidade do Cairo e ligado ao centro americano Carnegie Endowment for International Peace. Crítico às posições israelenses, Sayyid esteve em São Paulo na semana passada, quando falou à Folha.
A resolução, de 5 de novembro, pede à ONU o envio ao CS do relatório do juiz sul-africano Richard Goldstone -que acusa Israel e o grupo islâmico Hamas de crimes de guerra em Gaza- caso as acusações não sejam investigadas.

 

FOLHA - Israel rechaçou a recente resolução da ONU. A resolução terá desdobramentos?
MUSTAPHA AL SAYYID
- Há muitas resoluções que foram ignoradas. No entanto, acho que a recente resolução é diferente porque deu a grupos em diversos países o argumento de pedir a prisão de militares e políticos envolvidos na ofensiva em Gaza. Recentemente, o ministro da Defesa [de Israel, Ehud Barak,] visitou o Reino Unido, e defensores dos direitos humanos pediram sua prisão [um advogado quer usar o princípio da justiça universal para processar políticos de Israel na Justiça britânica]. É a primeira vez que líderes israelenses podem ter de pagar pela ação em Gaza.

FOLHA - Mas se a resolução for ao Conselho de Segurança da ONU, provavelmente será vetada pelos EUA, aliados de Israel.
SAYYID
- Duvido que o veto do CS detenha organizações de direitos humanos e juízes em todo o mundo de pedir um julgamento dos envolvidos na ofensiva em Gaza, mesmo que em cortes nacionais. [Goldstone] é um juiz respeitado e judeu, que, por isso, não pode ser acusado de antissemita. E seu relatório também apontou crimes do Hamas contra civis israelenses, ou seja, não destacou só Israel.

FOLHA - Em resolução prévia que afetava Israel, em 16 de outubro, o Brasil votou a favor, mas se opôs a levar o caso ao CS, para não desestabilizar as negociações de paz na região. O que acha dessa posição?
SAYYID
- O governo brasileiro tentou balancear muitas considerações e provavelmente não queria antagonizar com Israel. Mas falar de negociações de paz na região é como uma piada ruim. Israel fala em negociar, mas continua a expandir assentamentos [na Cisjordânia]. A negociação é para Israel ganhar tempo e consolidar a ocupação da Cisjordânia e o cerco a Gaza.

FOLHA - Mahmoud Abbas [líder palestino] anunciou que não concorrerá na próxima eleição. Que efeito terá nas negociações de paz?
SAYYID
- Não há negociações de paz. Então isso não muda muito. Mas acho que a declaração [de Abbas] visa pressionar o governo americano a pedir o congelamento das colônias israelenses. Abbas buscando ou não a reeleição, a continuidade dos assentamentos e a passividade americana farão com que a situação continue a piorar.

FOLHA - Quanto a Irã e Israel e à vinda de seus líderes ao Brasil, que papel o país pode ter em aliviar as tensões bilaterais?
SAYYID
- O abismo é tão grande que acho difícil que qualquer país consiga convencer o Irã a aceitar as condições [do Ocidente para enriquecer urânio no exterior]. Mas a posição iraniana é compatível com a lei internacional, de produção nuclear para fins pacíficos. O melhor jeito de se livrar das armas atômicas no Oriente Médio seria bani-las em todos os países, inclusive Israel.


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