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Resolução elevará pressão sobre líderes de Israel, diz analista
Egípcio crê que documento aprovado na ONU provocará reações mesmo que seja vetado no Conselho de Segurança
Para Mustapha Al Sayyid, relatório Goldstone levará grupos de direitos humanos a processar, pela ação em Gaza, políticos israelenses
PAULA ADAMO IDOETA
DA REDAÇÃO
Mesmo que o caso seja vetado no Conselho de Segurança
(CS) da ONU, a recente resolução contra Israel aumentou a
pressão sobre líderes do país,
para que respondam pela ofensiva da virada do ano na faixa de
Gaza. O diagnóstico é do egípcio Mustapha Al Sayyid, professor de ciências políticas da Universidade do Cairo e ligado ao
centro americano Carnegie Endowment for International
Peace. Crítico às posições israelenses, Sayyid esteve em São
Paulo na semana passada,
quando falou à Folha.
A resolução, de 5 de novembro, pede à ONU o envio ao CS
do relatório do juiz sul-africano Richard Goldstone -que
acusa Israel e o grupo islâmico
Hamas de crimes de guerra em
Gaza- caso as acusações não
sejam investigadas.
FOLHA - Israel rechaçou a recente
resolução da ONU. A resolução terá
desdobramentos?
MUSTAPHA AL SAYYID - Há muitas
resoluções que foram ignoradas. No entanto, acho que a recente resolução é diferente
porque deu a grupos em diversos países o argumento de pedir a prisão de militares e políticos envolvidos na ofensiva em
Gaza. Recentemente, o ministro da Defesa [de Israel, Ehud
Barak,] visitou o Reino Unido, e
defensores dos direitos humanos pediram sua prisão [um advogado quer usar o princípio da
justiça universal para processar políticos de Israel na Justiça britânica]. É a primeira vez
que líderes israelenses podem
ter de pagar pela ação em Gaza.
FOLHA - Mas se a resolução for ao
Conselho de Segurança da ONU,
provavelmente será vetada pelos
EUA, aliados de Israel.
SAYYID - Duvido que o veto do
CS detenha organizações de direitos humanos e juízes em todo o mundo de pedir um julgamento dos envolvidos na ofensiva em Gaza, mesmo que em
cortes nacionais. [Goldstone] é
um juiz respeitado e judeu, que,
por isso, não pode ser acusado
de antissemita. E seu relatório
também apontou crimes do
Hamas contra civis israelenses,
ou seja, não destacou só Israel.
FOLHA - Em resolução prévia que
afetava Israel, em 16 de outubro, o
Brasil votou a favor, mas se opôs a
levar o caso ao CS, para não desestabilizar as negociações de paz na região. O que acha dessa posição?
SAYYID - O governo brasileiro
tentou balancear muitas considerações e provavelmente não
queria antagonizar com Israel.
Mas falar de negociações de paz
na região é como uma piada
ruim. Israel fala em negociar,
mas continua a expandir assentamentos [na Cisjordânia]. A
negociação é para Israel ganhar
tempo e consolidar a ocupação
da Cisjordânia e o cerco a Gaza.
FOLHA - Mahmoud Abbas [líder
palestino] anunciou que não concorrerá na próxima eleição. Que
efeito terá nas negociações de paz?
SAYYID - Não há negociações de
paz. Então isso não muda muito. Mas acho que a declaração
[de Abbas] visa pressionar o governo americano a pedir o congelamento das colônias israelenses. Abbas buscando ou não
a reeleição, a continuidade dos
assentamentos e a passividade
americana farão com que a situação continue a piorar.
FOLHA - Quanto a Irã e Israel e à
vinda de seus líderes ao Brasil, que
papel o país pode ter em aliviar as
tensões bilaterais?
SAYYID - O abismo é tão grande
que acho difícil que qualquer
país consiga convencer o Irã a
aceitar as condições [do Ocidente para enriquecer urânio
no exterior]. Mas a posição iraniana é compatível com a lei internacional, de produção nuclear para fins pacíficos. O melhor jeito de se livrar das armas
atômicas no Oriente Médio seria bani-las em todos os países,
inclusive Israel.
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